GIULIA PERUZZO
FOLHAPRESS
Condições neurológicas, como AVC (Acidente Vascular Cerebral), enxaqueca e Alzheimer afetam hoje 42% da população mundial, segundo um relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) lançado nesta terça-feira (14). O documento alerta para o crescimento preocupante desses diagnósticos, responsáveis por 11,8 milhões de mortes por ano.
Segundo a OMS, distúrbios neurológicos são a principal causa de doenças e incapacidades no mundo, medidos em Dalys (anos de vida ajustados por incapacidade) e anos de vida perdidos. Dados do estudo Carga Global de Doenças, de 2021, mostram que um grupo de 37 condições neurológicas causou, além das 11 milhões de mortes e 3,4 bilhões de casos, 435 milhões de Dalys.
Das 37 analisadas, as dez principais condições relacionadas a óbitos e incapacidades são: AVC, encefalopatia neonatal, enxaqueca, Alzheimer e outras demências, neuropatia diabética, meningite, epilepsia idiopática, complicações neurológicas ligadas ao parto prematuro, TEA (Transtorno do Espectro Autista) e cânceres do sistema nervoso.
Para Diogo Haddad, neurologista do Hospital Nove de Julho e coordenador do núcleo de Memória do Alta Diagnósticos, as doenças neurológicas estão crescendo no mundo porque estamos vivendo mais. “Além disso, estamos diagnosticando melhor e, como as doenças infecciosas estão mais controladas, as condições crônicas ganham mais destaque nas estatísticas.”
O médico afirma que há fatores modificáveis que também influenciam, como pressão alta, diabetes, obesidade, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e má alimentação. Condições do ambiente, como poluição do ar e exposição a metais pesados também são fatores que podem impactar o aumento de condições neurológicas.
“Metade dos pacientes com diabetes pode desenvolver algum tipo de neuropatia. Isso mostra como as doenças crônicas estão influenciando o cenário neurológico”, diz. Sobre o autismo e complicações relacionadas à prematuridade, Haddad explica que faltam serviços especializados e uma estrutura adequada, que são lacunas que dificultam o diagnóstico e tratamento na infância.
Apenas 53% dos estados-membros da OMS (102 de 194 países) contribuíram para o relatório, o que a organização aponta como um indicador da limitada atenção dedicada à neurologia. Além disso, menos de um em cada três países no mundo, e 32% dos países-membros, possui uma política nacional para lidar com o crescente impacto dos distúrbios neurológicos, consta o relatório.
Além da falha na criação e manutenção de políticas públicas, o levantamento indica uma escassez no acesso a cuidados essenciais, como a pouca presença de neurologistas, principalmente em países de baixa renda. Segundo o relatório, serviços especializados são praticamente inexistentes ou concentrados em áreas urbanas.
Haddad aponta que medidas simples e bem direcionadas podem reduzir a carga de doenças neurológicas, principalmente na regulação dos fatores de risco modificáveis, como prevenção cardiovascular, expandir o cuidado para o AVC, melhorar a saúde materno-infantil com melhorias no pré-natal e cuidados neonatais, prevenção de traumas cranianos e acidentes e capacitar a atenção básica e apoiar cuidadores.
“Ainda há grande desigualdade regional no acesso a neurologistas e exames no Brasil”, afirma o neurologista. O médico classifica como urgente a expansão da teleneurologia para para diagnóstico e acompanhamento à distância e o fortalecimento da neurologia pediátrica.
Em relação a cuidadores, normalmente necessários quando se trata de condições neurológicas, o relatório da OMS mostra que só têm acesso a serviços de apoio em 46 estados-membros, e proteções legais em 44. A maioria dos cuidadores informais são mulheres e não recebem reconhecimento ou algum tipo de suporte, afirma o relatório.
A OMS relata que, em 2022, os estados-membros adotaram um plano de ação global, em resposta ao crescente número de casos de doenças neurológicas. O plano visa tornar as condições neurológicas uma prioridade política, expandir o acesso a cuidados, promover saúde cerebral ao longo da vida e fortalecer o sistema de dados e monitoramento.
VEJA AS 37 CONDIÇÕES ANALISADAS PELO RELATÓRIO:
- Doença de Alzheimer e outras demências
- Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH)
- Transtornos do espectro autista
- Malária cerebral
- Comprometimento cognitivo ou síndrome de Guillain-Barré devido à Covid-19
- Neurosífilis congênita e adulta
- Neuropatia diabética
- Encefalite
- Epilepsia (idiopática)
- Epilepsia devido à equinococose
- Síndrome alcoólica fetal
- Síndrome de Guillain-Barré (SGB)
- Deficiência intelectual de desenvolvimento idiopática
- Meningite
- Enxaqueca
- Doença do neurônio motor
- Esclerose múltipla
- Encefalopatia neonatal
- Cânceres do sistema nervoso (SNC; neuroblastoma e outros tumores periféricos de células nervosas; a categoria inclui casos primários pediátricos e adultos, excluindo metástases)
- Defeitos do tubo neural
- Neurocisticercose
- Complicações neurológicas devido a defeitos congênitos de nascimento
- Complicações neurológicas devido à síndrome congênita do vírus Zika
- Complicações neurológicas devido à síndrome de Down
- Complicações neurológicas devido à síndrome de Klinefelter
- Complicações neurológicas devido a outras anomalias cromossômicas
- Complicações neurológicas devido à icterícia neonatal
- Complicações neurológicas devido à sepse neonatal
- Complicações neurológicas devido ao nascimento prematuro
- Outros distúrbios neurológicos (incluindo doenças degenerativas, distúrbios do sistema nervoso autônomo, distúrbios do movimento, doença espinocerebelar, distúrbios das raízes nervosas e plexos, distúrbios dos nervos periféricos, distúrbios neuromusculares e doenças musculares, como miopatias)
- Doença de Parkinson
- Raiva
- Lesão da medula espinhal
- Acidente vascular cerebral (AVC isquêmico, hemorragia subaracnoide, hemorragia intracerebral)
- Cefaleia tipo tensional
- Tétano
- Traumatismo cranioencefálico