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Política & Poder

Crise na saúde: grampos cancelam férias de promotor

Arquivo Geral

19/07/2016 6h38

Raphael Ribeiro/Cedoc

Francisco Dutra
João Paulo Mariano
Millena Lopes
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O titular da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde, Jairo Bisol, vai suspender as férias para voltar a Brasília e começar, já na próxima segunda-feira, ouvir as pessoas envolvidas nas gravações entregues pelo Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do DF (SindSaúde-DF) ao Ministério Público do DF. Já há uma investigação em curso no órgão e o promotor classifica como “gravíssimas” as denúncias.
“Não ouvi todos os áudios, porque estou de férias. Mas, pelo que já tomei conhecimento pela imprensa, acho que o que tem de grave são os personagens envolvidos e não conteúdo das falas”, observa Bisol, citando o vice-governador Renato Santana e o ex-secretário de Saúde, Fabio Gondim.

A suspensão das férias deve começar a contar da próxima semana. “Quando voltar, vou examinar os áudios em detalhes”, informa ele, que está em Porto Alegre (RS).

Desestabilização
A análise das gravações deve ser cuidadosa, conforme o promotor. “O conteúdo pode até envolver uma vontade política de desestabilizar o governo”, argumenta, observando que as acusações são genéricas e envolvem “um vice-governador que é inimigo político do governador, um secretário que foi exonerado e a presidente do sindicato, que é contrária ao governo em uma questão que eu também estou contrário: as Organizações Sociais”.

No primeiro áudio que foi divulgado pela revista IstoÉ, em reportagem de Ary Filgueiras, Renato Santana diz que tem conhecimento de uma cobrança de 10% de propina nos contratos da Secretaria da Fazenda. Ele foi gravado por Marli Rodrigues, presidente do Sindsaúde, que denuncia que, na Secretaria de Saúde, a cobrança de propina chegaria a 30%.
Governador decepcionado
Ontem, o governador Rodrigo Rollemberg se disse decepcionado com a postura de Renato Santana no áudio de quase uma hora e meia que foi divulgado. Ele disse que já solicitou ao vice-governador mais informações para tomar providências. “Ele manifesta claramente, na conversa, uma posição contrária à do governo. Eu devo confessar que fiquei decepcionado com o teor das gravações”, desabafa.
Rollemberg nega prevaricação e que, na única vez que o vice o comunicou de que estariam pedindo vantagens para liberar pagamentos na Secretaria de Fazenda, ele levou o caso adiante, mas não encontrou nem sequer registro de que o suposto servidor estaria lotado na pasta. “Chamei empresários da área e pedi que, se soubessem de servidor que pedisse algum tipo de auxilio, comunicassem formalmente ao governo para que tomássemos as devidas providências. E, li, dei o fato por encerrado”, disse.

Mais próximos convocados

Uma discreta reunião entre o núcleo duro político do governo foi realizada, na noite de ontem, na casa de Teresa Rollemberg, a mãe do governador. Dirigentes e políticos do PSB, PDT e da Rede foram ao apartamento 104 do Bloco E, na Quadra 206 da Asa Sul.
Na casa de Dona Teresa, foram discutidos os detalhes da estratégia de defesa do governo para as denúncias de que há um suposto esquema de cobrança de propina no governo. Aos mais próximos, Rodrigo Rollemberg tem repetido que trata-se de uma “conspiração” a divulgação de áudios que dão conta das propinas.
O governador teme que os áudios causem um desgaste sem volta à gestão dele. E que, quem sabe, culmine na queda do chefe do Executivo. Exemplo já tem do afastamento da presidente Dilma Rousseff do poder, que deve passar a permanente já nos próximos dias.
blindagem
Deputados – como Roosevelt Vilela (PSB), Luzia de Paula (PSB), Juarezão (PSB), Chico Leite (Rede), Claudio Abrantes (Rede) e Reginaldo Veras (PDT) – foram convocados para fazer uma blindagem do governo. E já saíram em defesa de Rollemberg.
“Eu confio no Rodrigo”, disse Veras, pouco antes de confirmar presença na reunião na casa de dona Teresa.
O secretário de Mobilidade e presidente afastado do PSB-DF, Marcos Dantas, foi um dos que atenderam ao chamado de Rollemberg.

Deputados querem explicações

Diante da gravidade da denúncia de pagamento de suposta propina nos contratos entre as secretarias de Fazenda e Saúde, a Câmara Legislativa decidiu suspender o recesso de julho. A Casa precisa estar aberta para que a CPI da Saúde possa investigar o escândalo. Os deputados decidiram chamar inicialmente para esclarecimentos dois personagens-chave nas gravações detonadoras da polêmica: o vice-governador e a presidente do SindSaúde-DF).

O escândalo explodiu justamente no momento estratégico para a política local. O Governo do DF, Câmara e servidores públicos fazem um debate acalorado sobre a contratação ou não de Organizações Sociais para gestão de serviços da saúde.

Em função deste cenário, oposição e situação se mobilizaram. A maior parte dos integrantes da CPI é da base. A estratégia governista será desidratar a comissão para blindar Rollemberg. O enfraquecimento poderá ser feito de várias formas, desde a adoção de um ritmo lento dos trabalhos até faltas. Do outro lado, a oposição buscará elementos para manter a polêmica aquecida.
Quanto mais intensos forem os desdobramentos, maior será o desgaste para o Palácio do Buriti. Obviamente, se algum dos lados exagerar na dose dos movimentos, estará sujeito à críticas da opinião pública.
Retomada
A CPI retomará os trabalhos oficialmente hoje. Em princípio, os distritais planejam convocar Marli Rodrigues para depor. Em relação ao vice-governador, a comissão fará um convite. Os parlamentares devem convocar futuramente outros nomes citados e até gravados, a exemplos do ex-secretário Fábio Gondim, do subsecretário de Logística e Infraestrutura, Marcello Nobrega, e do ex-diretor do Fundo de Saúde do DF, Ricardo Cardoso.
Conforme o desenvolvimento das apurações, os distritais não descartam as chances de convocações do governador Rodrigo Rollemberg e do atual secretário de Saúde, Humberto Fonseca.

“O caso é muito grave. Mas tem que ser tratado com muita cautela porque envolve o vice-governador e a presidente de um sindicato. E nós estamos diante de uma polêmica grande sobre a questão das OSs. Eu tenho certeza que os membros da CPI farão um trabalho muito sério para investigar se há materialidade ou não”, observou a presidente da Câmara, deputada Celina Leão (PPS).

Presidente da CPI, Wellington Luiz (PMDB) disse que o escândalo não é surpresa para a comissão, em função das denúncias colhidas no primeiro semestre. Por enquanto, a Câmara estuda três potenciais casos de corrupção dentro da pasta da Saúde. “O caos a que chegamos na saúde é o que justifica o núcleo podre. É corrupção e má gestão”, cita, para garantir que a investigação será séria e sem pirotecnia.

“Estamos moralizando a saúde”

“Estamos moralizando a secretaria de Saúde”, argumentou o governador, ontem. Disse ainda que a pasta está fazendo licitação para um conjunto de serviços prestados à pasta, que há muitos anos eram feitos sem nenhum tipo de contrato ou licitação. “Apenas na alimentação hospitalar, estamos fazendo uma economia de R$ 50 milhões. Havia empresas que prestavam serviço de vigilância sem contrato há mais de quatro anos e estamos fazendo essa licitação. Depois será a da limpeza”, informa Rollemberg.
Sobre as denúncias, de Marli Rodrigues, de que haveria cobrança de propina na secretaria, ele instiga a sindicalista a mostrar onde está a corrupção: “Agora, quando a presidente do sindicato diz que há corrupção na Saúde, ela precisa dizer aonde é, quem é que está praticando e quem está se beneficiando.”
“Meio podre”
Marli Rodrigues – que foi procurada para comentar o assunto, mas não retornou as ligações da reportagem – gravou outra conversa com o ex-secretário Fabio Gondim, dizendo que há um “meio podre” na pasta e que de nada adianta trocar o secretário, se não mudar os gestores. Gondim foi o segundo a assumir a Secretaria da Saúde e deixou o cargo para Humberto Fonseca, o atual titular da pasta.
Antes dele, João Batista passou pela secretaria, depois de Ivan Castelli, o primeiro indicado para o cargo ter declinado do convite.
O vice-governador Renato Santana foi procurado para comentar o assunto, mas não retornou as ligações. Antes, havia divulgado nota, em que disse que, assim que teve conhecimento da cobrança de propina, reportou imediatamente as denúncias ao próprio governador Rodrigo Rollemberg.

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