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Saúde

Câncer de intestino é um dos que apresenta maior incidência no país

INCA estima que 1.410 pessoas são diagnosticadas com cânceres gastrointestinais no DF anualmente

Redação Jornal de Brasília

21/07/2025 18h21

Foto: Divulgação

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Vítor Ventura

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a probabilidade de morte prematura por câncer de intestino, também conhecido como colorretal, entre pessoas de 30 a 69 anos pode crescer em 10% até 2030 no Brasil. Na análise publicada no artigo “Os objetivos de desenvolvimento sustentável para o câncer podem ser cumpridos no Brasil?”, o câncer de intestino tem o maior aumento projetado em todas as regiões brasileiras, para ambos os sexos. Excluído o tumor de pele não melanoma, esse tipo de câncer é o segundo mais incidente no país, atrás apenas do de próstata entre os homens, e o de mama, entre as mulheres. No Distrito Federal, conforme estimativas do INCA para 2023, 2024 e 2025, a taxa de incidência é de 22,5 casos para cada 100 mil habitantes.

Esse tipo de tumor está inserido na categoria de cânceres gastrointestinais. Mauro Donadio, oncologista da Oncoclínicas, explica que, além do colorretal, os mais comuns dessa categoria são no estômago, no esôfago, no fígado e no pâncreas. O câncer gastrointestinal é um tumor maligno que se desenvolve dentro do sistema digestivo, na cavidade abdominal. Estimativas de 2018 apontadas pela AstraZeneca revelam que os cânceres gastrointestinais representam 26,3% da incidência de casos de câncer no mundo. A letalidade também é alta, 35,4% das mortes por câncer são causadas pelos gastrointestinais. O colorretal em específico é o de maior incidência e mortalidade dentro da categoria. Donadio destaca que a letalidade do câncer de intestino depende do estágio do diagnóstico e do tratamento adequado da doença. “Hoje, mesmo em se tratando de pacientes com a doença avançada ou metastática ao diagnóstico, alguns estudos mostram sobrevidas maiores que 40 meses em alguns casos, muito melhor que os 18 meses que observávamos há pouco tempo atrás”, afirma. A doença estar metastática ao diagnóstico diz respeito ao processo de metástase, isto é, quando o tumor já se espalhou para outras partes do corpo.

O oncologista reforça a importância do diagnóstico precoce para o tratamento desse tipo de câncer: “Uma vez detectada a doença ainda localizada, a cirurgia sozinha ou com subsequente quimioterapia pode ser curativa”, aponta. Portanto, para que haja mais sucesso no combate ao câncer de intestino, as pessoas precisam estar atentas a alguns sintomas que podem indicar a presença da doença. “Os principais sintomas dos tumores colorretais são sangramento nas fezes, alteração de hábito intestinal ou no formato das fezes, perda de peso e anemia”, exemplifica Donadio. Alguns outros sintomas comuns de cânceres gastrointestinais são disfagia (dificuldade para engolir), vômitos, dor e inchaço abdominal e desnutrição.

O oncologista conta que anualmente, no Brasil, são diagnosticados cerca de 45.000 casos de câncer colorretal, com mortalidade de um pouco mais de 20.000 casos por ano. Segundo dados do INCA, para o triênio de 2023-2025 foram estimados 21.970 casos de câncer de intestino em homens e 23.660 em mulheres, totalizando 45.630 casos anuais no país. A esse número, analisando a incidência dos demais tumores gastrointestinais, são adicionados os 21.480 casos de câncer no estômago, os 10.990 no esôfago, 10.980 no pâncreas e 10.700 no fígado. No total são estimados, entre homens e mulheres, 99.780 casos de cânceres gastrointestinais no Brasil anualmente. 

Desse total, estima-se que 1.410 são de casos no DF. Dentro da categoria dos gastrointestinais, o câncer colorretal é o de maior incidência (710), seguido pelo no estômago (300), pâncreas (170), fígado (150) e esôfago (120). 

Riscos, prevenção e tratamento

De acordo com o INCA, os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento do câncer de intestino são a idade avançada (igual ou acima de 50 anos), o sedentarismo, o excesso de gordura corporal (sobrepeso e obesidade) e a alimentação pobre em frutas, vegetais e outros alimentos que contenham fibra. Além disso, o consumo excessivo de carnes processadas, como salsicha, mortadela, presunto, bacon e linguiça, e de carne vermelha também aumentam o risco para esse tipo de câncer. Outros fatores relacionados à maior chance de desenvolvimento da doença são o histórico familiar de câncer de intestino, histórico pessoal de câncer de ovário, útero ou mama, além de tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas. Doenças inflamatórias do intestino e exposição ocupacional à radiação ionizante também aumentam o risco da doença.

Para prevenir cânceres gastrointestinais, a manutenção do peso corporal adequado, a prática de atividade física e a alimentação saudável são fundamentais. Recomenda-se evitar as carnes processadas e limitar o consumo de carnes vermelhas (até 500 gramas de carne cozida por semana). É importante também evitar ao máximo o tabagismo.

Donadio explica que o tratamento dos tumores gastrointestinais iniciais pode ser feito com cirurgia. Entretanto, em alguns casos, os processos de radioterapia ou quimioterapia se tornam necessários. No primeiro, é feito o uso de radiações, como raios X, para atacar as células tumorais, funcionando como uma espécie de ataque localizado ao tumor. O segundo também é um tratamento que ataca as células tumorais, mas dessa vez é feito a partir do uso de medicamentos, não de raios que atingem essas estruturas. “Para os tumores de reto, a radioterapia concomitante à quimioterapia é uma estratégia fundamental em alguns casos de doença mais localmente avançada”, ressalta o oncologista.

Em casos ainda mais avançados, nos quais já existe a possibilidade de o tumor ter se espalhado para outros locais do corpo, Donadio destaca o uso da quimioterapia junto com a terapia-alvo. Essa última diz respeito ao tratamento oncológico feito com medicamentos cujo com o objetivo de atingir um ou mais pontos específicos do organismo, preservando células saudáveis. “Ainda existe a menos frequente possibilidade de se empregar imunoterapia em tumores colorretais avançados ou mesmo tumores de reto localmente avançados quando o tumor apresenta uma alteração”, conta. A imunoterapia é um tipo de tratamento que auxilia o sistema imunológico do próprio paciente a combater o câncer.

Incidência preocupante

Ciente do alerta para o aumento do câncer de intestino apontado pelo INCA, Donadio relata que essa incidência e mortalidade crescentes, sobretudo em adultos mais jovens, é tema de amplo debate e preocupação. “Entende-se que a causa seja multifatorial, envolvendo hábitos de vida de maior risco mais precoces como obesidade, tabagismo, sedentarismo e dieta não saudável, alteração de flora intestinal, acúmulo de alterações genéticas específicas, entre outros”, conta. O oncologista também indica a demora na procura de atendimento, tendo como consequência o diagnóstico atrasado: “a população mais jovem tende a demorar para procurar atendimento médico, minimizando sintomas, o que pode levar ao diagnóstico mais tardio com tumores em fases mais avançadas e de mais difícil curabilidade”, finaliza.

O DF conta com alguns hospitais da rede pública considerados referência no combate ao câncer. São os casos do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) e do Hospital de Base. De acordo com a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), há uma média de 399 pacientes inseridos mensalmente na fila de oncologia. A secretaria informa que em março, a fila de espera era de 1.519 pessoas, sendo 889 pacientes da oncologia e 630 pacientes da radioterapia. Com as novas medidas previstas no programa “O câncer não espera”, iniciativa do GDF para ampliar o acesso a diagnósticos e tratamentos oncológicos na rede pública, houve uma redução para 1.084 pacientes até julho. A ação contribuiu para a queda de 25% no número de pacientes na oncologia, um total de 669, e 34% na radioterapia, com 415. Além disso, houve uma diminuição nos dias de espera, de 74 para 51 na fila oncológica, e de 54 para 30 na fila radioterápica, quedas de 31% e 44%, respectivamente.

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