Gabriel Barreto, 8 anos, passou por uma cirurgia para colocação de um cateter venoso central no Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB). Antes de entrar no centro cirúrgico, ele teve um encontro inusitado: conheceu o “Gabriel 3D” — uma miniatura impressa em três dimensões, com traços físicos semelhantes aos seus e que já exibia no tórax o dispositivo médico que seria instalado. Ao ver, tocar e compreender o que aconteceria em seu corpo, Gabriel pôde lidar melhor com o momento, sentindo-se mais seguro.
A experiência é parte de uma abordagem inovadora do HCB, que utiliza o brinquedo terapêutico como ferramenta de apoio emocional e educacional a crianças com condições de saúde crônicas. A proposta é tornar o ambiente hospitalar menos intimidador e mais compreensível, aproximando o universo infantil do tratamento médico.
“O brincar é uma linguagem natural da infância. Por meio dele, traduzimos informações complexas para algo mais acessível, respeitoso e acolhedor”, afirma Brunna Carvalho, supervisora de Enfermagem do Ambulatório do HCB e presidente da Comissão do Brinquedo Terapêutico/Brinque HCB. “Os pacientes demonstram maior aceitação dos procedimentos, expressam-se com mais liberdade e criam vínculos mais fortes com a equipe.”
Impressão 3D e cuidado centrado na criança
Em parceria com o Grupo de Pesquisa em Inovação, Projetos e Processos da Universidade de Brasília (UnB), o hospital vem desenvolvendo modelos personalizados de personagens já usados na ambientação das unidades, agora adaptados às características físicas das crianças atendidas. O “Gabriel 3D” é fruto dessa iniciativa, ainda em fase de implementação, que visa ampliar o alcance das atividades lúdicas a outras unidades do hospital.
Para Anna Karolina Barsanulfo, gerente da Linha de Cuidado do Paciente Clínico, o uso da impressão 3D representa um avanço simbólico e prático. “Estamos transformando em algo tangível aquilo que é muitas vezes abstrato para a criança — como um cateter, uma condição clínica ou alteração corporal. Isso favorece o cuidado integral, considerando corpo, mente e emoções.”
Diferentes formas de brincar e cuidar
O brinquedo terapêutico no HCB é aplicado de maneiras variadas, conforme a idade e o estágio de desenvolvimento da criança. Entre as abordagens utilizadas estão:
- Brinquedo terapêutico instrucional: prepara e informa a criança sobre procedimentos médicos por meio de modelos visuais e linguagem acessível;
- Brinquedo terapêutico dramático: ajuda a criança a expressar emoções e compreender o que a aflige, fortalecendo vínculos com a equipe de saúde e familiares;
- Brinquedo terapêutico capacitador: promove o autocuidado, com atividades que estimulam a autorresponsabilidade e a educação em saúde.
Além disso, o hospital conta com oito brinquedotecas — três no ambulatório e cinco nas unidades de internação — equipadas com brinquedos e jogos educativos, destinados ao “brincar livre”. Auxiliares pedagógicos também estão disponíveis para orientar atividades quando necessário.
Comissão multidisciplinar e impacto emocional
A Comissão do Brinquedo Terapêutico/Brinque HCB é composta por profissionais de diversas áreas, como enfermagem, farmácia, psicologia, psicopedagogia, fisioterapia e terapia ocupacional. O grupo atua na padronização dos brinquedos terapêuticos e no desenvolvimento de ações que tornem a experiência hospitalar mais acolhedora, segura e humanizada.
A vivência hospitalar pode gerar medo, ansiedade e resistência por parte das crianças. Ao introduzir o lúdico no cotidiano do hospital, o HCB não apenas melhora a aceitação dos procedimentos, como promove bem-estar emocional e fortalece o envolvimento das famílias.
“A resposta tem sido extremamente positiva”, resume Brunna Carvalho. “Os pais se surpreendem ao ver o poder terapêutico do brincar, e as crianças, ao se sentirem compreendidas, respondem com mais confiança e colaboração.”
Com informações do Hospital da Criança de Brasília