CÉZAR FEITOZA E MATEUS VARGAS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O ministro do Esporte, André Fufuca, acelerou a liberação de recursos em setembro e direcionou mais de metade da verba de investimentos da pasta para o seu estado, o Maranhão, enquanto é pressionado pelo PP a deixar o governo Lula (PT).
Fufuca pretende se candidatar ao Senado e aproveita o cargo na Esplanada dos Ministérios para distribuir recursos para construção de quadras poliesportivas, estádios de futebol e espaços comunitários nos municípios maranhenses.
Só neste ano, o Ministério do Esporte distribuiu R$ 82 milhões para 75 dos 217 municípios maranhenses. O valor representa 66% de toda a verba de investimentos manuseada diretamente pelo ministro, ou seja, excluindo as emendas parlamentares. Em oposição, nove estados não receberam até outubro nenhum real empenhado do ministério, incluindo Acre, Amazonas e Tocantins.
O dinheiro, que vinha sendo distribuído mês a mês, passou a ser direcionado com mais pressa em setembro, dias após o PP, partido de Fufuca, exigir que seus filiados deixassem os cargos no governo.
Em 2024, o Maranhão também liderou os repasses feitos diretamente por Fufuca para investimentos. Mas a verba empenhada durante todo o ano passado (R$ 40 milhões) é inferior a metade do que o ministro já destinou ao seu estado até o começo de outubro de 2025.
Os números estão em levantamento feito pela Folha com os dados do Siga Brasil, portal mantido pelo Senado e que extrai informações do Siafi, o sistema de controle financeiro da administração federal.
Em nota, o Esporte diz que a distribuição de recursos federais segue critérios técnicos e legais, conforme demanda apresentada pelos próprios estados e municípios. Afirma ainda que a demora do Congresso para a aprovação do Orçamento de 2025 represou os recursos para o segundo semestre.
“O Maranhão possui um déficit histórico de infraestrutura esportiva. O que o faz estar na última posição entre todos os estados brasileiros, quando este critério é levado em consideração”, diz a pasta de Fufuca.
“Além disso, fatores sociais como o menor IDH do Brasil, os mais de 1,1 milhão de pessoas inscritos no CAD Único e os 1,2 milhões beneficiados pelo Bolsa Família, entre outros, também são considerados na hora de decidir sobre os investimentos em infraestrutura esportiva”, completa.
Reservada para custeio de serviços do ministério e investimentos em obras, a verba discricionária do Ministério do Esporte é separada em dois grupos. O mais volumoso, com R$ 1,77 bilhão previsto no Orçamento, refere-se às emendas parlamentares. Neste caso, Fufuca não tem poder para decidir para onde os recursos devem ser destinados e apenas carimba os repasses de deputados e senadores.
A outra parte, que soma cerca de R$ 620 milhões, inclui as verbas do Novo PAC e aquelas que são definidas diretamente por Fufuca. Este bolo do orçamento é utilizado para custear o ministério (contas de água e luz e contratos administrativos), manter programas como o Bolsa Atleta e investir em obras nos municípios.
É nesse último bolo que Fufuca tem direcionado os recursos para o Maranhão. Até o início de outubro, o dinheiro separado para investimentos em seu estado natal deve viabilizar 78 obras nos municípios maranhenses.
O segundo estado que mais recebeu recursos foi a Bahia, que terá 13 obras custeadas pelo Ministério do Esporte de Fufuca em 2025 com a verba empenhada até aqui.
A federação União Progressista decidiu no início de setembro deixar a base de Lula, exigindo que seus filiados com cargos eletivos saíssem do governo.
O Progressistas definiu que o prazo para Fufuca deixar o Ministério do Esporte seria no domingo (5). O ministro, porém, ainda não anunciou sua decisão e participou de evento com o presidente Lula em Imperatriz (MA) na segunda (6).
“Presidente, é uma honra colaborar com seu governo […] É por isso que eu falo em alto e bom som: eu estou com Lula”, disse ao lado do petista.
“O importante não é justificar o erro, é evitar que ele se repita. Em 2022, eu cometi o erro, mas agora em 2026, pode ser que meu corpo esteja amarrado, mas a minha alma, o meu coração e a minha força de vontade estarão livres para ajudar Luiz Inácio Lula da Silva a ser presidente do Brasil”, completou.
A proposta oferecida pela liderança do PP ao ministro Fufuca considera dois cenários. Se deixar o governo Lula, o político terá o comando do diretório do Progressistas no Maranhão, com poder de decidir os candidatos para as eleições de 2026.
Se permanecer no governo, Fufuca perde o controle do partido no estado para o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA).
O dilema de Fufuca tem relação com as eleições de 2026. O ministério garante visibilidade e dinheiro para o ministro se cacifar para uma disputa ao Senado no próximo ano. Sem o comando do partido, porém, ele não tem garantia de que concorrerá à casa alta.
As redes sociais de Fufuca dão destaque às obras realizadas pelo Ministério do Esporte nos municípios do Maranhão. Em 21 de setembro, o ministro anunciou a entrega da primeira Arena Brasil no estado, em Vargem Grande. “Uma conquista histórica para os vargem-grandenses”, escreveu.
No sábado (4), o ministro gravou vídeo em Paço do Lumiar (MA) dançando com idosos e crianças em anúncio de assinatura de uma ordem de serviço para a construção de uma arena esportiva.
“É o governo do presidente @LulaOficial chegando a todos os cantos do Brasil, levando qualidade de vida, inclusão e oportunidades. Ajudando a transformar os sonhos e levando nossos jovens do bairro ao pódio”, diz Fufuca na publicação.