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Política & Poder

Mais próximo de vereadores, Nunes terá de reequilibrar forças políticas de SP

Terá de se equilibrar entre diversas forças políticas que estavam relativamente contidas antes da morte de Bruno Covas

Redação Jornal de Brasília

17/05/2021 20h20

Ricardo Nunes

Artur Rodrigues
São Paulo, SP

O novo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que é ex-vereador, deve ter uma relação mais próxima com a Câmara Municipal. Por outro lado, terá de se equilibrar entre diversas forças políticas que estavam relativamente contidas antes da morte de Bruno Covas (PSDB), ocorrida no domingo (16) em decorrência de um câncer. Covas tinha um peso político que o blindava de pressões às quais Nunes pode estar sujeito.

Com a morte do tucano, Nunes precisará se equilibrar entre três grandes forças: diferentes alas dentro do PSDB, o influente presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (DEM), e seu próprio partido, o MDB, que está insatisfeito com o pouco espaço que tem hoje. O prefeito tem repetido que não mudará nada na gestão. O mundo político, porém, acha difícil que ele não dê um pouco mais de espaço ao MDB e possa desagradar o grupo político de Covas.
No entanto, mudanças maiores são mais prováveis a partir de 2022, ano eleitoral, quando um eventual afastamento entre MDB e PSDB pode chacoalhar também a política municipal.

Na Câmara, Nunes contará com uma base confortável arregimentada por Covas e também terá maior proximidade com os vereadores. Ele atuou como parlamentar ao lado de grande parte da atual composição da Câmara, onde tem fama de ser conciliador. Além disso, foi base de apoio tanto dos governos tucanos de João Doria (PSDB) e Covas quanto da gestão de Fernando Haddad (PT).

Junto com o PSDB, o PT é o partido com mais vereadores na Câmara –oito no total. Historicamente, petistas veem um elitismo no PSDB, com preocupação social apenas no discurso e foco nas regiões centrais. Os que conhecem Nunes acham que ele pode ter um perfil diferente do dos tucanos. “Ele [Nunes] tem uma vantagem de ser uma pessoa que conhece muito a periferia. Se isso se refletir nas ações do governo, será positivo”, diz o vereador Antonio Donato (PT), cujo reduto eleitoral é no extremo sul, área de onde vem Nunes.

Já o segundo maior partido de oposição, o PSOL, com seis vereadores, vê o nome de Nunes com maior apreensão. Durante as eleições municipais, a presença de Nunes na chapa de Covas, que disputou o pleito contra Guilherme Boulos (PSOL), serviu de munição ao partido.

“O que a gente sabe sobre o Nunes é sobre o período dele como vereador. Nos preocupam bastante as bandeiras que ele levantou na Câmara”, diz a líder do PSOL na Câmara, Luana Alves. Ela se refere, entre outros assuntos, ao engajamento que o vereador teve no passado contra discussões sobre diversidade sexual nas escolas. Luana Alves também afirma que são necessários esclarecimentos sobre a proximidade de Nunes e entidades gestoras de creches, assunto que foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo em diversas reportagens.

Apesar da preocupação da esquerda, muitos vereadores compartilham a ideia de que, mesmo que quisesse, Nunes não conseguiria emplacar a chamada agenda de costumes ligada a grupos conservadores. O presidente da Câmara é avesso a pautas polêmicas que possam tirar o foco da Câmara de projetos prioritários –neste ano, a revisão do Plano Diretor, que regula o crescimento da cidade, é o principal deles.

Hoje, Leite é bastante próximo de Nunes, e na Câmara acredita-se que ele pode ganhar ainda mais poder na gestão municipal, onde já mantém diversos indicados políticos em postos-chave. Milton Leite afirma que não vê espaço para rachaduras no bloco político que elegeu Covas. “Veja bem, nunca houve preocupação em repartir espaço ou dividir poder, nem com o PSDB nem com o MDB. Quem imagina briga a partir de agora vai se dar mal. Conduziremos pacificamente os trabalhos, até porque o MDB já fazia parte da ampla aliança que elegeu o prefeito Bruno”, diz.

Ele acrescenta que, em memória a Covas, não se deve falar em mudanças nos rumos da cidade e que Nunes, por ser ex-vereador, sabe dialogar para construir as pautas para a cidade. Parte da base e veterano na Câmara, o vereador Adilson Amadeu (DEM), em seu quinto mandato, também diz acreditar que Nunes seguirá as diretrizes apontadas por Bruno Covas como tem dito publicamente.

Embora o novo prefeito tenha menos tempo de política que Covas, Amadeu acredita que ele será bem-sucedido porque é aplicado. “Fiz CPI com ele. Ele é estudioso, faz as coisas analisando bem. Não faz requerimento a esmo”, diz.
Nunes está afinado com o grupo de Covas, fruto da postura discreta que adotou enquanto vice, mas sofreu pressões de sua legenda.

No MDB, o prefeito é próximo do ex-presidente Michel Temer, do presidente do MDB, o deputado federal Baleia Rossi e do deputado estadual Jorge Caruso. Hoje, o partido não tem nenhum secretário e tem pouco espaço na gestão, com apenas alguns cargos de indicação do próprio Nunes. O partido, no entanto, tem tamanho acanhado na cidade: na Câmara, tem apenas três vereadores, o que ameniza o tamanho da pressão. O governador João Doria (PSDB) se aproximou da legenda pensando em seu projeto presidencial, e uma costura que envolveu a escolha de Nunes como vice de Covas. No entanto, não se sabe se o MDB estará no palanque do tucano em 2022.

É preciso considerar ainda que Covas tinha seu próprio grupo político, que hoje está no comando das principais pastas da prefeitura. Sem ele, essa parte do tucanato fica orfã, enquanto o grupo de Doria ganha força. Nunes terá que manejar interesses de ambos os grupos.

As informações são da FolhaPress

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