As dores nas costas que impediram o marceneiro aposentado Luiz de França, 65 anos, de sair da cama foram o primeiro sinal de um problema mais grave. “Acordei um dia e não consegui levantar. Nunca tinha sentido nada antes”, lembra. O desconforto levou ao diagnóstico de câncer de pulmão em estágio avançado, confirmado em outubro de 2024 no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), unidade administrada pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IgesDF) e referência no tratamento oncológico.
Mesmo diante da gravidade da doença, Luiz encarou a situação com serenidade. “Já enfrentei tanta coisa, vou enfrentar mais essa”, afirma. Desde então, ele realiza sessões de quimioterapia e é acompanhado pela equipe médica do hospital.
O caso de Luiz ilustra como o câncer de pulmão pode se manifestar de forma atípica. Segundo a pneumologista Nancilene Melo, chefe da unidade de pneumologia do HBDF, os sintomas nem sempre são evidentes nos estágios iniciais. “Tosse persistente, dor no peito, rouquidão, falta de ar e perda de peso sem explicação merecem atenção”, alerta. A porta de entrada para o diagnóstico é a unidade básica de saúde (UBS), onde o paciente pode ser encaminhado para exames e avaliação especializada.
Em estágios mais avançados, como no caso de Luiz, sinais como dores nas costas ou nos ossos podem ser os primeiros a aparecer. Por isso, o rastreamento em pessoas com maior risco — como fumantes e ex-fumantes — é fundamental.
Avanços no tratamento
O cenário do câncer de pulmão tem mudado com a introdução de novas terapias. O chefe do Serviço de Oncologia Clínica do HBDF, Victor Oliveira Alves, explica que os tratamentos passaram a ser personalizados, com base no perfil molecular da doença de cada paciente. “Isso aumentou a sobrevida e melhorou muito a qualidade de vida”, destaca.
Um dos principais avanços é a terapia-alvo, que utiliza medicamentos capazes de identificar e destruir apenas as células cancerígenas. “Mesmo em casos avançados, conseguimos controlar a doença por mais tempo e, em situações específicas, até alcançar a cura oncológica”, afirma o oncologista.
Ele também destaca um efeito colateral positivo da pandemia de covid-19: o aumento na realização de exames de tórax, que contribuiu para a detecção precoce de nódulos pulmonares em alguns pacientes.
Apoio emocional é essencial
O impacto do câncer de pulmão vai além do físico. A psicóloga hospitalar Luiza Gayão ressalta que o diagnóstico afeta profundamente o emocional do paciente e da família. “Muitos se culpam por ter fumado ou por se expor a fatores de risco. É comum o medo, a perda da autonomia e um luto simbólico”, explica.
Por isso, o apoio psicológico faz parte do tratamento integral oferecido pelo HBDF. “A psicologia hospitalar ajuda o paciente a resgatar sua dignidade, enfrentar o processo com mais clareza e manter o vínculo terapêutico com a equipe de saúde”, completa Luiza.
Prevenção ainda é o melhor caminho
Apesar dos avanços, o câncer de pulmão permanece como o tipo mais letal da doença no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2023 foram mais de 28 mil novos casos e cerca de 20 mil mortes. No HBDF, somente no primeiro semestre de 2025, foram 31 consultas de primeira vez e 521 retornos em oncologia clínica. Atualmente, 65 pacientes realizam tratamento ativo para câncer de pulmão na unidade.
O tabagismo é o principal fator de risco, associado a até 85% dos casos. No entanto, os especialistas também acendem o alerta para o uso de cigarros eletrônicos, cada vez mais comuns entre os jovens. “Esses dispositivos contêm substâncias tóxicas que aumentam o risco de câncer no futuro”, alerta a pneumologista Nancilene Melo.
No Distrito Federal, diversas UBSs oferecem grupos de apoio à cessação do tabagismo, abertos a toda a população. “Parar de fumar é possível, e há ajuda disponível. O primeiro passo pode salvar sua vida”, reforça a médica.
Para saber onde encontrar um grupo de apoio mais próximo, a população pode entrar em contato com a Coordenação de Tabagismo pelo telefone (61) 3449-4441 ou acessar o site da Secretaria de Saúde do DF.
Com informações do IgesDF