Menu
Política & Poder

Órgão fiscal do Ministério Público pode ter só homens de novo em sua composição

Não houve mulheres que tenham exercido mandatos no conselho por indicação de Ministérios Públicos estaduais ou Senado, segundo levantamento

FolhaPress

26/01/2022 9h19

Foto: Divulgação

Marcelo Rocha
Brasília, DF

O CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) pode voltar a ter somente homens na composição. O órgão tem hoje 11 integrantes, todos do sexo masculino. Restam 3 cadeiras a serem preenchidas para o biênio 2021-2023.

As vagas remanescentes aguardam indicações do STF (Supremo Tribunal Federal), com direito a um assento, e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), com dois.

Não há garantia de que as sugestões vão priorizar a presença feminina no CNMP, o que levará a uma reedição dos biênios 2013-2015 e 2015-2017, quando houve somente conselheiros.

Nos últimos dois anos, duas advogadas atuaram como conselheiras, Fernanda Marinela e Sandra Krieger, ambas representando a OAB. Krieger busca a recondução.

O CNMP cuida da fiscalização administrativa, financeira e disciplinar do Ministério Público e de seus integrantes.
Conselheiras e conselheiros são indicados por diferentes ramos do Ministério Público da União (Federal, Militar, do Trabalho e do Distrito Federal e Territórios) e pelos Ministérios Públicos estaduais. Há também representantes de STJ (Superior Tribunal de Justiça), Senado e Câmara, além de STF e OAB.

As indicações são submetidas aos senadores, encarregados de sabatinar os postulantes e referendar os nomes em votação no plenário.

Desde 2005, ano de instalação do CNMP, as mulheres exerceram 13 de um total de 112 mandatos, ocupados por 9 conselheiras. Existe a possibilidade de uma recondução.

Não houve mulheres que tenham exercido mandatos no conselho por indicação de Ministérios Públicos estaduais, STJ, Senado e Câmara, segundo um levantamento do órgão.

Uma ex-conselheira é Raquel Dodge. Por comandar a PGR (Procuradoria-Geral da República), ela presidiu também o CNMP. Foi a única mulher na bancada de 2017 a 2019.

À Folha de S.Paulo a ex-procuradora-geral disse que os demais conselheiros, todos homens, já haviam sido indicados quando ela assumiu a função. Decidiu, então, nomear mulheres para auxiliá-la em cargos de gestão, incluindo a Secretaria-Geral e a Secretaria de Direitos Humanos e Defesa Coletiva.

“Guiei-me pelo critério da paridade para nomear os secretários dos órgãos de gestão. Entendi que era necessário honrar a igualdade democrática na primeira vez que a presidência do CNMP e da PGR eram ocupadas por uma mulher no Brasil”, afirmou.

A integrante da PGR disse que práticas institucionais devem assegurar igualdade e abrir “oportunidade para que as mulheres também ocupem posições de gestão e de poder em nossas instituições de Justiça e deem uma contribuição que reflita suas próprias visões de mundo”.

“A busca por paridade e por alternância na composição do CNMP é importante para dar sustentabilidade à prática de igualdade entre homens e mulheres em nossa democracia.”

No ano passado, o STF fez a indicação de um homem para a vaga reservada ao tribunal. O juiz federal Paulo Marcos de Farias, porém, não obteve apoio suficiente no Senado. Recebeu apenas 36 dos 41 votos necessários em votação no plenário.

No dia 10 de janeiro, a corte lançou um edital abrindo um novo processo para a escolha de outro nome. As inscrições se encerraram na semana passada.

No caso da OAB, Sandra Krieger é apontada como a única mulher com chances de estar na composição do CNMP. Ela integrou o órgão no biênio 2019-2021 e tenta voltar para mais dois anos.

A advogada, que é de Santa Catarina, tem o apoio de atuais conselheiros e de setores do Ministério Público, mas negociações em andamento nos bastidores da OAB podem inviabilizar seu nome.

A entidade promoverá eleição no dia 31 deste mês para o comando nacional. Felipe Santa Cruz, o atual presidente, e Beto Simonetti, seu provável sucessor, apostam em um rodízio das vagas do CNMP entre outras seccionais. Santa Cruz apoia a chapa única encabeçada por Simonetti.

A escolha dos nomes a serem indicados ao CNMP ocorreria na sexta-feira (28). A OAB afirmou à Folha que a decisão foi adiada e nova data ainda será definida.

De acordo com a entidade, a decisão decorreu em razão do atual momento da pandemia da Covid-19, com a curva crescente de contágio, e da necessidade de cuidados e prevenção.

Sandra Krieger e Fernanda Marinela foram as únicas conselheiras da cota da OAB na história do CNMP. Em setembro passado, ainda conselheira, Krieger apresentou proposta de resolução com vistas a instituir uma política nacional de incentivo à participação feminina no Ministério Público.

A sugestão prevê diretrizes e mecanismos para estimular a presença de mulheres nos cargos de chefia e assessoramento, em bancas de concurso e como expositoras em eventos institucionais.

“As políticas institucionais que visam à promoção da participação feminina são essenciais na busca por transformação da cultura das pessoas e das organizações”, disse à época.

A advogada presidiu a Comissão da Saúde do CNMP nos últimos dois anos, período marcado por iniciativas para oferecer suporte aos integrantes do Ministério Público que atuam na área.

A comissão atuou para viabilizar um acordo de cooperação técnica assinado entre o conselho e o Ministério da Saúde voltado ao intercâmbio de informações e à implementação de ações destinadas ao desenvolvimento de políticas públicas de saúde.

Desenvolveu a ferramenta Destcovid, que reúne as destinações de recursos realizadas pelos ramos e unidades do Ministério Público para o enfrentamento da pandemia de Covid-19.

Ela participou de reuniões e decisões do Giac (Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19), criado no âmbito da PGR para acompanhamento das medidas de enfrentamento do coronavírus.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado