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Política & Poder

Motta diz que funcionárias fantasmas são história superada, nega ilícito, mas evita explicações

No café com jornalistas, foi permitida apenas uma pergunta por veículo, sem possibilidade de réplica. Desde julho, a Folha tenta explicações do presidente da Câmara, que vinha silenciando sobre o caso.

Redação Jornal de Brasília

19/12/2025 19h58

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Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados

RAPHAEL DI CUNTO E CAROLINA LINHARE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Após cinco meses evitando explicar as funcionárias fantasmas de seu gabinete e a procuração que uma auxiliar sua tinha para movimentar as contas bancárias de outros assessores, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou nesta sexta-feira (19) que o TCU (Tribunal de Contas da União) arquivou as investigações e que refuta “veemente qualquer acusação sobre qualquer ilícito”.


“Acho que esse é um assunto superado, o próprio Tribunal de Contas da União já se manifestou sobre o assunto”, disse. “Na hora em que eu tomei conhecimento, todas as providências foram tomadas. De afastamento dos seguidores, de apuração. Então isso demonstra a minha boa intenção de poder trabalhar da maneira correta”, afirmou, em entrevista a jornalistas.


A declaração de Motta sobre as funcionárias foi a primeira desde que a Folha revelou, em julho, que ele empregava em seu gabinete três funcionárias com rotinas incompatíveis com as funções que deveriam exercer no Legislativo: uma fisioterapeuta, uma estudante de medicina e a assistente social de uma prefeitura na Paraíba. A Câmara proíbe o acúmulo de empregos públicos.


O presidente da Câmara defendeu que a história está encerrada, mas não explicou como suas assessoras acumulavam outros empregos fora da Câmara e nem por que sua chefe de gabinete tinha procuração para movimentar a conta bancária de dez funcionários dele.


“A chefe de gabinete está à disposição dos órgãos para prestar esclarecimento de tudo aquilo que for de interesse, tanto da imprensa como dos órgãos de controle. Nós não temos nada a esconder, até porque eu rechacei de maneira muito veemente qualquer acusação sobre qualquer ilícito que eu tenha cometido, porque eu não fiz”, disse o deputado.


No café com jornalistas, foi permitida apenas uma pergunta por veículo, sem possibilidade de réplica. Desde julho, a Folha tenta explicações do presidente da Câmara, que vinha silenciando sobre o caso.


Motta mandou demitir duas das três servidoras, a fisioterapeuta Gabriela Pagidis e a assistente social Monique Magno, após ser procurado pela Folha em 8 de julho para explicar o caso, e afirmou que “preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações de seus funcionários”.


Ele manteve contratada, no entanto, Louise Lacerda, filha de um ex-vereador aliado dele, mesmo após a reportagem revelar que ela estudava medicina em tempo integral enquanto era contratada pelo gabinete e que chegou a morar em outro estado durante este período.


Louise só foi demitida quando a Folha revelou, três meses depois, que ela se formou e passou a acumular o emprego no gabinete com outros dois de médica nas prefeituras de João Pessoa e Alhandra (PB), cidade a 40 km da capital.


A Folha de S.Paulo também revelou que Motta mantém no seu gabinete o caseiro da fazenda que possui em Serraria (PB), cidade de 6.000 habitantes a 225 km de Patos (PB), sua base eleitoral. Ary Gustavo Soares é um dos dez funcionários do escritório do parlamentar que assinaram documentos para autorizar a chefe de gabinete dele a abrir contas bancárias, movimentar dinheiro, emitir cartões e sacar os salários em nome deles. As procurações foram reveladas pelo portal Metrópoles. Ele segue contratado.


A Primeira Câmara do TCU rejeitou em novembro representação Motta pela contratação de funcionárias fantasmas por unanimidade, sem solicitar informações ao parlamentar, com o argumento de que o Ministério Público de Contas não apresentou indícios suficientes.


Na representação, o Ministério Público defendeu que “tais condutas geram prejuízo ao erário e comprometem a credibilidade das instituições públicas” e solicitou a investigação do parlamentar, apuração do dano ao erário e devolução dos valores indevidamente recebidos em salários.


O ministro Jonathan de Jesus, no entanto, afirmou que a representação foi fundamentada em matérias jornalísticas “sem, contudo, vir acompanhada de elementos probatórios mínimos ou indícios suficientes concernentes aos fatos alegados” e que “não havia indícios concretos de irregularidade ou ilegalidade”.


Ele ignorou a sugestão da área técnica, que defendeu que fossem solicitadas informações complementares ao presidente da Câmara sobre a denúncia. Jonathan é ex-deputado federal e foi companheiro de Motta no Republicanos antes de ser eleito pela Câmara para o cargo de ministro do TCU.

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