Em seu depoimento à Polícia Federal, no Aeroporto de Congonhas, no dia 4 – quando foi conduzido coercitivamente na Operação Aletheia -, o ex-presidente Lula fez “sinal negativo com a cabeça” toda vez que questionado sobre o empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões que seu amigo José Carlos Bumlai tomou em outubro de 2004 junto ao Banco Schahin, valor destinado ao PT.
O delegado da PF que conduziu o depoimento insistiu sobre as relações do petista com Bumlai, que está preso desde 24 de novembro.
A PF suspeita que, em troca do empréstimo, a Schahin foi beneficiada no governo Lula com um contrato sem licitação de US$ 1,6 bilhão para operar navio-sonda da Petrobras em 2009.
“O sr. tem ciência da realização de um empréstimo por José Carlos Bumlai junto ao Banco Schahin?”
“Pela imprensa”, respondeu Lula.
“Só pela imprensa?”, insistiu o delegado.
“Pela imprensa e pela pergunta do outro delegado lá de Brasília, ele me fez a mesma pergunta.”
“O motivo, o senhor teria conhecimento?”, indagou o delegado.
Lula fez “sinal negativo com a cabeça”, segundo o registro da PF.
O delegado foi adiante: “Como foi quitado tal empréstimo?”
Outra vez Lula fez “sinal negativo com a cabeça”.
“Sabe se o Partido dos Trabalhadores tinha alguma intenção na realização e na posterior quitação deste empréstimo?”, indagou o delegado.
Lula, novamente, fez “sinal negativo com a cabeça”.
O delegado: “Não sabe do envolvimento do Partido dos Trabalhadores com esse empréstimo feito em nome do Bumlai?”
Lula fez “sinal negativo com a cabeça”.
“O sr. sabe informar se a Schahin Engenharia mantém ou manteve contratos com a Petrobras?”, perguntou o delegado.
Lula fez “sinal negativo com a cabeça”.
O delegado: “O sr. sabe dizer se, em linhas gerais, o objeto do contrato, qual a atividade da empresa junto à Petrobras, a relação Schahin/Petrobras?”
Lula fez “sinal negativo com a cabeça”.
“O sr. fez alguma, intercedeu de alguma maneira junto à Petrobras para que a Schahin fosse contratada?”
Lula: “sinal negativo com a cabeça”.
Delegado: “O sr. sabe que a Schahin foi contratada pra operar o navio sonda Vitória 10.000?”
Lula: “sinal negativo com a cabeça.”
Delegado da Polícia Federal: “O sr. sabe informar se a contratação da Schahin Engenharia pela Petrobras, notadamente como operadora do navio-sonda Vitória 10.000, tem alguma relação com o empréstimo que José Bumlai obteve no Banco Schahin?”
Lula, enfim, falou. “Eu acredito que não.”
Nessa etapa do depoimento, o delegado citou um dos delatores da Operação Lava Jato, o lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano. Em seu relato, Baiano afirmou que José Carlos Bumlai teria intercedido diretamente junto ao então presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e junto a Lula para conseguir a aprovação do contrato bilionário do navio-sonda.
“O sr. conhece a pessoa de Fernando Baiano?”, indagou o delegado.
Lula: “Nunca vi.”
“O nome dele é Fernando Soares”, destacou o delegado.
“Nunca vi e agora que eu não quero ver mesmo”, respondeu o ex-presidente.
O delegado prosseguiu. “E nunca esteve com ele pessoalmente, nunca tratou por telefone?”
Lula: “Sabe que, uma pessoa pública como eu, nunca pode dizer, porque eu participo de muita atividade e eu acho que eu sou mais fotografado do que qualquer pessoa nesse país, vai que eu falo uma bobagem e daqui a pouco aparece uma foto publicada, uma selfie. Então, mas eu não tenho a menor lembrança esse cidadão, a não ser pela imprensa.”
O delegado insistiu. “Esse cidadão ele disse, perante autoridades que investigam na operação Lava Jato, que tinha dificuldades pra aprovação da contratação da Schahin pela Petrobras, ele estava intermediando. E ele disse que José Carlos Bumlai teria intercedido diretamente junto a José Gabrielli e junto ao senhor, para conseguir a aprovação do contrato. O senhor tinha conhecimento desses fatos?”
Lula: “Primeiro, eu não levo a sério a delação premiada tal como está sendo feita. Segundo, o cidadão pode ter contado uma mentira pensando em ganhar benefício.”
O delegado: “Essa é a oportunidade que o senhor tem de dizer se tem conhecimento ou não.”
Lula: “Deve ter ganhado algum benefício pra contar uma mentira”.
Delegado da Polícia Federal: “Mas, vamos lá, existe uma nota…”
Lula interrompe a audiência e pede para ir ao banheiro.
Nesse instante, chega a informação que manifestantes estão em Congonhas.