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Política & Poder

Era Bolsonaro alimenta folia politizada durante o Carnaval

Arquivo Geral

18/02/2019 7h00

Atualizada 17/02/2019 22h37

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Francisco Dutra
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A novela da política brasileira embala o Carnaval com máscaras e marchinhas irreverentes sobre as desventuras dos donos do Poder. Nas últimas folias, a queda do PT, o escândalos da gestão de Michel Temer (MDB), a Lava Jato e os tropeços do governo Rollemberg (PSB) inspiraram os foliões em Brasília. Agora, em 2019, os ensaios carnavalescos preparam letras sarcásticas sobre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o governador Ibaneis Rocha (MDB).

Lei Mais: Carnaval: Pacotão esquenta marchinhas ácidas sobre Bolsonaro e Ibaneis

Máscaras de Bolsonaro, da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e do ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, personagem-chave na Lava Jato, começam a ser comercializadas. “Estou vendendo de 50 a 100 máscaras por dia. O pessoal está procurando mais Bolsonaro e Moro. Tem muita empresa comprando. Um empresário estava interessado em comprar 2 mil”, contou a vendedora de uma loja de fantasias no Taguacenter, em Taguatinga, Dariane Andrade, de 31 anos.

Segundo a vendedora, os foliões estão divididos. Parte está se preparando para pular o Carnaval para criticar e tirar um sarro bem-humorado. Outros querem elogiar e comemorar os primeiros passos do novo Governo Federal. Questionada sobre a ausência das máscaras do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT), comuns em outros carnavais, respondeu: “O Lula está preso. O dono não quis colocar, não. O Lula não dá”, brincou.

 

Dariane Andrade conta que as vendas das máscaras chega a ser de 50 a 100 por dia. Ela vê com bons olhos a caracterização das figuras emblemáticas no atual momento. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Gerente de um armarinho na Asa Sul, Marlucia Dionizio, 41 anos, lembra que todo ano parte dos foliões busca brincar com os políticos. “Está divertido. Existem dois lados. Então eles querem ser bastante sarcásticos com o outro lado”, explicou.

Um dos blocos de rua mais tradicionais da folia de Brasília, o Pacotão preparou marchinhas que pegam no pé de Bolsonaro e de Ibaneis. “Pacotão nasceu em 1977, para criticar os políticos”, comentou Cícero Ferreira Lopes, o Seu Cicinho, 78, membro-fundador do bloco.

“A marchinha é mais sincera, mais objetiva e, às vezes, mais inteligente. É uma forma do homem extravasar o seu conhecimento filosófico”, opinou Seu Cicinho. Para compor as letras deste ano não falta inspiração, seja dos laranjais, seja de eleitores brasilienses desenganados… E cadê o Queiroz?

Cicero Ferreira Lopes (Seu Cicinho) é um dos membros originais do bloco, desde 1977, ano da criação Seu Cicinho participa do carnaval compondo marchas. Conic. 16-02-2019. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília.

‘Por que não ir atrás do laranjal inteiro?’

Carnaval e política sempre rimaram. Segundo o antropólogo e especialista na cultura de Brasília Antônio Flávio Testa, desde os tempos do ex-presidente Getúlio Vargas, marchinhas e máscaras criticam e invertem o papel dos políticos. É deboche, desmistificação, zoeira. Para Testa, a farra do Carnaval deveria inspirar autoridades e órgãos de controle a buscar melhores práticas de fiscalização.

“A crise interna dos laranjas do PSL é um exemplo. Outros partidos têm seus laranjas. Por que ficar só na laranjinha? Por que não ir atrás do laranjal inteiro? Seria bom ver uma grande marchinha por uma devassa nos laranjais”, cutucou o especialista. Por esta e por outras, Testa é radicalmente contrário ao Fundo Partidário e o Fundo Eleitoral.

No DF, Testa também vê elementos para marchinhas sobre a gestão Ibaneis. “Olha, tem a história da Disney. O governador diz que ela poderia vir e logo depois a própria Disney negou. É o vai e vem da Disney”, disse. Para o estudioso, o PT de carnavais passados não terá destaque neste ano. Perdeu a estrela.

Ponto de Vista

O professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer ressalta que a paródia carnavalesca também pode ser positiva para os políticos. “Não deixa de ser uma certa promoção. Político gosta da frase: ‘Fale mal, mas fale de mim’. A máscara pode ser uma propaganda positiva, então Bolsonaro também ganha com isso”, explicou. Vale destacar que máscaras irreverentes não são uma exclusividade brasileira. Nos Estados Unidos, opositores usam máscaras para debochar do presidente Donald Trump. No caso do DF, apesar de parte dos eleitores se considerar “enganda” por Ibaneis, Fleischer vê com bons olhos os primeiros passos do novo Palácio do Buriti.

“(Ibaneis) está atacando os grandes problemas. Na Saúde, criou o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde. Os distritais não estavam muito a fim disso e alguns deles, parece, queriam manter uns carguinhos. Mas ele fez e isso pode ser bom. Na Educação, esse modelo militar supostamente poderá diminuir a violência dentro e fora das escolas. A Polícia Militar nos colégios pode ser um passo positivo, sim”, ponderou. Ou seja, na avaliação do especialista, o começo da gestão Ibaneis é positivo. “Parece que ele está sendo bem assessorado”, completou, lembrando que o governador é um estreante na política e não teve experiência com a gestão da máquina pública.

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.


Saiba Mais

Com a aproximação do Carnaval, fornecedores poderão produzir máscaras de novos personagens conforme a temperatura política subir.

Os preços das máscaras de Bolsonaro, da primeira-dama Michelle e de Sérgio Moro variam de R$ 5,90 à R$ 7,90.

Apesar do tom sarcástico, o o bloco de rua Pacotão não costuma ser palco de brigas.

Em carnavais passados, foliões brincaram com máscaras do Japonês da Federal, da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Michel Temer.

 

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