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Política & Poder

PSD é cortejado por Lula, mas tende a Bolsonaro em pelo menos 12 estados

Recentemente, contudo, ele tem flertado com Ciro Gomes (PDT) e pode subir no palanque do pedetista

FolhaPress

25/05/2022 13h46

Foto: Reprodução

Marianna Holanda, Matheus Teixeira e Renato Machado
Brasília, DF

Enquanto o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e a cúpula do partido defendem a neutralidade na eleição presidencial, a divisão numérica dos estados mostra, por ora, uma leve vantagem de bolsonaristas sobre lulistas.

Levantamento feito pela Folha com parlamentares, candidatos a governador e dirigentes estaduais mostra que há uma tendência em ao menos 12 estados de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), contra 9 que preferem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo o partido, ao menos dez diretórios disseram a Kassab que preferem não apoiar nenhum candidato no primeiro turno. Entretanto, dirigentes de alguns desses estados afirmaram à Folha que a tendência é escolher um lado na disputa presidencial.

A tentativa inicial do PSD foi emplacar um candidato próprio na disputa, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG). O nome, porém, não prosperou, assim como outros que chegaram a ser sondados pelo partido, como os ex-governadores Eduardo Leite (PSDB-RS) e Paulo Hartung (sem partido-ES).

Com isso, Kassab passou a militar publicamente pela neutralidade, ao menos no primeiro turno, embora mantenha mais proximidade, no momento, com Lula.

Na maior parte dos estados, entretanto, a preferência majoritária de eleitores por Lula ou Bolsonaro pode fazer pesar a balança para um dos lados.

Ratinho Jr., por exemplo, é um dos governadores mais próximos ao governo federal e, no estado, o eleitorado tem perfil mais bolsonarista. Assim, ainda que não haja definição oficial, ele defende a recondução do atual presidente ao Planalto.

“Todos sabem da minha boa relação com o presidente Bolsonaro. O Paraná tem projetos importantes em parceria com o governo federal e é natural que, na ausência de um candidato do meu partido, o PSD, eu apoie a reeleição do presidente”, disse o governador.

A INCLINAÇÃO DO PSD, ESTADO A ESTADO
Tendência a apoiar, oficial ou extraoficialmente, Bolsonaro (12)
AP, DF, MT, RN, RS, SC, GO, ES, PR, RO, RR, PA

Tendência a apoiar, oficial ou extraoficialmente, Lula (9)
AM, MG, PB, PE, RJ, MS, BA, PI, SE

Estados que devem ficar neutros (5)
AC, AL, SP, TO, MA

Estado que apoiará Ciro Gomes, do PDT (1)
CE

No Rio Grande do Sul, a polarização é maior nos grandes centros, mas a base do PSD é essencialmente bolsonarista.

Reservadamente, há uma preocupação dos dirigentes em evitar, ao menos publicamente, uma posição definida para não perder pré-candidatos que tenham maior simpatia com o outro lado da polarização.

A presidente estadual Leticia Boll dise que, “neste primeiro momento, o PSD-RS declara neutralidade e, no futuro, de acordo com a apresentação oficial das candidaturas, se posicionará sobre a disputa presidencial”.

Em Santa Catarina, oficialmente o partido também estará neutro. Até porque o bolsonarismo já tem seu candidato a governador, o senador Jorginho Mello (PL). O PSD estará numa coligação própria, mas admite a possibilidade de duplo palanque do presidente no estado.

“Como a quase totalidade dos candidatos a deputado federal e estadual são anti-PT, automaticamente nosso palanque vai estar totalmente aberto para Bolsonaro”, disse o deputado estadual e presidente do PSD local, Milton Hobus.

Cenário parecido ocorre em Goiás, onde o partido lança Lissauer Vieira, o presidente da Assembleia Legislativa, ao cargo de senador na chapa de Ronaldo Caiado (União Brasil) à reeleição.

Ainda que o presidente do partido no estado, Vilmar Rocha, seja crítico a Bolsonaro, Lissauer e demais candidatos são mais alinhados ao chefe do Executivo.

Um dos casos mais emblemáticos se dá em Mato Grosso do Sul, onde o partido pode ser levado para o lado do presidente Lula por pura “sobrevivência”, muito embora tenha uma base bolsonarista maior.

Isso porque o presidente Jair Bolsonaro priorizou no estado a eleição ao senado da ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP), angariando em torno desse pleito grande parte de seus apoiadores no estado e deixando pouco espaço para alianças.

O PSD, por sua vez, tem como prioridade a eleição ao governo do estado do prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad. Por isso, figuras importantes falam oficialmente que devem adotar a neutralidade a nível nacional, mas nos bastidores buscam o que descrevem como a “centro-esquerda”.

Estado de Pacheco, Minas Gerais é o principal local em que, por ora, o PSD está mais inclinado a embarcar na campanha de Lula ainda no primeiro turno.

Há um acordo em curso para que o PT apoie o ex-prefeito Alexandre Kalil para o governo, indicando o vice. O partido de Lula deve abrir mão da disputa ao Senado para apoiar Alexandre Silveira, o nome do PSD na eleição.

A aliança PSD-PT caminha para ser concretizada apesar de a bancada de deputados federais da legenda ter um perfil mais à direita e cogitar esconder a vinculação ao PT em seus materiais de campanha.

No Rio de Janeiro, a principal figura do partido, o prefeito Eduardo Paes, já deixou claro sua preferência pelo ex-presidente.

Recentemente, contudo, ele tem flertado com Ciro Gomes (PDT) e pode subir no palanque do pedetista, uma vez que a legenda trabalhista fechou acordo para caminhar junto com o PSD na disputa estadual. Até mesmo porque o PT no estado está apoiando o candidato a governador do PSB, Marcelo Freixo.

Além de contar com a simpatia do estado fluminense, Ciro Gomes tem ainda o apoio declarado do PSD no Ceará, seu berço político.

O presidente estadual da legenda, Domingos Filho, foi vice-governador de Cid Gomes (PDT) entre 2011 e 2014 e trabalha para ocupar o mesmo posto na disputa deste ano na aliança que deve ser encabeçada pelo PDT.

“Nossa posição aqui é favorável a sair da polarização e apoiar o Ciro. Colocamos para o presidente Kassab que, ao nosso ver, a única alternativa de terceira via que tem voto para entrar na disputa de verdade é ele”, diz Domingos Filho.

O Maranhão talvez seja um dos principais símbolos da divisão do PSD entre Lula e Bolsonaro. O presidente estadual do partido e deputado federal, Edilázio Júnior, diz que a sigla terá candidato próprio a governador e que a militância poderá escolher o presidenciável de sua preferência.

“Na parte mais pujante do nosso estado, a região sul, onde o agronegócio é muito forte, a gente tem muitos pré-candidatos alinhados ao Bolsonaro. Em compensação, o resto do estado, que parte dele tem pior IDH do país, já é mais pró-Lula. Então, é bem dividido”.

RAIO-X DO PSD

Partido foi criado em 2011 pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, que liderou uma dissidência do DEM (hoje União Brasil)
Tem hoje 47 deputados federais, a quinta maior bancada da Câmara
Tem 12 senadores, dividindo com o o MDB o posto de maior bancada da Casa
Elegeu dois governadores em 2018 (PR e SE)
Foi o terceiro partido que mais prefeitos elegeu em 2020, 657
Terá direito a cerca de R$ 340 milhões do Fundo Eleitoral para distribuir a seus candidatos em outubro, a quinta maior fatia entre os partidos

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