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Saúde

Nova combinação de medicamentos reduz em 44% o risco de progressão do câncer de mama metastático

A pesquisa envolveu 1.157 pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo que não haviam recebido tratamento prévio para a doença metastática

Redação Jornal de Brasília

09/11/2025 11h26

cancer de mama

Foto: Divulgação/Sociedade Brasileira de Mastologia

LAIZ MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Um estudo internacional publicado no New England Journal of Medicine mostrou que uma nova combinação de medicamentos reduziu em até 44% o risco de progressão ou morte em pacientes com câncer de mama metastático do tipo HER2-positivo. Os resultados indicam que iniciar o tratamento com essa associação é mais eficaz do que o regime padrão utilizado há mais de 15 anos.

As pacientes tratadas com a combinação de trastuzumabe deruxtecana e pertuzumabe apresentaram mediana de sobrevida livre de progressão —tempo em que metade dos pacientes permanece sem que o câncer volte a crescer ou piorar após o início do tratamento— de 40,7 meses, em comparação com 26,9 meses no grupo que recebeu o tratamento padrão com taxano, trastuzumabe e pertuzumabe (THP).

O subtipo HER2-positivo representa cerca de 10% a 15% dos casos de câncer de mama no mundo, segundo o NIH (Instituto Nacional de Saúde) dos Estados Unidos. O tumor se caracteriza pela alta expressão da proteína HER2, que estimula o crescimento das células tumorais. Em geral, esses tumores crescem mais rapidamente e têm comportamento mais agressivo.

A pesquisa envolveu 1.157 pacientes com câncer de mama metastático HER2-positivo que não haviam recebido tratamento prévio para a doença metastática. Elas foram recrutadas em 279 centros de 20 países, incluindo o Brasil, entre 2021 e 2023. As participantes foram divididas aleatoriamente em três grupos: trastuzumabe deruxtecana e pertuzumabe (nova combinação), trastuzumabe deruxtecana e placebo (para avaliar o papel do pertuzumabe), e tratamento padrão (grupo controle).

Com base em dados coletados até fevereiro de 2025, o índice de resposta objetiva —proporção de pacientes cujo tumor encolheu— foi superior no grupo experimental (85,1%) em relação ao grupo padrão (78,6%). A resposta completa, quando o tumor desaparece totalmente, ocorreu em 15,1% das pacientes tratadas com a nova combinação, frente a 8,5% no grupo controle.

Os resultados do grupo placebo ainda não foram divulgados. “A análise estatística previa que os braços fossem avaliados de forma independente, então isso não atrapalha, pois cada braço é comparado separadamente com o grupo controle para determinar se é superior ou não”, diz o oncologista do Hospital Brasília e um dos autores do estudo, Romualdo Barros.

Os efeitos colaterais foram semelhantes aos esperados para cada medicamento. Reações graves ocorreram em cerca de 63% das pacientes, principalmente neutropenia, hipocalemia e anemia. Doença pulmonar intersticial ou pneumonite apareceu em 12,1% do grupo experimental, na maioria leves, e em 1% do grupo controle.

Embora o câncer metastático seja tratado com intenção paliativa, com foco em controlar a doença e preservar a qualidade de vida, os novos medicamentos têm ampliado as possibilidades terapêuticas.

“Tratamento paliativo não é terminal”, afirma o oncologista. “Assim como no diabetes ou na bronquite crônica, o objetivo é controle. E com as novas terapias, alguns pacientes conseguem cura, enquanto outros vivem oito, dez, até quinze anos com boa qualidade de vida.”

Os medicamentos utilizados no tratamento padrão, taxano, trastuzumabe e pertuzumabe, estão disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde), sendo que o último integra tanto a terapia convencional quanto a nova combinação avaliada. Já o trastuzumabe deruxtecana (nome comercial Enhertu), aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso a partir da segunda linha de tratamento, está disponível somente na saúde suplementar.

No tratamento, o trastuzumabe deruxtecana combina um anticorpo que reconhece e se liga à proteína HER2 com uma molécula de quimioterapia acoplada. “Ao ser internalizado, o remédio libera a quimioterapia dentro da célula tumoral, destruindo-a de forma direcionada, sem afetar tanto os tecidos saudáveis”, explica Barroso.

Segundo ele, a aprovação de novas indicações depende das empresas detentoras da molécula e segue um processo regulatório global. O pedido de uso em primeira linha é analisado pela FDA, agência regulatória dos Estados Unidos.

“O Brasil tem ganhado destaque na participação em estudos clínicos internacionais, o que garante acesso antecipado a terapias inovadoras e coloca pesquisadores e pacientes brasileiros em pé de igualdade com centros de excelência de países como EUA, França, Japão e China”, diz o médico.

O oncologista Camilo Campos, gerente médico do Hospital Casa Premium, da Rede Casa, afirma que os resultados reforçam o potencial da droga para redefinir o tratamento inicial desse tipo de câncer. “O estudo mostra um ganho de controle da doença sem precedentes. É um salto de qualidade importante, que deve influenciar diretamente as futuras diretrizes clínicas.”

Campos lembra que o tratamento do câncer de mama HER2-positivo evoluiu de forma significativa nas últimas décadas, mas ressalta, no entanto, que o estudo ainda não está concluído. Ainda não foi publicado o dado de sobrevida global, que é o tempo total de vida dos pacientes após o início do tratamento.

“Muitos participantes estão vivos e com a doença controlada, então não houve tempo suficiente para avaliar esse desfecho. Mesmo assim, a diferença observada até aqui é tão significativa que sociedades médicas já discutem se o novo esquema pode se tornar o novo padrão de primeira linha.”

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