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Política & Poder

Políticos conservadores encampam discurso contra Carnaval em 2022

Desde o começo do mandato, Jair Bolsonaro e seus aliados tinham uma postura anti-Carnaval, em um aceno ao eleitorado conservador

FolhaPress

25/11/2021 9h47

Foto: Prefeitura do Estado de São Paulo

Artur Rodrigues
São Paulo, SP

Políticos de direita e personalidades conservadoras têm encampado uma onda de críticas à realização do Carnaval em 2022 e cobram o cancelamento do evento.

Desde o começo do mandato, Jair Bolsonaro (sem partido) e seus aliados tinham uma postura anti-Carnaval, em um aceno ao eleitorado conservador e à agenda dos costumes. O evento ainda costuma ser palco de críticas ao presidente e é muitas vezes associado à esquerda.

Agora, porém, muitos políticos exploram o que veem como uma contradição entre a realização da celebração e a bandeira pelas medidas de isolamento social –criticadas por Bolsonaro, que se colocou em oposição aos governadores e prefeitos.

O argumento que não se restringe apenas ao círculo mais fiel do bolsonarismo, e inclui também conservadores com postura mais independente.

Apesar de a pandemia do novo coronavírus apresentar um cenário melhor que o de meses anteriores, graças ao avanço da vacinação, pelo menos 58 municípios paulistas já anunciaram o cancelamento dos festejos carnavalescos.

Especialistas divergem sobre o tema. Para alguns, cancelar a celebração do Carnaval é uma medida sensata para evitar possíveis curvas invisíveis de contágio e o surgimento de variantes do coronavírus. No entanto, há também quem defenda que manter os festejos é possível, desde que seguidos protocolos, de forma rígida, como a exibição de comprovantes de vacinação e o uso de máscaras.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, um dos principais destinos carnavalescos do país, o evento não foi cancelado até o momento.

Na Câmara Municipal, uma das maiores críticas ao evento é a vereadora bolsonarista Sonaira Fernandes (Republicanos).

“Proibiram missas e cultos, fecharam igrejas, paralisaram todas as atividades religiosas –tudo em nome da ‘ciência’ e contra a pandemia. Mas agora vão liberar o carnaval. Podem fingir, mas todos sabemos que o ‘deus’ dessa turma é o dinheiro”, escreveu ela em sua rede social.

A vereadora já havia se posicionado anteriormente contra o financiamento público da festa e agora diz que a prioridade deve ser a saúde pública.

O discurso dela está alinhado ao discurso da família Bolsonaro, que sempre se colocou contrariamente às medidas de isolamento social durante a pandemia. O vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos), por exemplo, recentemente compartilhou post com críticas à cantora Ivete Sangalo, que cita notícia sobre a presença da artista em festa privada de Carnaval.

“‘Fique em casa que a economia a gente vê depois’… Opa, não, péra! Acho que tá acabando meu acarajé, vamo pro trio no carnaval! Depois a gente culpa o Bozo que tá de boas! E você achando que algum dia foi pela saúde!”, escreveu o filho do presidente.

A atriz Regina Duarte, ex-titular da Secretaria Especial da Cultura de Bolsonaro, compartilhou uma mensagem crítica ao Carnaval que citava o fechamento de escolas. “Isso sem falar nos teatros , cinemas , parques, botecos, sextadas … Isolados naquele ‘fique em casa’ maligno, privados da maior arma de defesa da nossa imunidade, ou seja, o sol, a nossa vitamina D gratuita … complexo, né ? E a economia , agora, quem assume?”.

Dona de postura ora crítica, ora de apoio a Bolsonaro, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) tem um discurso menos alinhado ao do presidente, mas também é contra ao Carnaval no ano que vem.

Ela diz ter sido a favor das medidas de isolamento no começo da pandemia. “Em março de 2020, vários colegas aqui são testemunhas de que eu fui a primeira deputada a exigir do governador medidas, medidas de restrição. Fui favorável ao primeiro fechado, porque era um inimigo desconhecido”, disse à reportagem. “Nunca tive uma atitude negacionista”.

Ela afirmou que agora é preciso ter responsabilidade e que teme que o Carnaval possa espalhar a doença. “Estamos conseguindo controlar, mas em outros países os números estão subindo. Eu conversei com vários médicos, de várias linhas no âmbito da ciência, linhas ideológicas, inclusive, alguns são favoráveis, outros não. Mas o que importa é o seguinte: é necessário? É necessário aumentar os riscos? Eu entendo que não”, disse.

Embora seja do partido do prefeito, o vereador Delegado Palumbo (MDB) é bastante crítico a Ricardo Nunes. Nesse caso, não é diferente.

“Eu acho que está reinando a hipocrisia no estado de São Paulo, tanto na prefeitura quanto no governo. “Fecharam pequeno comércio que não entravam 20 pessoas por dia, mesmo com distanciamento, álcool em gel, medição de temperatura. E agora querem liberar o Carnaval”, afirmou à reportagem.

Palumbo afirmou ser impossível fiscalizar qualquer espécie de protocolo de segurança contra o coronavírus, incluindo pedir carteirinha de vacinação. “Quero saber como a prefeitura vai fiscalizar bloquinho de Carnaval?”.

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