Lucas Neiva e Vanessa Lippelt
Na tarde dessa quarta-feira (17), os ativistas do movimento “300 do Brasil” Renan Morais de Souza e Geovani Furtado Rodrigues participaram um protesto em frente à Penitenciária Feminina do Distrito Federal. Durante o ato, atiraram fogos de artifício em direção ao presídio, resultando em uma abordagem dos policiais penais que os prenderam na 20ª Delegacia de Polícia (20ª DP) da Polícia Civil (PCDF), no Gama.
De acordo com o delegado-adjunto da 20ª DP Rodney Faria, os dois ativistas foram autuados pela contravenção de trabalho alheio, previsto no Art. 42 da Lei das Contravenções Penais. Giovani foi liberado ao assinar termo circunstanciado. Renan, por outro lado, foi encaminhado à Divisão de Controle e Custódia de Presos.
“Quando eles chegaram aqui, descobri que havia um mandado de prisão em aberto, e foi dado cumprimento”, conta Rodney Faria. O mandado de prisão preventiva de cinco dias foi expedido pelo Supremo Tribunal Federal em desfavor de Renan no último dia 11, pouco antes da prisão de Sara Giromini.
Giovani Furtado Rodrigues, residente de Porto Alegre, é namorado de Sara Giromini (Sara Winter), líder do “300 do Brasil”. O relacionamento tornou-se público cerca de seis dias atrás. Já o carioca Renan Morais de Souza, auto-identificado como psicólogo e palestrante de desenvolvimento pessoal, é membro ativo do movimento e um dos ativistas investigados pela organização da manifestação anti-democrática do dia 19 de abril, em que manifestantes exigiam a volta do regime militar e do Ato Institucional nº5.
Prisão e transferência de Sara Giromini
Na última segunda-feira (15), Sara Giromini foi presa junto a outros cinco membros do “300 do Brasil”. O mandado de prisão, expedido pelo STF, foi à pedido do Procurador Geral da República Augusto Aras após uma série de ameaças da ativista ao ministro do STF Alexandre de Moraes, que investiga as manifestações do dia 19 de abril e também é o responsável pelo inquérito das Fake News, outra investigação sobre Sara Winter.

Sara ficou na carceragem da Superintendência da Polícia Federal até ontem, quando a justiça determinou sua transferência para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal. Renan e Giovani convocaram um ato contra a transferência. “Transferiram a Sara do nada. Uma situação que coloca a vida dela em risco”, afirma Renan. O movimento “300 do Brasil” considera a transferência como um risco à vida da ativista devido a rixas entre ela e facções de dentro do presídio. Fontes dentro do presídio afirmam que ela está em uma cela individual, e seu banho de sol é realizado em um pátio separado das demais prisioneiras.
Quem é Sara Winter
Nascida em 1992 na cidade de São Carlos, no interior de São Paulo, Sara Giromini é uma das ativista de grande destaque entre movimentos de extrema-direita e líder do movimento “300 do Brasil”, grupo de militância bolsonarista que confessou manter armas em suas instalações no dia 13 de maio.
O codenome Sara Winter foi adotado em 2012, quando se mudou para Kyiv, capital da Ucrânia, para integrar uma célula do movimento feminista FEMEN. Em 2013, foi expulsa do movimento. Escutado pelo Jornal de Brasília, seu irmão Diego Giromini afirma que a expulsão não foi apenas por problemas com a liderança do movimento, mas também por roubo. “Ela foi expulsa do Femen porque ela roubou R$ 79 mil”.
Winter permaneceu militando por causas feministas até 2014, quando passou a defender pautas conservadoras e se aproximou do até então deputado federal Jair Messias Bolsonaro. Seu irmão chega a questionar se em algum momento ela sequer chegou a acreditar nas pautas que defendia. “Desde pequena Sara quer ter fama, dinheiro e poder. Ela não tem ideologia nenhuma”, afirma.
Seu irmão ainda afirma que Sara é simpática ao nazismo, e tenta estudar sobre o assunto desde a adolescência. “A Sara é nazista, sim. Ela tinha um grupo de neonazistas aqui na cidade”. A ativista possui no peito uma tatuagem contendo a Cruz de Ferro, condecoração militar alemã frequentemente associada ao Terceiro Reich.
Sara Winter foi uma das lideranças que promoveram a campanha presidencial de Jair Bolsonaro, e em maio fundou o movimento “300 do Brasil”. Acampados por mais de um mês na Esplanada dos Ministérios, a proposta do movimento era criar uma força militante bolsonarista. Sara chegou a afirmar que, durante sua estadia em Kyiv, recebeu treinamento em militância pela KGB, agência de inteligência soviética extinta em 1991.
No dia 13 de maio, Sara confessou manter armas no acampamento do grupo, resultando na sua primeira investigação judicial, em que o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios solicitou o desmantelamento do acampamento, afirmando se tratar de uma atividade paramilitar. O acampamento só foi desmontado um mês depois, no último sábado (13).