Mesmo com dados de que o transtorno bipolar ou bipolaridade pode chegar a atingir cerca de 15 milhões de brasileiros, segundo estimativas da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar. Quem convive com a doença ainda sofre com estigmas, clichês e preconceitos enraizados na sociedade e reforçados por produções como novelas e filmes, que apenas reproduzem de forma errônea o quadro da doença.
Segundo a psicóloga Lia Clerot, conviver com conclusões prematuras dificulta não só o diagnóstico correto como também o tratamento do paciente. “É preciso cautela e principalmente conhecimento para lidar corretamente com a doença, que se tratada da forma certa pode ser controlada facilmente e não afetar a vida das pessoas em grandes escalas”, diz.
Um caso recente de abordagem da doença por obra de ficção, o da personagem vivida por Bárbara Paz na novela “A Regra do Jogo”, da Rede Globo, tem causado bastante polêmica. Em nota publicada em seu site oficial, a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA) reforça o quão distorcido a bipolaridade vem sendo retratada pelo personagem. O texto ressalta que “a novela veicula uma informação incorreta sobre o que é transtorno bipolar e, como foi ressaltado nos capítulos iniciais, confunde transtorno de múltiplas personalidades (ou transtorno dissociativo de identidade) com transtorno bipolar com sintomas psicóticos e mostra o personagem em questão com comportamentos que não se identificam com os sintomas dos transtornos de humor”.
Para Lia Clerot, o alerta é importante e deve ser difundido a fim de retratar e educar a população sobre a realidade de quem vive com a doença. “O transtorno bipolar se divide em dois principais tipos: o tipo I, que se caracteriza pela presença de episódios de depressão e de mania e o tipo II, quando há alternância de depressão e episódios mais leves de euforia, que é a chamada hipomania. A médica ainda ressalta que o TB não está ligado diretamente ao transtorno de múltiplas personalidades como vem sendo mostrado na trama.
“Quando se trata de um assunto delicado e ainda pouco difundido para o grande público é necessária um cuidado redobrado para não fortalecermos ainda mais a ignorância a respeito do assunto e tratar duas doenças diferentes como se fossem apenas uma”, alerta. Clerot conclui que as alterações sofridas pelos pacientes de transtorno bipolar estão ligadas às mudanças de humor e não de personalidade.
