A empresa Prevent Senior, de planos de saúde, ocultou mortes de pacientes que participaram de um estudo realizado para testar a eficácia da hidroxicloroquina associada à azitromicina contra a covid-19. A entidade está na mira da CPI da Pandemia, e o diretor-executivo Pedro Benedito Batista Júnior é esperado em sessão desta quinta-feira (16).
O estudo foi apoiado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e é até hoje citado por defensores do “tratamento precoce”, comprovadamente ineficaz contra a covid-19. O relatório consta em dossiê recebido pela CPI e obtido pela GloboNews.
No relatório, constam os nomes de todos os participantes do estudo. Nove deles morreram, mas a Prevent menciona apenas duas mortes. Um médico disse à GloboNews que a pesquisa foi manipulada para transmitir sensação de que a cloroquina seria eficaz contra o novo coronavírus. Segundo ele, o resultado já estava pronto muito antes da conclusão dos trabalhos.
A pesquisa começou a ser feita no dia 25 de março de 2020. Em mensagens, o diretor da Prevent Fernando Oikawa orienta os cobaias do estudo a não avisar os pacientes e familiares sobre a medicação. Dos nove pacientes que morreram, seis estavam no grupo que tomou hidroxicloroquina e azitromicina; dois não tomaram os remédios; e o último não se sabe.
Em um pré-print (espécie de primeira versão da pesquisa), o coordenador do estudo, o cardiologista Rodrigo Esper, cita duas mortes e fala que foram provocadas por outras doenças, sem relação com o coronavírus ou com as medicações. A idade das pessoas que participaram do estudo varia entre 62 e 85 anos.
Em 18 de abril, Bolsonaro usou o Twitter para falar sobre o estudo. O presidente citou a Prevent Senior e disse que cinco pessoas que não tomaram cloroquina vieram a óbito, e que quem tomou o medicamento sobreviveu à covid.
Em nota, a empresa informou que “sempre atuou dentro dos parâmetros éticos e legais e, sobretudo, com muito respeito aos beneficiários”.