Menu
Política & Poder

Lula sobe tom, critica protecionismo e propõe comércio sem dólar às vésperas de reunião com Trump

Lula afirmou que os países não podem ser “dependentes de ninguém”

Redação Jornal de Brasília

23/10/2025 5h55

lula

Foto: Ricardo Stuckert/ PR

Enviado especial a Jacarta – Às vésperas de uma reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, planejada para ocorrer na Malásia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a subir o tom nesta quinta-feira, dia 23, com críticas ao protecionismo, a uma nova Guerra Fria e propôs comércio em moeda nacional com a Indonésia, uma alternativa ao dólar americano. Lula afirmou que os países não podem ser “dependentes de ninguém”.

“Indonésia e Brasil não querem uma segunda Guerra Fria. Nós queremos comércio livre. E, mais ainda, tanto a Indonésia quanto o Brasil têm interesse em discutir a possibilidade de comercialização entre nós dois ser com as nossas moedas”, disse o petista. “Essa é uma coisa que nós precisamos mudar. O Século XXI exige que tenhamos a coragem que não tivemos no Século XX. Exige que a gente mude alguma forma de agirmos comercialmente para não ficarmos dependentes de ninguém.”

A mensagem é uma crítica direta às ações do presidente americano, que deflagrou uma guerra comercial e tarifária ao voltar ao poder neste ano. Em abril, Trump anunciou um tarifaço recíproco global, que atingiu com 10% as exportações brasileiras. Em julho, aplicou uma sobretaxa de 40%, alegando razões políticas e emergência nacional.

O presidente americano já reclamou publicamente de governos que pretendem avançar na pauta da “desdolarização”, como o uso de moedas nacionais ou até a criação de uma moeda alternativa para comércio exterior no Brics, grupo do qual Brasil e Indonésia fazem parte. Trump chegou a ameaçar impor uma taxa de 100% aos países do Brics caso os planos prosseguissem. A pauta seguiu, mas com menos ênfase nas reuniões deste ano, presididas pelo governo brasileiro. Segundo integrantes do Palácio do Planalto, o assunto não foi debatido nas prévias da próxima reunião entre os presidentes.

No próximo domingo, dia 26, Lula e Trump planejam se sentar para discutir pela primeira vez presencialmente a maior crise diplomática entre os países, em dois séculos. O encontro deve ocorrer à tarde, em Kuala Lumpur, onde ambos participam como convidados da 47ª Cúpula de Líderes da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). O encontro, ainda não oficializado, vem sendo preparado pelas diplomacias dos dois países.

Em Jacarta, Lula fez um pronunciamento público no Palácio Presidencial Merdeka, em Jacarta, ao lado do presidente Prabowo Subianto, depois de almoço com o anfitrião e reuniões privada e ampliada, com equipes ministeriais e empresários.

O presidente citou a simbologia da Indonésia, que em 1955 abrigou a Conferência de Bandung, quando países asiáticos e africanos lançaram as bases de uma nova inserção internacional, baseada na autodeterminação e na não interferência externa, em um movimento pós-colonial.

A viagem do petista à Ásia, a terceira no ano, tem como pano de fundo o tarifaço e uma busca de parceiros comerciais alternativos e buscar equilíbrio para evitar excesso de dependência comercial, seja dos EUA, seja da China. A estratégia traçada no Palácio do Planalto busca reforçar a posição brasileira de equidistância e não alinhamento automático a potências estrangeiras.

“O que está acontecendo nesse momento na política e na economia demonstra que, cada vez mais, nós precisamos discutir as similaridades que existem entre os nossos dois países para que a gente possa, cada vez mais, fazer crescer a nossa relação comercial, a nossa relação científica e tecnológica, a nossa relação cultural, a nossa relação política, para que, cada vez mais, a gente seja menos dependente”, afirmou Lula.

“Nós queremos multilateralismo e não unilateralismo. Nós queremos democracia comercial e não protecionismo”, afirmou o brasileiro. “No atual cenário de acirramento do protecionismo, nossos países têm plenas condições de mostrar ao mundo a capacidade de defender interesses econômicos com diálogo e respeito mútuo.”

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado