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Política & Poder

Demitido por Regina Duarte diz que recebeu promessa de cantar na posse e ser ‘general’ da atriz

“Chegou no último minuto, aos 45 do segundo tempo, e ninguém foi convidado para a posse. Ficou um desencontro de informação. Aí caiu a ficha: ‘Alguma coisa vai acontecer”’

Redação Jornal de Brasília

10/03/2020 6h12

Representante da ala abertamente de direita, conservadora e seguidora do escritor Olavo de Carvalho, que foi demitida da Secretaria da Cultura por Regina Duarte, o músico Camilo Calandreli engrossou críticas à atriz. “Na minha visão, ela quer colocar esquerdistas lá dentro, pessoas engajadas politicamente”, afirmou Calandreli ao Estado, nesta segunda-feira, 9.

O músico contou que Regina lhe prometeu o status de “general” dela na Cultura, além de abrir o palco para uma cantoria na sua posse. “Chegou no último minuto, aos 45 do segundo tempo, e ninguém foi convidado para a posse. Ficou um desencontro de informação. Aí caiu a ficha: ‘Alguma coisa vai acontecer”’.

Calandreli disse não compreender como o presidente Jair Bolsonaro ainda mantém a atriz à frente da Cultura. “Ela está trocando todo mundo de uma vez só pelo antagonismo do presidente. A turma que riu da cara do presidente e aplaudiu quando ele foi esfaqueado está entrando na Cultura.”

Para o músico, o grupo demitido “não fazia parte” da turma de Regina e era fiel a Bolsonaro. “Todos nós somos de direita, conservadores, bolsonaristas. Não somos de facção, como ela falou. Somos pessoas honradas, com família. Caímos porque não fazemos parte da equipe dela.”

O ex-secretário lidava com a Lei Rouanet no governo. Ele afirma que uma “revolução” foi feita no programa em poucos meses e destaca níveis recordes de execução dos recursos. Segundo Calandreli, uma instrução normativa estava pronta para alterar regras da Rouanet para “inibir ideologia de gênero, pornografia para criança e politização exacerbada dentro da arte”.

Calandreli afirma que não irá se organizar, junto de outros conservadores, para tentar derrubar Regina do cargo, mas espera que ela saia. “Pelo bem do Brasil.”

O ex-secretário alivia críticas ao jornalista Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares que já relativizou a escravidão e disse existir um “racismo nutella” no Brasil. “No caso do Camargo, é o jeito de se expressar. Pessoas precisam ser respeitadas”, declarou.

Fora do governo, Calandreli afirma que avalia convites do Patriota, Podemos e Democratas para se candidatar às eleições municipais em Ribeirão Preto (SP), mas não detalha para qual cargo.

Quando ficou claro que seriam demitidos?

Nunca ficou claro. (Regina) Mentiu para caramba. Deu-se de fingida. Dissimulada. Chegou no último minuto, aos 45 do segundo tempo, e ninguém foi convidado para a posse. Ficou um desencontro de informação, aí caiu a ficha. ‘Alguma coisa vai acontecer.’ Mas isso já na tarde da terça-feira (a posse seria no dia seguinte).

Na sua leitura, qual foi o critério para demissão?

Todos nós somos de direita, conservadores, bolsonaristas. Não somos de facção, como ela falou. Somos pessoas honradas, com família. Caímos porque não fazemos parte da equipe dela. A visão de arte e cultura que ela tem não foi compatível com a nossa, senão ela teria nos mantido, como ela prometeu.

Por que o presidente mantém Regina Duarte na Cultura mesmo após as demissões de conservadores?

Olha, não dá para entender porque o presidente ainda segura a Regina Duarte, sendo que por muito menos outros ministros já foram exonerados. Não tenho noção do porquê de ela ainda estar lá.

Qual seria a visão de arte e cultura da nova secretária?

Essa visão que vem, antagônica a nossa, é a visão do mainstream. Quando ela fala de pacificação: pacificação com quem? Estava tudo pacificado. Com a Rede Globo? Com grandes empreendedores, grandes produtores, grandes players de São Paulo e Rio? Não. A gente resolveu insistir em quem realmente precisava. E ela bateu palma quando ouviu isso. Na minha visão, ela quer colocar esquerdistas lá dentro, pessoas engajadas politicamente.

Na sua leitura, então, a facção é ela quem está trazendo?

Olha, detesto falar nestes termos, mas quando você traz pessoas do Psol e do PT, essa turma toda do “ele não”, para nós isso representa uma facção. Com todo o respeito, a Regina Duarte ultrapassou todos os limites. Falando que a gente é facção de ativistas. Eu a conheci no caminhão do “Nas Ruas”. E ela convocou as pessoas para protesto dia 15. É no mínimo incoerente. Ela está trocando todo mundo de uma vez só pelo antagonismo do presidente. A turma que riu da cara do presidente e aplaudiu quando ele foi esfaqueado está entrando na Cultura. Enquanto aqueles que lutaram ao lado do presidente e choraram quando ele tomou a facada estão sendo enxotados da pasta da cultura.

O Sr. acha que o grupo que deixou o governo foi penalizado por declarações em redes sociais, pensamentos que não deram certo na prática?

O que a mídia perseguiu a gente, desde o dia da nossa nomeação até agora, é covarde.

Mas não há margem para autocrítica do grupo por declarações que talvez não fossem apropriadas?
Tudo isso foi resolvido internamente. A autocrítica acontece. Apaga o post, trata de outra forma… São opiniões e, a partir de agora, estamos no serviço público e não funciona assim, com base em opiniões.

O que acha sobre a permanência de Sérgio Camargo na Fundação Palmares?

É uma opção do presidente Bolsonaro. Não tenho de achar ou não achar. Respeito. O Sérgio Camargo tem muitos pontos positivos. O que ele estava programando para a Palmares realmente precisa ser ouvido e dar o tempo para ele executar.

Não há uma série de declarações dele que ultrapassou limites, assim como as de Roberto Alvim (ex-secretário de Cultura, demitido por parafrasear o nazista Joseph Goebbels), e que seria bom combater justamente para não cair o estigma sobre todo o grupo?

Eu não sou beligerante como eles. Não sou. Respeito o ponto de vista deles. Estão no direito de se expressar. Não cometeram nenhum crime. No caso do Alvim, vincular com nazismo, isso aí não vale, não pode em hipótese alguma. No caso do Camargo, é o jeito de se expressar. Pessoas precisam ser respeitadas.

Não tem de ser combatido de cara, por exemplo, ele relativizar a escravidão ou dizer que há um ‘racismo nutella’ no Brasil?

Ah, mas aí é contexto. Não vejo dessa forma, não. Eu não faria assim. Eu não me expresso dessa forma. Ele se expressa, ele que arque com as consequências. É o CPF dele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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