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Política & Poder

Deltan recebeu R$ 33 mil para palestrar em empresa citada na Lava Jato

Deltan, coordenador da força-tarefa, teria ainda gravado um vídeo em que falava dos produtos da empresa

Willian Matos

26/07/2019 8h25

Brazil’s prosecutor Deltan Dallagnol speaks during a news conference in Curitiba, Brazil September 14, 2016. Picture taken September 14, 2016. REUTERS/Rodolfo Buhrer

Willian Matos
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O procurador Deltan Dallagnol recebeu R$ 33 mil para dar palestra na Neoway, empresa do setor de tecnologia citada em acordo de delação na operação lava Jato. É o que mostram novas conversas vazadas, obtidas pelo site The Intercept Brasil e publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (26/7).

A Neoway foi citada dois anos antes da palestra (março de 2016), em documento da delação do lobista do MDB Jorge Luz. Ele teria afirmado, em uma conversa no aplicativo Telegram, que atuou em favor da Neoway em um projeto de tecnologia da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras. Os relatos aparecem em documento compartilhado entre os procuradores.

Deltan teria aproximado outros procuradores da Neoway com o objetivo de usar produtos da empresa nos trabalhos do grupo.

Em uma mensagem enviada a colegas em março do ano passado, dois anos após a Neoway ser citada, Deltan teria comemorado a futura participação na palestra: “Olhem que legal. Sexta vou dar palestra para a Neoway, do Jaime de Paula. Vejam a história dele”. Em seguida, enviou um link para os procuradores.

O coordenador da força-tarefa teria ainda gravado um vídeo em que falava dos produtos da empresa.

Alguns colegas do grupo incentivaram Deltan a marcar uma reunião com Jaime para negociar o uso de produtos da empresa para o Laboratório de Investigação Anticorrupção (Lina), projeto da procuradoria. “Exatamente. Isso em que estava no meu plano. Vou até citar ele na palestra para ver se sensibilizo. kkk”, respondeu o procurador.

Cerca de quatro meses após a palestra, Deltan teria dito a outros procuradores que havia descoberto a citação da empresa na Lava Jato. “Isso é um pepino para mim. É uma brecha que pode ser usada para me atacar (e a LV), porque dei palestra remunerada para a Neoway, que vende tecnologia para compliance e due diligence, jamais imaginando que poderia aparecer ou estaria em alguma delação sendo negociada”.

Ele também teria discutido com procuradores sobre o que faria se a citação fosse descoberta. Deltan cogitou dizer que não tinha conhecimento e não participou da negociação para a aquisição dos produtos.

Procurado, Dallagnol informou à Folha que não sabia da citação na Lava Jato antes da palestra. Disse, também, que não reconhece a autenticidade e a integridade das novas mensagens divulgadas. “O que posso afirmar, e é fato, é que eu participava de centenas de grupos de mensagens, assim como estou incluído em mais de mil processos da Lava Jato. Esse fato não me faz conhecer o teor de cada um desses processos.”

A Neoway negou ter usado o operador Jorge Luz para conseguir vantagens com a Petrobras e que a contratação de Deltan para a palestra foi feita com valores compatíveis com o mercado para a atividade. A empresa também garantiu que não prestou serviços ou forneceu produtos para a procuradoria.



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