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Política & Poder

Maia: se humor com governo continuar como está, será difícil votar tema polêmico

Maia voltou a alfinetar o ministro da Economia, dizendo que ele, nesta terça-feira, cobrou o encaminhamento de uma PEC que ele nem sabia qual era

Redação Jornal de Brasília

01/04/2020 12h06

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não poupou críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro, destacando que “se humor com o governo continuar como está”, haverá dificuldades em votar temas polêmicos. Em teleconferência promovida pelo Bradesco BBI, ele cobrou do governo soluções para setores, como o de shoppings e o aéreo. “O governo deveria ter pensado nas restrições e nas soluções.”

Maia voltou a alfinetar o ministro da Economia, Paulo Guedes, dizendo que ele, nesta terça-feira, cobrou o encaminhamento de uma PEC que ele nem sabia qual era. E falou que toda vez que cita o nome de um ministro com boa relação com o Parlamento, ele sai prejudicado no governo. “Ministros me pediram para não serem elogiados por mim em público”, ironizou.

Apesar de dizer que não iria elogiar ministros, Maia abriu uma exceção ao trabalho que vem sendo realizado pelo titular da pasta da Saúde, Henrique Mandetta. Em sua defesa, Maia disse que é preciso dar a ele a tranquilidade necessária para que execute o seu trabalho – incluindo a avaliação da redução do isolamento social.

A despeito das críticas e cobrança de medidas por parte do governo federal, o presidente da Câmara disse que a atual crise pode ser a oportunidade para o governo reconstruir a relação com o Parlamento. “O governo pode sair dessa de encaminhar ataques ao Parlamento nas redes sociais e pode ser a oportunidade para retomar relações com parte da sociedade também.”

Pressões do empresariado

Na avaliação do presidente da Câmara, há muita pressão do empresariado justamente porque falta essa previsibilidade por parte do governo federal. E não poupou também parte dos empresários que, no seu entender, começam a propor coisas que vão piorar ainda mais a situação do Brasil.

Segundo ele, o governo não tem apoio no Parlamento, mas as medidas de enfrentamento da atual crise têm o suporte de todos os partidos. Nessa linha, cobrou do Executivo o encaminhamento da suspensão de contratos de trabalho, entre hoje e amanhã. E garantiu que se o governo não encaminhar a proposta, o parlamento fará a sua própria. “Temos de resolver os temas mais importantes até sexta-feira. Com o macro resolvido essa semana, poderemos atacar questões mais pontuais.” E disse que com o período de isolamento, pode ser necessário que o Parlamento siga trabalhando sem o recesso de julho.

Maia afirmou também que vai chegar o momento em que todos devem dar sua contribuição, mas não agora, na fase aguda da crise, incluindo o setor privado. “Mas é hora de focar no Estado, aqueles que têm renda já estão fazendo separação em suas famílias, na base da sociedade, em comunidades. Isolamento não é tão simples, precisamos dar condições para todos seguirem orientações da OMS.”

Maia reitera críticas ao governo Bolsonaro e cobra rapidez em medidas

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aproveitou teleconferência organizada pelo Bradesco BBI, nesta quarta-feira, para mandar um recado claro ao governo: a aprovação rápida de medidas de combate à crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus não significa que o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, terão facilidade na tramitação de outras propostas que não estejam vinculadas ao curto prazo.

Perguntado na teleconferência para investidores se o estado emergencial em que vive o País forçou uma melhora nas relações entre Executivo e Legislativo, Maia foi taxativo. “A relação com governo não está azeitada, e isso não nos atrapalhará no curto prazo. O governo não tem apoio no Parlamento, mas as medidas contra a crise têm apoio de todos os partidos”, afirmou.

O presidente da Câmara ainda cobrou mais agilidade do governo no envio de medidas emergenciais e na operacionalização dos projetos que já foram aprovados pelo Congresso. Maia ironizou a cobrança feita na terça-feira por Guedes pela aprovação da chamada PEC do Orçamento de Guerra. Maia lembrou que a proposta não partiu da equipe econômica, mas, sim, do próprio Congresso. “Guedes ontem me cobrou encaminhar (para votação) PEC que ele nem sabe qual é”, rebateu.

Para Maia, o próprio Orçamento de Guerra permitirá que o governo tome “medidas heterodoxas”, ou seja, injetar mais recursos na economia, seja aumentando a renda mínima para os trabalhadores, seja aportando capital de giro nas empresas. Ele reclamou da resistência da equipe econômica em abrir ainda mais as torneiras do gasto emergencial. “Não é hora de discutir como financiar medidas. O Estado vai financiar e pronto”, definiu.

Na avaliação do presidente da Câmara, o governo precisa agir mais rapidamente para garantir “previsibilidade e conforto” para que trabalhadores e empresários possam cumprir as determinações de isolamento social da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Estou vendo muito anúncios de decisões do governo que não chegam a lugar nenhum”, criticou.

Comércio

Sem citar Bolsonaro, Maia disse que pressões pela reabertura do comércio por alguns executivos podem piorar ainda mais a situação do País frente à covid-19. “É preciso dar tranquilidade para o ministro da Saúde (Luiz Henrique Mandetta) avaliar a redução do isolamento”, completou.

Ainda assim, mais uma vez o presidente da Câmara apontou que a crise pode ser uma boa oportunidade para que o Executivo e o Congresso voltem a se entender. Novamente sem citar diretamente Bolsonaro, Maia voltou a pedir que cesse o apoio do entorno do presidente aos ataques ao Congresso nas redes sociais. “Essa crise pode ser a oportunidade para o governo retomar a relação também com parte da sociedade”, acrescentou.

Passada a emergência de saúde, Maia se comprometeu a continuar o trabalho pela aprovação das reformas. A reforma tributária, reforçou, andará independentemente da relação com o Executivo. Já a reestruturação das carreiras dos servidores ainda depende do envio de uma proposta pela equipe econômica.

“A reforma administrativa terá importância ainda maior após a crise”, disse Maia.

Estadão Conteúdo

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