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Política & Poder

Incertezas das eleições em meio à pandemia

Para cientista político, a covid-19 vai federalizar o debate nas cidades

Redação Jornal de Brasília

06/08/2020 6h14

Hylda Cavalcanti
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As eleições municipais deste ano tendem a ser mais federalizadas, em função da pandemia do novo coronavírus, com características que se assemelham em muitos aspectos às observadas nas décadas de 1940 e 1950, por conta do distanciamento dos candidatos, e realizadas mediante critérios singulares, que precisarão ser analisados com muita atenção nos próximos anos. Quem afirma isso é o cientista político e acadêmico Antonio Lavareda, que já participou de 91 campanhas políticas e é autor do livro intitulado “Emoções Ocultas, Estratégias Eleitorais”.

Em live realizada na noite de terça-feira (4) para o blog do jornalista Magno Martins, Lavareda afirmou que é preciso, para os cientistas e cidadãos como um todo, refletir sobre que características deverão surgir das urnas nestas eleições, assim como os perfis dos candidatos a serem eleitos.

“A sociedade logo vai se dar conta que terá eleições totalmente diferentes do que se tinha até então. O contato candidato-eleitor, as aglomerações dos comícios, não existirão”, destacou.

Debate nacional

Para Lavareda, embora tradicionalmente as eleições municipais não tenham muita influência na política nacional, desta vez será diferente. O debate acabará se dando muito mais em relação à pandemia, ao impacto da doença na vida das pessoas, do que sobre os demais problemas locais de cada cidade. Isso levará a um grau de nacionalização forte, replicando posicionamentos do governo federal ou contrário a eles. “Será inevitável esse processo, em meio à crise pela qual passamos. Vivemos um ambiente nacional inédito só comparável às eleições de 1988, no início da nova República”, destacou.

Ele lembrou que ingredientes importantes para o pleito estão sendo observados pela primeira vez, como reuniões pelos aplicativos de internet, chamadas e contatos diversos em redes sociais. A quantidade de informações sobre os candidatos pode até ser grande em muitos momentos, mas com o fim do contato físico ou da redução desse contato, a forma de realização das campanhas terá um novo perfil. Na avaliação de Lavareda, todas essas mudanças deverão se refletir nas urnas.

Democracia desafiada

Questionado sobre a possibilidade de haver um aumento ou retomada de casos de contaminação com a covid-19 no período da eleição, o que pode levar ao temor das pessoas de sair de casa para votar, o cientista político Antonio Lavareda disse não achar que isso venha a ser observado. Até mesmo, ressaltou, pelo fato de a campanha começar somente na segunda quinzena de setembro.

Mas afirmou considerar importante que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) trabalhe com esta possibilidade. E, também, que o TSE transmita informações suficientes para a população, de forma a possibilitar segurança na realização do pleito.

Perguntado se não achava que se, em vez das eleições municipais o momento fosse de renovação dos mandatos da Câmara e do Senado haveria um adiamento para 2021, Lavareda concordou. Mas acharia temeroso se isto acontecesse. “A democracia do Brasil, vez por outra, se vê desafiada por movimentos que se contrapõem à autonomia entre os poderes. E isso levou à avaliação de muitos políticos que não seria uma boa iniciativa”, afirmou.

O cientista político também fez um alerta para o fato de que “os candidatos devem ter responsabilidade para realizar as campanhas dentro das limitações que essas eleições exigem”.

Lavareda afirmou que as eleições de 2020, fora esses eleitores, terão um pouco de semelhança com pleitos observados nas décadas de 1940 e 1950 em que os candidatos nem sempre percorriam todos os locais onde estava o eleitorado. “Vamos regredir às eleições observadas naqueles tempos. Num contexto assim fica reduzida a taxa agregada de informação dos eleitores”, observou.

Ele disse ter preocupação grande com as fake news, o que definiu como “o papel deletério que essas notícias têm na vida democrática e nas eleições”.

“Os candidatos precisam ter uma grande responsabilidade com a veracidade das informações que transmitam sobre terceiros”, pregou.

De acordo com o cientista, “anonimato, possibilidade de escalonamento e robotização são a forma das fake news no mercado atualmente”.

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