A obesidade, patologia que mais causa doenças no mundo, atingiu índices assustadores no Brasil. Quase seis em cada cinco brasileiros de 18 anos ou mais estão com excesso de peso, segundo Pesquisa Nacional de Saúde 2013, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na última sexta-feira (21). O estudo aponta que 56,9% dos brasileiros têm índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 25. Além disso, 20,8% das pessoas são classificadas como obesas por terem IMC igual ou maior que 30.
O endocrinologista Flávio Cadegiani, da Corpometria, afirma que os dados são alarmantes e não batem com as informações divulgadas pelo Vigitel 2014 no início do ano, quando o governo anunciava uma estabilização nos índices de sobrepeso e obesidade na casa dos 52,5%. “Está na hora de o governo federal, governos de outros países e a OMS tratarem o assunto com rigor, com estabelecimento de metas para redução da obesidade e subsídio aos alimentos saudáveis, por exemplo. A redução da obesidade irá implicar em economia de trilhões de dólares em longo prazo, sem exagero algum dos números”, defende Cadegiani.
De acordo com o médico, a obesidade é uma doença crônica, inflamatória e grave. “A doença está associada a vários problemas cardiovasculares ou outras condições crônicas, como a asma, aumento na pressão arterial e o diabetes. Ainda vemos a obesidade ser encarada apenas como um problema estético, mas ela é uma doença muito grave e responsável direta e indiretamente pela morte de milhares de pessoas”, diz o endocrinologista.
Para ele, a má alimentação e o sedentarismo estão entre os fatores que mais colaboram para o ganho de peso, no entanto, o uso de alguns medicamentos, mudanças de hábitos, estresse e fatores genéticos também contribuem para o sobrepeso. “Muitas vezes a pessoa faz dieta e não tem resultado. Neste caso, é preciso investigar o metabolismo e a saúde dela, observar os antecedentes familiares e, quando necessário, receitar medicamentos”, afirma o especialista.
Flavio Cadegiani alerta para o aumento da obesidade especialmente entre os níveis sociais mais baixos. “Os alimentos mais saudáveis tendem a ser mais caros, como carboidratos integrais, alimentos não industrializados, hortaliças, frutas e fontes de proteína. Enquanto os alimentos mais baratos são de acesso mais fácil. Este é um fenômeno não somente brasileiro, mas mundial”, esclarece o endocrinologista.
O levantamento indica uma prevalência maior de excesso de peso no sexo feminino (58,2 %), que no sexo masculino (55,6%). Em dez anos, a obesidade entre mulheres de 20 anos ou mais passou de 14% em 2003, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), para 25,2% em 2013, de acordo com a PNS. Entre os homens, o crescimento foi menor, de 9,3% para 17,5%. O acúmulo de gordura abdominal também foi mais frequente no sexo feminino, atingindo 52,1% das mulheres e 21,8% dos homens.
Flávio Cadegiani aponta a importância da medição da gordura abdominal. “Além de medir o peso, a PNS mediu a gordura abdominal dos participantes pela primeira vez. Esse dado é muito importante, pois é utilizado como critério de avaliação da síndrome metabólica e para risco de infarto, enquanto o peso não”, esclarece. A cintura é considerada aumentada quando é maior que 88 cm para mulheres e que 102 cm para os homens. A avaliação demonstra que 37,7% dos brasileiros tiveram a cintura aumentada.
A reeducação alimentar e a atividade física regular são as melhores maneiras de tratar a obesidade e manter a forma. “A perda de peso impacta diretamente nos índices da pressão arterial, de açúcar no sangue (glicemia) e nas taxas de colesterol. Além disso, melhora a qualidade de vida como um todo”, afirma a nutricionista Gabriella Alves, da Corpometria. Segundo ela, o tratamento da doença requer mudanças nos hábitos alimentares com uma dieta balanceada. “Deve-se evitar alimentos gordurosos e açucarados, e optar por produtos mais saudáveis”, conclui a nutricionista.