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Política & Poder

Após afirmar que banco não fez nada ilegal, presidente do BNDES diz que País ‘legalizou’ corrupção

Questionado sobre quais leis deveriam então ser alteradas para evitar o episódio, ele disse que não poderia “comentar no detalhe o tema legislativo”

Redação Jornal de Brasília

29/01/2020 15h07

O secretário adjunto de Desestatização e Desinvestimento, Gustavo Montezano, será o novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Após garantir a inexistência de ilegalidades nas operações passadas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o presidente da instituição, Gustavo Montezano, disse que o próprio País “legalizou” o esquema de corrupção.

“A gente (Brasil) construiu leis, normas, aparatos legais e jurídicos que tornaram legal esse esquema de corrupção. A conclusão é essa”, disse Montezano em entrevista coletiva, nesta quarta-feira, 29, para explicar os gastos com a auditoria externa contratada pelo banco para apurar eventuais irregularidades em operações de mais de R$ 20 bilhões com as empresas do Grupo J&F.

Ao ser questionado sobre quais leis deveriam então ser alteradas para evitar a repetição do episódio, o presidente do BNDES disse que não poderia “comentar no detalhe o tema legislativo”.

“Nosso Brasil viveu um dos maiores escândalos de corrupção da história, turbinado com dinheiro público. Esse dinheiro saiu dos cofres do povo brasileiro. Então é legítimo que o povo se pergunte e questione ‘mas como não houve nada de ilegal?’. E a verdade é que a gente concluiu que não houve nada de ilegal. A gente construiu leis, normas, aparatos legais e jurídicos que tornaram legal esse esquema de corrupção. A conclusão é essa. E é legítimo que a população tenha essa dúvida, e é importante que o banco esclareça que não fez nada de ilegal”, disse Montezano.

O presidente do BNDES foi então questionado se o problema são as leis vigentes no País. “O problema de temas complexos não necessariamente é o fato, é a explicação. Como você explica para uma população geral, que paga altos impostos, que não tem escola, não tem saúde, não tem segurança, que a gente emprestou R$ 20 bilhões para (quem se envolveu em) um dos maiores esquemas de corrupção da história, com o dinheiro deles (população), e não teve nada de ilegal?”, disse Montezano.

“Eu me referi às leis e a todo o esquema normativo, que passa desde de que é decidido alguma coisa em Brasília, nas leis, até o dinheiro ser usado para financiar campanha lá na outra ponta. Esse esquema todo é que foi legalizado. É difícil explicar isso. Como a gente explica isso para a população? E como a gente garante que isso não vai acontecer de novo? É legítima a dúvida”, acrescentou o presidente do BNDES.

Ele disse ainda que é importante a sociedade fazer um debate “consistente” e “aprender com os erros do passado”. Segundo o presidente do banco, foram fatos que “machucaram” o País. “Acho que todos nós estamos convencidos que foi um erro grande para o nosso País. Ninguém tem dúvida disso. Então como é que a gente legalizou um troço desses?”, questionou.

Montezano garantiu, porém, que o BNDES trabalha para disciplinar o banco “para isso não acontecer mais”. Ele disse, porém, que só pode falar pelas ações da instituição de fomento. 

‘Acho que é um elogio’, diz presidente do BNDES sobre ter sido chamado de ‘garoto’ por Bolsonaro

Montezano, agradeceu nesta quarta-feira, 29, ter sido chamado de “garoto” pelo presidente Jair Bolsonaro. “Acho que é um elogio”, afirmou em coletiva de imprensa para explicar o gasto do banco com a auditoria da “caixa-preta” nas operações com o grupo J&F.

Na terça-feira, 28, Bolsonaro disse: “É o garoto lá, foi o garoto, porque, conheço por coincidência desde pequeno, o presidente do BNDES é um jovem bem intencionado. E ele que passou as informações disso que falei para vocês agora que são os aditivos. A ordem é não passar a mão na cabeça de ninguém. Expõe logo o negócio e resolve”.

Foto: Jewel Samad/AFP

O presidente também disse que “tem coisa esquisita” na auditoria. “Parece que alguém quis raspar o tacho”. “(Com relação à fala do presidente) Entendi que parecia que alguém queria gastar todo dinheiro. A gente provou aqui (na coletiva de imprensa) que não foi o caso”, rebateu Montezano, após exibir planilhas que detalhavam os aditivos das contratações.

“Meu entendimento em relação ao que ‘está esquisito’ é que era importante a gente estar aqui para esclarecer o que está esquisito. A gente fez um trabalho extenso de revisão de tudo o que aconteceu no banco para dar segurança e esclarecimento. A gente veio a público”, afirmou.Ao encerrar a coletiva ele afirmou no entanto que, naquele momento, todas as questões estavam “exauridas”. O executivo afirmou que não conversou pessoalmente com Bolsonaro depois que o presidente criticou publicamente o custo da auditoria. “Foi com interlocutores, não foi pessoal”.

A abertura da “caixa-preta” foi uma das missões conferidas por Jair Bolsonaro ao Montezano, que tomou posse em substituição a Joaquim Levy, primeiro nomeado pelo governo para comandar a instituição. Ele se juntou a outros executivos que passaram pelo banco após o fim da gestão Dilma Rousseff e tiveram dificuldades para comprovar irregularidades na concessão dos financiamentos.

No governo Temer, Maria Silvia Bastos Marques evitou o assunto. Paulo Rabello de Castro e Dyogo Oliveira negaram sua existência. “Ou sou um completo idiota ou não existe ‘caixa-preta’ no BNDES”, chegou a dizer Rabello.

Levy falou em “ter clareza sobre operações do passado”, mas não chegou a avançar na busca por operações fraudulentas. A dificuldade foi apontada como um dos motivos para a insatisfação de Bolsonaro com sua gestão – o executivo pediu demissão após o presidente dizer em entrevista que estava “por aqui” com ele.

A “caixa-preta” foi um dos temas dominantes na campanha de Bolsonaro. Para muitos apoiadores do presidente, a sua abertura teria potencial para malfeitos maiores do que os descobertos pela Operação Lava Jato na Petrobrás.

Logo após a vitória nas urnas, o presidente eleito se comprometeu a determinar, no início do mandato, “a abertura da ‘caixa-preta’ do BNDES e revelar ao povo brasileiro o que foi feito com seu dinheiro nos últimos anos”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 

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