GABRIEL GAMA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A cidade de São Paulo receberá ao menos cinco grandes eventos empresariais próximos ao início da COP30, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. Uma das reuniões na capital paulista, inclusive, será simultânea à abertura da cúpula oficial em Belém, que acontecerá de 10 a 21 de novembro.
A Climate Action Innovation Zone, gerida pela organização britânica Climate Action, ocorre tradicionalmente nas cidades que sediam as COPs. A edição deste ano marca a primeira vez em que a programação é transferida para um local diferente.
O encontro está previsto para acontecer em solo paulistano de 6 a 8 de novembro, poucos dias antes do começo das negociações diplomáticas.
O site oficial do congresso afirma que São Paulo tem “vários hotéis de 4 e 5 estrelas, com acomodações e instalações adequadas para sediar grandes eventos de padrão internacional, sem os desafios logísticos e os preços exorbitantes de Belém”.
O público total esperado é de 3.000 a 4.000 pessoas. O Climate Implementation Summit, que integra a programação da Climate Action Innovation Zone, planeja reunir ao menos 500 executivos de todo o mundo.
Marina Cançado, fundadora da empresa Converge Capital e uma das organizadoras do encontro, afirma que a intenção é envolver lideranças que estarão na cidade, sendo que algumas seguirão para a COP30 e outras comparecerão apenas à programação local.
“Vimos que daria para aproveitar uma concentração grande do setor privado em São Paulo, e muitos CEOs não irão para Belém. Houve uma redução das comitivas das empresas que vão comparecer”, diz.
Segundo ela, há empresários que planejam estadias curtas na capital paraense -em alguns casos, a permanência será de apenas um dia.
Mario Abreu, vice-presidente de sustentabilidade do grupo Ferrero, por exemplo, participou da Semana do Clima de Nova York e de um evento pré-COP30 em São Paulo, mas diz não ter planos de viajar à capital paraense. “Não temos nada resolvido.”
São Paulo receberá outros quatro eventos pré-COP, além do Climate Action Innovation Zone: o Global Investors’ Symposium (9 e 10 de novembro), que coincide com o início da conferência oficial; o PRI in Person 2025 (4 a 6 de novembro), que se autodeclara uma porta de entrada dos investidores para a COP30; o Fórum de Negócios e Finanças da COP30 (3 a 5 de novembro), promovido pela Bloomberg Philanthropies; e o Summit Agenda SP+Verde (4 e 5 de novembro), realizado pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em parceria com a prefeitura da capital e a USP.
Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos, organização voltada a apoiar empresas em gestão sustentável, afirma que a programação prévia à cúpula é importante, mas nota um desvio de foco. Ele conta que não irá aos encontros em São Paulo porque já estará no Pará e planeja concentrar esforços nas duas semanas da conferência.
“A justificativa da questão da mobilidade e da logística não me parece suficiente para tirar [a cidade-sede] do centro do palco”, opina. “Vamos para Paris, Glasgow e Egito [que receberam edições anteriores], mas não vamos para Belém porque tem um problema logístico? Não é compreensível nem admissível que o setor empresarial se organize dessa forma às vésperas da COP.”
Nick Henry, CEO da Climate Action, afirma que a entidade também organizará eventos em Belém, de 10 a 14 de novembro, em um restaurante. A capacidade máxima será de cem pessoas por dia.
Marcelo Seraphim, diretor do PRI no Brasil, diz que o encontro da organização acontece em grandes centros financeiros, com edições passadas em Paris, São Francisco, Tóquio, Toronto e Barcelona. Dessa forma, Belém não seria adequada para receber o evento.
Já a organização World Climate Foundation (WCF) promoverá o World Climate Summit, considerado o maior evento do setor privado em Belém durante a COP30. A expectativa é reunir 3.000 pessoas em 13 e 14 de novembro no clube Assembleia Paraense.
“Quem não for para Belém vai perder a COP”, diz Flora Bitancourt, diretora da WCF no Brasil. Para ela, os eventos em São Paulo são complementares e não deveriam substituir a ida ao Pará.
A Câmara de Comércio Internacional (ICC, na sigla em inglês) representa 45 milhões de empresas em todo o mundo e estará presente na cúpula, mas ainda não confirmou sua delegação de empresários e executivos.
A crise de hospedagem devido aos preços abusivos de hotéis é a principal explicação para isso, diz Gabriella Dorlhiac, diretora-executiva da ICC Brasil. “Foi um fator que o setor privado certamente sentiu neste ano, mas vemos que não diminuiu o interesse ou a preocupação de participar do processo de alguma maneira”, avalia.
“Sabendo que vai ser um número mais limitado [de participantes] e que houve desafios adicionais, alguns procuraram maneiras diferentes de se engajar nesse processo”, diz, em referência aos eventos pré-COP em São Paulo.
Sandra Hanni, chefe de política climática da ICC global, afirma que há um impacto na capacidade do setor dos negócios para viajar a Belém e encontrar acomodações na cidade. “É algo que sinalizamos para o governo brasileiro e para a UNFCCC [a convenção da ONU para o clima] várias vezes”, afirma.
“Algumas empresas já decidiram não enviar representantes e outras ainda querem trazer seus CEOs. Vai ser um pouco desafiador, mas espero que muitos ainda sejam capazes de comparecer.”
Ricardo Mussa, presidente da Sustainable Business COP, iniciativa liderada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), afirma que a conferência deste ano tem a maior abertura ao setor privado, mas vê dificuldades em atrair representantes do alto escalão das empresas. “Talvez a gente não consiga trazer os CEOs, mas o segundo e o terceiro nível estão indo.”