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Política & Poder

Apoio do PT a Boulos vira arma de tucanos no segundo turno em SP

Para eles, o candidato do PSOL corre o risco de ser tachado de “marionete do Lula”

Redação Jornal de Brasília

16/11/2020 13h49

Foto; Rovena Rosa/Agência Brasil

Igor Gielow
São Paulo, SP

O apoio do PT a Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno do pleito paulistano é visto pelo PSDB como uma arma para o prefeito Bruno Covas tentar assegurar sua reeleição.

Na avaliação de líderes tucanos e estrategistas da campanha de Covas, Boulos tem diante de si uma armadilha dupla com a óbvia atração que fará dos votos da esquerda na cidade.

Para eles, o candidato do PSOL corre o risco de ser tachado de “marionete do Lula”, devido ao apoio tácito no primeiro turno e, agora, explícito de aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Seria uma ampliação natural da propaganda de Covas acerca da inexperiência de Boulos: o candidato nunca exerceu cargo eletivo.

Para complicar, o PSOL não é um partido com quadros abundantes e o PT tem gerações de pessoas com passagem pelas três gestões municipais que comandou desde 1988 na capital paulista.

A ideia de que a gestão Boulos possa ser sequestrada pelo partido de Lula, alijado do poder na cidade desde a derrota em primeiro turno do então prefeito Fernando Haddad em 2016, salta aos olhos tucanos. Seria uma forma de reacender a chama do antipetismo com nome e sobrenome, não apenas como uma ideia genérica contra a esquerda.

O próprio Haddad deu a senha para essa leitura, ao postar apoio a Boulos no Twitter na noite de domingo (15), conclamando união para a “derrota dos tucanos”.

Naturalmente, o candidato do PSOL sabe desse risco e conhece o histórico de apetite do PT por poder. Tornar-se um mero hospedeiro do petismo parece um mau negócio, e de resto é factível que boa parte dos minguados 8,65% de votos que o petista Jilmar Tatto teve venham para Boulos por gravidade.

Jurar independência plena é complicado, contudo, e abre um segundo flanco para o qual os tucanos já estão de olho: os efeitos de um governo fracionado sobre São Paulo, algo que a cidade já experimentou justamente com a vice de Boulos no poder, Luiza Erundina.

Quando foi eleita em 1988, numa virada surpresa sobre Paulo Maluf registada no dia do voto, Erundina governou sobre o caos político. Facções do PT, que nunca havia conquistado um prêmio daquele tamanho, se digladiavam diuturnamente.

Com pouca articulação política e oposição forte na Câmara Municipal, a prefeita viu seus investimentos na área social serem tão perenes, como memória, com a impressão de mau governo. Saiu da prefeitura com apenas 20% de aprovação, segundo o Datafolha, marca só batida negativamente pelo malufista Celso Pitta dois mandatos depois.

Eventos como o apoio de Erundina a uma impopular greve do funcionalismo à época já são lembrados, assim como indicadores de governo, pelo time tucano.

O tom entre integrantes do partido do prefeito era de realismo na ressaca eleitoral da segunda-feira. A avaliação é de que o desempenho ficou aquém do esperado -a expectativa era de agrupar ao menos 40% do eleitorado, e Covas ficou com 32,7% dos votos válidos.

Se por um lado todos comemoraram a debacle do candidato bolsonarista no pleito, Celso Russomanno (Republicanos), a força relativa com que Boulos (20,2% dos votos) chegou ao segundo turno disparou alarmes.

Nem tanto pelo desempenho do PSOL entre jovens e mais instruídos, algo já identificado nas pesquisas, mas pela eficácia que esses grupos tiveram em mobilizar eleitores no meio da pandemia.

A alta abstenção em São Paulo, de 29,3%, presumivelmente prejudicou Covas entre um eleitorado no qual tem amplo domínio, os mais velhos -logo, mais propensos a faltar para não arriscar exposição ao novo coronavírus.

Isso não significa que o tucano irá apelar diretamente aos mais jovens. Sua campanha já havia identificado, bem no começo, a pouca capilaridade que a prefeitura tem com esses segmentos –o ensino médio público é basicamente estadual.

E segue, entre os tucanos, a avaliação de que Covas tem mais chance de atrair um espectro diverso de eleitores do que Boulos, 38, que tenderia a concentrar o voto jovem à esquerda.

Apesar de ter apenas 40 anos, o prefeito se vende como um representante da política institucional, grupo que teve uma ressurreição neste ano, após ser varrido com a esquerda na onda bolsonarista de 2018.

Por isso os temas da radicalização, da associação ao PT e da inexperiência já começaram a ser martelados no primeiro dia da curta corrida do segundo turno.

Suas posições contrárias ao presidente também dificultam o uso do mote “amor versus ódio”, típico da esquerda: não por acaso, Boulos acusa Covas de “mesmice” e prefere atacar a impopularidade na capital do governador João Doria (PSDB), aliado do prefeito.

As informações são da Folhapress

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