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Política & Poder

Eleição 2020 traz poucas mudanças ideológicas nas capitais

Das 25 capitais com eleição, em apenas 4 houve mudança significativa de posição ideológica entre o atual mandatário e o novo eleito

Redação Jornal de Brasília

01/12/2020 6h20

Daniel Mariani, Diana Yukari e Fábio Takahashi
São Paulo, SP

A eleição de 2018 nas capitais mostrou o fracasso dos candidatos mais extremos ideologicamente, seja à direita ou à esquerda. E poucas mudanças significativas se comparados os perfis do atuais prefeitos com os dos vencedores no domingo (29).

A análise tem como base o GPS Ideológico, ferramenta da Folha que monitora o debate político no Twitter.

As contas na rede social são posicionadas numa reta, do ponto mais à direita ao mais à esquerda, considerando o padrão dos seus seguidores (clique aqui para ver a reta completa).

Das 25 capitais com eleição, em apenas 4 houve mudança significativa de posição ideológica entre o atual mandatário e o novo eleito, todas com deslocamento para a esquerda.

A maior alteração ocorreu em Belém, onde Edmilson Rodrigues (PSOL) ocupará o posto do atual prefeito, Zenaldo Coutinho (PSDB).

O psolista é 34 pontos mais à esquerda que o tucano, numa escala que vai até 100. Ele ocupa posição próxima a do petista Fernando Haddad.

Edmilson venceu no segundo turno o delegado Eguchi (Patriota), que se dizia alinhado ao presidente Jair Bolsonaro.

No discurso de vitória, o candidato do PSOL adotou tom conciliador. “Respeitamos o adversário e os seus eleitores. Iremos governar respeitando a todos. Belém é uma cidade muito desigual, com problemas estruturais que exigem projetos de grande envergadura. Vamos precisar somar esforços.”

A segunda maior mudança ideológica, ainda de acordo com a ferramenta da Folha, ocorreu no Rio, onde Eduardo Paes (DEM) derrotou o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos).

Paes, que está próximo ao centro da reta, é 20 pontos mais à esquerda do que Crivella.

Houve deslocamento em direção à esquerda também no Recife, onde João Campos vai ocupar o lugar de Geraldo Júlio. Ambos são do PSB, mas o próximo mandatário é 15 pontos mais à esquerda que o colega.

Outra mudança significativa ocorrerá em Porto Alegre, onde Sebastião Melo (MDB) ocupará o posto de Nelson Marchezan (PSDB).

Uma capital que, em tese, poderia ser considerada como deslocamento à direita é Vitória, onde ganhou delegado Pazolini (Republicanos), que ocupará o posto de Luciano Rezende (PT).

Em junho, o delegado foi um dos deputados estaduais que entraram em um hospital na região metropolitana de Vitória, depois de o presidente Jair Bolsonaro incentivar as pessoas a filmarem oferta de leitos.

O delegado, porém, não possuía conta no Twitter à época da extração dos dados. Por isso, foi considerada a posição do seu partido na reta ideológica, que não apresentou grande diferença em relação ao atual prefeito (a reportagem considerou como deslocamento apenas as cidades onde a mudança superou 10 pontos, na escala até 100).

A metodologia utilizada capta como determinada conta é vista por seus seguidores. Quem fica muito à esquerda, por exemplo, não necessariamente pode ser um radical esquerdista, mas seu público o vê assim (pois tendem a seguir outras contas nesse espectro). Há grande correlação, porém, entre a posição da pessoa e seu discurso.

A pouca mudança considerando os perfis na ferramenta capta o grande número de reeleições nas capitais (9 em 21 das cidades).

Outro fenômeno encontrado foi que candidatos que estavam mais nos extremos da reta, seja à esquerda ou à direita, não foram eleitos.

Entre os 99 postulantes mais à direita na reta, nenhum venceu. A reportagem conseguiu dados de 315 candidatos de todas as capitais.

O 100º mais à direita, Marquinhos Trad (PSD), ganhou em Campo Grande.

O candidato de capital mais à direita na reta era Halpher Luiggi (PL), em Vitória. Ele possui 97 pontos na escala do GPS Ideológico (100 é ponto mais extremo nesse espectro).

Ele prometia escolas cívico-militares na cidade e dizia que segurança pública era o tema mais importante de seu programa. O candidato ficou em décimo lugar no primeiro turno, com 0,58% dos votos.

Na outra ponta, os quatro candidatos mais à esquerda não venceram. O quinto é o pessolista Edmilson, que ganhou em Belém.

Considerando os cem candidatos mais à esquerda, cinco venceram, contando com o ganhador da capital paraense.

O postulante mais à esquerda era a candidata Valeria Correia, do PSOL, em Maceió. Ela tem pontuação 1,43 (zero é o ponto mais à esquerda da reta).

A candidata defendia plano de carreira para os professores do ensino público e que o desenvolvimento econômico tem de andar junto com o desenvolvimento social. Ela ficou em quinto lugar no primeiro turno, com 4% dos votos.

Cientistas políticos têm afirmado que a marca da eleição deste ano é a da vitória dos partidos mais próximos ao centro, como PSD, PP e DEM, o que converge com a análise apresentada pelo GPS Ideológico.

É um movimento diferente que havia começado em 2016 e que se acentuou em 2018, com guinada forte à direita, embalado pela eleição do presidente Jair Bolsonaro e pelo enfraquecimento do maior partido da esquerda, o PT.

Analistas afirmam que o deslocamento à esquerda (em geral, derrota de políticos mais à direita e vitória de candidatos ao centro) pode ser explicado pela queda da popularidade de Bolsonaro.

Também é apontada uma tendência de ajuste no eleitorado, que foi muito para a direita em 2018.

METODOLOGIA

A posição dos influenciadores na reta ideológica é calculada a partir do perfil de 1,7 milhão de usuários do Twitter no Brasil, com interesse em política (foram excluídas contas que um modelo matemático classificou como possíveis robôs).

O modelo capta, por exemplo, que usuários que seguem o vereador Carlos Bolsonaro tendem a seguir também o jornalista Alexandre Garcia. Esses ficam próximos na reta.

Mas esses seguidores tendem a não seguir contas como a do petista Fernando Haddad e do cantor Emicida. Esses três ficam próximos na reta, mas distantes dos Bolsonaros e de Alexandre Garcia.

Autor do algoritmo que foi adaptado para o GPS Ideológico, o cientista político Pablo Barberá (Universidade do Sul da Califórnia e London School of Economics) afirma em seus trabalhos acadêmicos que, ao seguir uma pessoa, via de regra o usuário tem afinidade com esse perfil.

Isso porque a pessoa passará a visualizar mais tuítes desse usuário. E receber conteúdo de alguém sem afinidade é algo custoso, em termos de tempo e de atenção —por isso, tende a ser exceção.

As informações são da FolhaPress

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