A expectativa era de um jogo tranquilo, mas acabou sendo um grande drama. Um das grandes forças do passado do voleibol, o Japão encarnou o espírito de antigamente e deu um enorme sufoco no Brasil, que precisou reverteu um placar desfavorável em 2 sets a 0 para vencer no tie-break e chegar à final do Campeonato Mundial. Ao término da partida, o placar apontava 22/25, 33/35, 25/22, 25/22 e 15/11.
Comandado pela baixinha levantadora Yoshie Takeshita, de apenas 1,59m, e pela ótima atacante Saori Kimura, o Japão fez uma das melhores partidas de sua história e quase conseguiu a maior zebra da modalidade nos últimos anos. Porém, o embalo de 12 mil pessoas no ginásio Yoyogi, em Tóquio, não foi suficiente para impedir a derrota em um jogo extremamente tenso.
Em busca do inédito título mundial, o Brasil encara neste domingo, às 8h30 (horário de Brasília) a também invicta Rússia, que passou pelos Estados Unidos por 25/16, 13/25, 25/19 e 25/21. Trata-se da reedição da decisão do último Mundial, quando as europeias venceram após virar um placar que chegou a ser de 13 a 11 no quinto set.
Favoritíssimo à vitória, já que chegou à semifinal com 100% de aproveitamento mesmo enfrentando times fortes, o Brasil sofreu com a falta de paciência para superar a sensacional defesa oriental, que compensava a ausência de um bloqueio eficiente. Por vezes, a equipe de José Roberto Guimarães até conseguia passar à frente, mas, errando muito, em especial nos contra-ataques, não podia abrir. Ao todo, foram 34 pontos cedidos de graça para os adversários.
Vários destes erros custaram o segundo set, quando as campeãs olímpicas desperdiçaram nove set points. O passe também não entrou direito até a entrada de Sassá no lugar de Jaqueline no terceiro set. O bloqueio verde-amarelo também era inteligentemente explorado na mão de fora pelas japonesas, até que finalmente o Brasil acertou este posicionamento ao término da penúltima parcial.
Por muito pouco, o Brasil não sofre a segunda derrota seguida para o Japão, que já havia vencido a equipe em agosto, na fase final do Grand Prix. Na ocasião, o placar foi de 3 sets a 2, resultado decisivo para que as brasileiras perdessem o título.
Com 28 pontos, todos de ataque, Kimura foi o destaque do jogo, seguida pela sua companheira de ponta Yukiko Ebata, com 25. Takeshita, por sua vez, mostrou o porquê já foi eleita MVP de um Mundial e deu um show na posição, mas não conseguiu parar o embalo nacional na última etapa.
Do lado brasileiro, brilhou a capitã Fabiana, referência nos momentos mais tensos da partida. A maior pontuadora do Brasil, porém, foi Sheilla, com 25 acertos, que não foi tão aproveitada quanto poderia por Fabíola.
O jogo
Brasil desperdiçando muitos contra-ataques, passe quebrado, Fabíola mal e a tradicional eficiência da defesa japonesa: esta foi a receita da derrota verde-amarela no primeiro set. O time de Zé Roberto até começou bem, com 4 a 2 no placar, mas o Japão não demorou a engrossar o jogo e equilibrar as ações.
Com dificuldades para armar as jogadas ofensivas, a levantadora do Brasil passou a insistir muito com Jaqueline na reta final da etapa, mas a ponteira não estava bem, o que proporcionou diversas defesas do lado adversário, cujos contra-ataques não foram desperdiçados.
Sem sucesso, Zé Roberto tentou a inversão 5-1, com Dani Lins e Joycinha em quadra, mas a manobra não deu certo e elas logo voltaram para o banco. Sassá entrou para sacar e foi justamente ela a responsável por encerrar o primeiro set, em um ataque de fundo que foi para fora: 25 a 22.
Embalado para a vitória, o Japão começou com tudo na segunda etapa e contava também com a desatenção brasileira, que deixou cair em sua quadra uma bola que veio de manchete oriunda de uma defesa rival. Experiente, a líbero Fabi pouco depois chamou todo o grupo para uma conversa na quadra a fim de tentar reverter a situação.
Levantadora do Japão, a pequena Takeshita vivia noite inspirada: até bola de segunda sobre Thaísa, de 1,96m, ela conseguiu virar, fazendo 8 a 7 e provocando a ira de Zé Roberto no primeiro tempo técnico.
A bronca serviu para acordar momentaneamente as brasileiras: com um ataque de Thaísa e três bloqueios seguidos (um da central e dois de Jaqueline), a seleção chegou aos 11 a 08. Mas as japonesas não desistiram e, graças aos erros de passe do Brasil, empataram em 12 pontos com Inoue.
A partida seguiu equilibradíssima, com as duas equipes trocando pontos até que as brasileiras chegaram na reta final do set um ponto à frente. Ao todo, foram nove set points desperdiçados pelas campeãs olímpicas, até que Saori Kimiura explorou o bloqueio brasileiro e fechou em 35 a 33.
Apostando nas mesmas táticas dos sets anteriores, o Japão voltou a complicar no terceiro set. Cada vez mais pressionadas, as brasileiras finalmente conseguiram se impor graças à entrada de Sassá no lugar de Jaqueline no terceiro set e, em quatro ataques, empatou um placar que estava em 11 a 07 para as japonesas. A capitã Fabiana também brilhou nos minutos finais e o Brasil ganhou uma sobrevida.
Defendendo mais, o Brasil voltou a se dar bem na etapa seguinte, mas não sem sufoco. O jogo ficou empatado até os 22 pontos, quando o bloqueio do Brasil finalmente apareceu e Sheilla fechou em 25 a 22. Confiantes, as brasileiras voltaram a barrar os ataques japoneses.
Desesperado, o técnico oriental pediu seus dois tempos antes do décimo ponto, gerando uma situação inusitada no 13º ponto do Brasil, quando tentou, sem sucesso, uma nova pausa e provocou uma discussão com a mesa de controle. Dois match points ainda foram desperdiçadas, mas Fabiana, em uma china, sacramentou a sensacional virada.