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Opinião

Garantia da imparcialidade das investigações é um direito de todos

Seguindo uma lógica em oposição à da construção do conhecimento científico, o Brasil vive o reinado do argumento de autoridade em detrimento da autoridade do argumento

Redação Jornal de Brasília

26/12/2019 20h38

Por Carlos Arouck

O Ministério Público cumpriu diversos mandados de busca e apreensão em recente operação sobre lavagem de dinheiro no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, quando era deputado estadual. No entanto, não foram encontrados indícios suficientes para justificar a iniciativa.

Uma das principais bandeiras do governo federal é o fim da corrupção e todos os brasileiros que elegeram o atual Presidente da República querem o mesmo. Mas diante do clima de polarização política vivido nos dias de hoje, esse desdobramento das investigações refletiria a vontade popular pelo fim da impunidade ou a vontade de determinado grupo de perseguição ideológica?

Seguindo uma lógica em oposição à da construção do conhecimento científico, o Brasil vive o reinado do argumento de autoridade em detrimento da autoridade do argumento. Os pedidos do Ministério Público do Rio de Janeiro possuíam inconsistências que não foram esclarecidas pelos membros da operação.

Existem, por exemplo, pessoas sem qualquer vínculo político com Flávio e que foram alvo de quebra de sigilo. Todos eram funcionários comissionados no gabinete da liderança do PSL na Alerj e foram demitidos pelo próprio senador.

Ainda, o MP equivoca-se ao comparar gastos com remunerações de Fabrício Queiroz. Os promotores consideraram apenas o salário da Alerj e ignoraram a remuneração que ele recebe da Polícia Militar.

Existe também um erro na indicação do volume de saques feitos por Queiroz em dois dos três períodos apontados pela operação.

O MP confunde ao falar sobre um negócio que Flávio adquiriu, um imóvel com 12 salas comerciais. A promotoria afirma que a compra foi feita por R$ 2,6 milhões, quando, na verdade, o parlamentar apenas deteve os direitos sobre os imóveis, que ainda não estavam quitados e continuaram sendo pagos em prestações mensais por outra empresa que assumiu a dívida.

As apurações feitas se mostraram terreno fértil para ilações que rejeitam fatos consensuais e levantam suspeitas sem a devida comprovação. Com tantos políticos do Rio de Janeiro condenados e presos por seus atos, é bom saber que finalmente o MP do estado está preocupado em evitar que a criminalidade prospere. Pena não ter se empenhado mais até antes. A ideia é que todos paguem por seus crimes, desde que tenham sido cometidos. E sem mimimi depois de condenados. E que a mídia e as redes somente massacrem com fundamento. É pedir demais?

Sobre o autor

Policial federal, Carlos Arouck é formado em Direito e Administração de Empresas, instrutor de cursos na área de proteção, defesa e vigilância, consultor de cenários políticos e de segurança pública, membro ativo de grupos ligados aos movimentos de rua.

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