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Política & Poder

Governo Lula avalia que Trump pode tentar interferir na eleição brasileira

Redação Jornal de Brasília

23/12/2025 19h38

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Foto: Ricardo Stuckert/PR

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
SÃO PAULO, SP (FOLHARPESS)

A química entre os presidentes Lula (PT) e Donald Trump não deve impedir que os Estados Unidos tentem interferir na eleição brasileira de 2026, da mesma maneira que intervieram nos pleitos de Argentina e Honduras, na visão do governo do Brasil.


Na opinião de um alto funcionário do governo Lula, ao remover grande parte das tarifas sobre produtos brasileiros e as sanções da Lei Magnitsky, Trump pode ter feito apenas um recuo tático após a malfadada tentativa de impedir a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro.


Mas o Brasil conta com a possibilidade de Trump usar no Brasil a mesma estratégia adotada nas eleições da Argentina e de Honduras neste ano. Na eleição legislativa argentina, Trump condicionou a concessão de um pacote de ajuda financeira ao país de US$ 20 bilhões a um bom desempenho do partido de Milei no pleito.


Na eleição presidencial hondurenha, Trump apoiou abertamente o candidato da ultradireita, Nasry “Tito” Asfura, e a presidente do país, a esquerdista Xiomara Castro, alega que houve um “golpe eleitoral” por causa da “interferência do presidente dos Estados Unidos”.


Antes da eleição, Trump afirmou que a candidata governista, Rixi Moncada, era comunista e que sua vitória entregaria o país ao ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e seus “narcoterroristas”. Na véspera da eleição, Trump concedeu indulto ao ex-presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, aliado de Asfura, que tinha sido condenado a 45 anos de prisão por tráfico de cocaína para os EUA.


Depois de quase um mês da eleição, ainda não há resultados. Asfura está na liderança por uma pequena vantagem sobre o conservador Salvador Nasralla, e uma apuração especial está em curso. Na semana passada, o Departamento de Estado revogou um visto e cassou outro de duas autoridades eleitorais de Honduras pertencentes ao partido de esquerda de Xiomara Castro, alegando que elas estariam interferindo na apuração dos votos.


O governo brasileiro acredita que precisa ter certas “vacinas” contra uma possível intervenção americana. Uma delas é a cooperação com os Estados Unidos em combate ao crime transnacional, anunciada recentemente.


Trump tem usado o combate ao narcotráfico como justificativa para os ataques a barcos no Caribe e para as ameaças militares à Venezuela. A cooperação foi usada de forma preventiva também para bloquear tentativas dos bolsonaristas de pedir intervenção americana no Brasil para combater o crime organizado.


O governo acredita que a agenda internacional terá um peso inédito na eleição presidencial brasileira. A percepção é de que Trump irá apoiar abertamente aquele que vier a ser o candidato da direita, ideologia mais alinhada ao atual governo dos EUA.


Em relação à Venezuela, o governo brasileiro está alerta durante o recesso para a possibilidade de alguma intervenção militar americana. E autoridades admitem que o governo americano não tem se mostrado aberto a um papel maior do Brasil ou outros países em conversas com o ditador venezuelano Nicolás Maduro.


Mas impedir uma ação militar na Venezuela é considerada prioridade número um pelo governo brasileiro. Caso haja uma ação usando como desculpa o combate ao narcotráfico, isso poderia se tornar um precedente. Na visão do governo, esse pretexto poderia ser usado em futuras intervenções em países como Colômbia e México, por exemplo.


No âmbito bilateral, Brasil e EUA ainda negociam para retirada do restante das tarifas sobre produtos brasileiros e para restituir os vistos revogados de ministros brasileiros e familiares. Uma reunião entre ministros estava prevista para novembro, mas só deve sair em janeiro.

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