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Política & Poder

Votos da esquerda em Curitiba e desconstrução de rival respaldaram vitória de Pimentel

Ao longo da campanha do segundo turno, Bolsonaro não fez novas declarações públicas sobre as eleições em Curitiba nem apareceu pela cidade

Redação Jornal de Brasília

30/10/2024 10h04

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Foto: Eduardo Pimentel/Arquivo Pessoal

CATARINA SCORTECCI
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS)

Representante da direita tradicional em Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD), prefeito eleito da cidade no domingo (27), teve a ajuda do eleitorado da esquerda para vencer no segundo turno contra uma candidata ligada à chamada direita radical, Cristina Graeml (PMB).

Assim como ocorreu em outras capitais brasileiras, o eleitorado curitibano mais identificado com a esquerda acabou sem representantes no segundo turno, e parte deste grupo optou pelo candidato que considerava “menos pior”.

Na capital do Paraná, embora o PSD tenha feito uma aliança com o PL na tentativa de assegurar o bolsonarismo na chapa, Pimentel foi para o segundo turno com uma candidata que segue à risca a cartilha dos apoiadores do ex-presidente e até contou com um aceno informal do próprio Jair Bolsonaro na véspera do primeiro turno.

Em um vídeo divulgado por Cristina, o ex-mandatário apareceu dizendo que ele não podia “abrir o voto”, mas que torcia pela candidata. Pimentel tem se esquivado sobre o assunto. “Foi uma atitude pessoal dele”, resumiu o eleito, em entrevista à Folha na segunda-feira (28).

Questionado se o vídeo teve impacto na campanha, Pimentel disse que “a forma que ela utilizou deu um peso no primeiro turno”. “Mas, no segundo turno, a cidade realmente se interessou no debate sobre Curitiba. Sobre quem tinha conhecimento técnico para administrar a cidade. Foi aí que eu ganhei a eleição”, avalia.

Ao longo da campanha do segundo turno, Bolsonaro não fez novas declarações públicas sobre as eleições em Curitiba nem apareceu pela cidade. Mas aliados do ex-presidente publicaram depoimentos a favor de Cristina, como os deputados federais Alexandre Ramagem (RJ) e Gustavo Gayer (GO), ambos do PL.

Sem diálogo com o eleitorado da esquerda, Cristina manteve no segundo turno a postura de “candidata contra o sistema”, que não pertence à política tradicional e sem dinheiro de fundo eleitoral, em contraposição à ampla aliança partidária de Pimentel e às máquinas municipal e estadual, hoje nas mãos do prefeito Rafael Greca (PSD) e do governador Ratinho Junior (PSD), cabos eleitorais do candidato a prefeito.

O tamanho do eleitorado da esquerda, contudo, não foi desprezado pela campanha de Pimentel, ainda que o aceno a esse segmento tenha sido discreto. No segundo turno, ele repetiu que não queria “mudar a ideologia de ninguém” e que estava aberto ao diálogo, ao contrário da “candidata extremista”.

Juntos, os principais candidatos do campo da esquerda obtiveram mais de 20% dos votos no primeiro turno, quando Pimentel saiu com 33,5% e Cristina com 31,2%. O candidato do PSB, Luciano Ducci, apoiado pelo PDT e pelo PT, ficou em terceiro lugar na disputa.

Nas urnas do segundo turno, a diferença entre Pimentel e Cristina se ampliou em mais de 15 pontos. Ele fez 57,6% dos votos contra 42,4% da rival. Já a quantidade de votos nulos e abstenções não se alterou de forma significativa entre um turno e outro.

“Eu agradeço todo voto que eu recebi e sempre falei no segundo turno que eu queria o voto de todos. Porque eu não sou da extrema, eu sou moderado, eu sou curitibano raiz”, diz ele, em referência a um dos motes de Cristina, “a candidata da direita raiz”.

A campanha de Pimentel também conquistou votos ao focar na desconstrução da imagem da rival, com quem trocou intensos ataques ao longo da campanha. Repetindo a ideia de que “pauta ideológica não coloca comida na mesa nem remédio na prateleira da unidade de saúde”, Pimentel transferiu o debate para temas do cotidiano do eleitorado, como tarifa de ônibus, e explorou fragilidades do plano de governo apresentado pela adversária.

Em um dos trechos, o documento falava superficialmente sobre uma proposta de tarifa proporcional ao trajeto do usuário do transporte, o que abriu brecha para que a campanha de Pimentel apontasse que ela pretendia aumentar a passagem para o morador de bairros mais distantes do centro.

Em entrevistas que concedeu no primeiro turno, a própria candidata também sugeriu que quem se deslocava mais deveria pagar mais, como num Uber ou táxi, mas não chegou a dar detalhes sobre valores.

No segundo turno, com a repercussão negativa, ela passou a usar boa parte do seu programa eleitoral na televisão para esclarecer que a tarifa não iria aumentar e que ela apenas seria menor para quem se deslocasse menos.

Outro ponto de desgaste para a campanha de Cristina foi a escolha do seu candidato a vice-prefeito. A campanha de Pimentel revelou que Jairo Filho (PMB) é alvo de processos judiciais que indicam prática de pirâmide financeira entre seus negócios, o que ele nega.

O discurso da mudança proposto na campanha de Cristina somado à falta de experiência da candidata na administração pública -ela é formada em jornalismo e fez carreira como repórter de TV- também foi explorado por Pimentel.

A campanha do PSD apontou ao eleitor “os riscos de uma aventura” na cidade que é “exemplo para o Brasil”, flertando com a antiga ideia da “cidade modelo”, como propagandeada nas gestões entre os anos 1980 e 1990.

Na primeira entrevista à imprensa após a derrota nas urnas, Cristina afirmou que foi vítima do poder econômico e político representado pelo adversário. “Um sistema apodrecido que mostrou toda sua força contra uma mulher”, disse ela.

“A máquina é acachapante, mas não é intransponível. A gente tem muita força, enquanto cidadão, quando a gente se une. Neste sentido, a caminhada continua”, afirmou ela.

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