Amanda Karolyne
Prestes a completar 50 anos em agosto, o movimento de hip hop passou por muitos preconceitos historicamente, e continua a passar. Neste mês de junho, o projeto de lei nº 97/2023 que declara o hip hop como patrimônio cultural imaterial do DF, foi aprovado em 2 na Câmara Legislativa do Distrito Federal, e agora o PL segue para a sanção do GDF. O projeto prevê que o Poder Público do Distrito Federal assegure a esse movimento a realização de suas manifestações, e também discorre sobre a criação da Semana Distrital do Hip Hop, com a realização dessas atividades no território do Distrito Federal, na segunda semana do mês de novembro, em convergência com o Dia Mundial do Hip Hop, celebrado no dia 12 de novembro.
O projeto é da autoria do deputado distrital Max Maciel (PSol), que teve a cultura hip hop como peça fundamental em sua formação. Uma das bandeiras do parlamentar é, justamente, a valorização dessa manifestação cultural. “O hip hop tem que estar inserido como um dos processos culturais do território e dialogar com uma parcela da juventude. Eu fui formado nessa escola (hip hop) e quero que ela seja reconhecida na nossa cidade”, destaca.
Também é destacado pelo projeto, que as escolas da rede pública de ensino e as unidades de internação de menores infratores realizem atividades sobre a cultura hip hop, tal como oficinas, debates e aulas temáticas.
A importância do hip hop para a cultura e sociedade
O distrital explica que enquanto Brasília foi embalada pelo rock, o rap fazia a cabeça de muitos jovens nas periferias do DF, como Câmbio Negro, Japão Viela 17, entre outros. “Mas a cultura hip hop vai além da música e temos expoentes do DF em todos os elementos. O break, recentemente, tornou-se esporte olímpico, o graffiti ocupa exposições internacionalmente e o DJ já é reconhecido, há muitos anos, como uma profissão”, afirma. Ele acredita que tornar o hip hop patrimônio cultural imaterial do DF é reconhecer a importância desse movimento para o Distrito Federal, principalmente para a juventude periférica que faz dele um estilo de vida.
A população muitas vezes não entende a importância da cultura para a sociedade, e julga desnecessário um projeto como esses, mas Maciel relembra que tocar samba já foi motivo de prisão no Brasil. “Hoje isso parece impensável. Mas é um processo que se repete ao longo do tempo com gêneros que vieram um pouco depois do samba, como o rap e o funk”. Ele questiona o que esses três estilos têm em comum. E a resposta: todos fazem parte da cultura preta e periférica. “E o hip hop, a partir do rap, do break, do graffiti e do DJ, faz parte desse processo de marginalização da cultura preta e periférica, porque ele é uma cultura enraizada na periferia e que nasceu pelas mãos da juventude negra”, argumenta. Max ressalta que reconhecer o hip hop como patrimônio cultural imaterial do Distrito Federal é dizer para a sociedade que ele é um movimento fundamental para vários jovens que fazem dele um estilo de vida.
O happer Nenzin MC, cresceu na Ceilândia e faz parte do movimento de hip hop do DF. Para ele, esse é um projeto muito bem pensado e elaborado, e uma iniciativa que dá visibilidade para os jovens negros e periféricos principalmente. “O mercado cultural do hip hop abrange muitas oportunidades de emprego de forma direta e indireta. Acho que isso é uma valorização muito importante que vai abrir novos polos de emprego para essa nova forma de trabalho”, comenta. Para ele, ter o hip hop como patrimônio imaterial do DF, vai contribuir para a economia criativa da capital e regiões do entorno, o que vai resultar na geração de emprego, renda, produção de shows e surgimento de novos artistas.
Nenzin considera que o hip hop abre novos estilos de vida para as pessoas, abre novos caminhos que a pessoas não conseguiriam viver sem o hip hop. “E o hip hop me escolheu para poder fazer parte desse movimento e através dele, conquistei tudo que eu tenho hoje”, salienta. Ele também destaca as pessoas que ele conhece e respeita, que já admirava desde que era criança, hoje são amigas pessoais, através do hip hop. “Virei amigo dos meus maiores ídolos. Eu escutava muito Tribo da Periferia, Japão Viela 17 e outros”, cita. E hoje, para o artista e ativista comunitário, conviver com essas pessoas e ter admiração e respeito delas, demonstra que o hip hop vai de geração para geração e forma seres humanos cada vez melhores, através das músicas. “A gente aprende bastante e vê a nossa realidade nas letras. O fator mais forte é esse, a identificação com a música”.
Nenzin está atualmente com um projeto para formação de novos MCs, chamado A Arte de RImar. E além disso, ele tem organizado algumas batalhas de rimas de convidados em eventos de grande porte. No mês de julho vai ter batalha no Moto Week. O artista está com um single para sair no final de julho, mas ainda segue promovendo o último single lançado, chamado Quem é Cria Não Se Ilude (QECNSI).