VICTORIA DAMASCENO
KUALA LUMPUR (FOLHAPRESS)
Membros do governo brasileiro, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmaram que questões políticas ficarão de fora da mesa de negociação das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil.
A fala ocorreu na manhã desta segunda-feira (27) em entrevista coletiva com jornalistas em Kuala Lumpur, na Malásia.
“As questões políticas foram colocadas na presença dos dois presidentes da República, não na mesma negociação sobre negócios. Quem vai discutir política, nesse negócio do Brasil, é o presidente Trump e o presidente Lula. Eles vão negociar as taxações comerciais que foram impostas”, disse.
O presidente respondia a uma questão sobre a presença de assuntos políticos, como a tensão dos EUA com a Venezuela e a aplicação de medidas contra autoridades brasileiras, nas negociações com os americanos.
A fala ocorreu um dia após o encontro com Trump no país asiático, onde os líderes estão para participar como convidados da cúpula da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático, em português).
A reunião entre os dois, que durou cerca de 50 minutos, tinha como tema principal a aplicação das tarifas contra o Brasil pelo americano, mas também envolveu outras questões trazidas pelo brasileiro.
Lula se colocou à disposição para atuar como mediador da tensão dos EUA com a Venezuela e tratou das punições impostas pelos EUA a autoridades, como a Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e a restrição aplicada ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em Nova York, que teve sua circulação e a de sua família restringidas a cinco quarteirões na viagem que faria à cidade para participar de eventos da ONU (Organização das Nações Unidas).
O ex-presidente Jair Bolsonaro também foi citado, introduzido na conversa pelo petista. Segundo relato de Lula, Bolsonaro foi mencionado como passado da política brasileira.
“E eu ainda disse para ele: com três reuniões que você fizer comigo, você vai perceber que o Bolsonaro era nada, praticamente. Era porque eu não converso em tom pessoal, eu converso em tom político, de interesse do meu país”, afirmou.
Lula fez o pronunciamento após a primeira reunião da nova fase de negociações acordada entre os países no encontro bilateral.
Na manhã desta segunda, o chanceler Mauro Vieira e Márcio Rosa, secretário-executivo do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, se encontraram com representantes do comércio dos EUA e com o secretário do Tesouro, Scott Bessent.
Sobre a negociação, Rosa afirmou que os lados brasileiro e americano concordaram em deixar a política fora da mesa de negociação, e que ela “nunca poderia ter estado”.
Assuntos que ultrapassam as tarifas têm sido apresentadas pelos dois países. Do lado brasileiro, pesa a tensão na Venezuela e as medidas impostas às autoridades brasileiras, enquanto para os americanos a regulamentação das big techs é tema sensível, considerado pelo governo Trump como uma questão de liberdade de expressão.