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Política & Poder

Dados sobre áreas devastadas pelo fogo desmentem tese de Heleno sobre ‘fenômenos naturais’

Uma nota técnica divulgada em agosto pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), órgão que estuda a região há 25 anos, mostra que a concentração de focos de incêndio na Amazônia não acontece em áreas já desmatadas da região

Redação Jornal de Brasília

21/09/2020 16h24

A tentativa reiterada do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, de atribuir às queimadas da Amazônia e do Pantanal uma consequência de “fenômenos naturais” não encontra respaldo na realidade e nos dados científicos.

Uma nota técnica divulgada em agosto pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), órgão que estuda a região há 25 anos, mostra que a concentração de focos de incêndio na Amazônia não acontece em áreas já desmatadas da região. Segundo o levantamento, que foi realizado a partir de dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 30% do fogo registrado na Amazônia em 2019 foi incêndio florestal, ou seja, em área protegida. Outros 34% estão relacionados a desmatamentos recentes.

“Essa é a realidade. Basta ver que 34% do fogo em 2019 ocorreu em áreas recém desmatadas, sendo a grande maioria, desmate ilegal. Se não houve coibição pelo governo, então não houve efetividade no combate. E veja que 2019 nem foi um ano muito seco como este ano”, afirma Paulo Moutinho, doutor em ecologia e cientista sênior do Ipam.

Nesta segunda-feira, 21, em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a política ambiental do País, o ministro Augusto Heleno minimizou a alta nos números de desmatamento e queimadas, disse não haver “comprovação científica” de que há relação com a falta de ação do governo e atribuiu as críticas a uma tentativa de derrubar o presidente Jair Bolsonaro.

Heleno rebateu a afirmação de que há uma “inação” do governo em relação ao combate dos incêndios na Amazônia e no Pantanal, que registraram alta nos últimos meses, segundo dados oficiais do Inpe. “Tem a ver com fenômenos naturais, cuja ação humana é incapaz de impedir”, disse o ministro.

O próprio vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que preside o Conselho da Amazônia, desmente o argumento de Augusto Heleno, ao admitir, em Julho, que o governo demorou a agir para evitar o cenário catastrófico das ações de combate às queimadas e ao desmatamento.

Cobrado por investidores brasileiros e estrangeiros, Mourão admitiu que o governo Jair Bolsonaro demorou a tomar as medidas necessárias para combater o desmatamento na região amazônica. Segundo ele, as ações ocorreram com cerca de cinco meses de atraso. Mourão também considera que os índices de desmatamento na Amazônia Legal chegaram a um patamar inaceitável em 2019 e que este ano ainda não será melhor do que o anterior.

“Em termos de desmatamento, não será melhor (em 2020) do que no ano passado, posso dizer isso tranquilamente porque nós deveríamos ter começado o combate ao desmatamento em dezembro do ano passado ou, no mais tardar, em janeiro deste ano. Fomos começar em maio, o Conselho (da Amazônia) foi criado só em fevereiro”, disse o vice-presidente.

Para a assessora política do Instituto de Estudos Socioambientais (Inesc), Alessandra Cardoso, a redução das forças de fiscalização de órgãos como Ibama e Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) também é reflexo da incapacidade de controlar a situação. “A disputa dos militares pelo protagonismo da ação contra o desmatamento na Amazônia e a forte orientação de recursos orçamentários para a pasta da Defesa, em detrimento dos órgãos ambientais, configura não uma inação, mas uma inegavelmente ação de desmonte da política de clima e proteção da floresta hoje no Brasil”, diz.

As informações são do jornal o Estado de S. Paulo

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