Menu
Política & Poder

Falta de articulação do Planalto para André Mendonça surpreende senadores

Mendonça, com quem nunca haviam trocado uma palavra, os procurou pessoalmente, pelo telefone, para marcar encontros e se apresentar

Redação Jornal de Brasília

21/07/2021 14h23

Igor Gielow
FolhaPress

Candidatos a ministro do Supremo Tribunal Federal, sujeitos a sabatina e voto no Senado para terem seus nomes confirmados, sempre contaram com o apoio do Palácio do Planalto para facilitar seu caminho. Não é bem o que está acontecendo com o “terrivelmente evangélico” pastor André Mendonça, advogado-geral da União que Jair Bolsonaro quer ver na corte.

Pelo menos quatro senadores relataram o mesmo: Mendonça, com quem nunca haviam trocado uma palavra, os procurou pessoalmente, pelo telefone, para marcar encontros e se apresentar. Ele tem ido inclusive aos estados de quem não está em Brasília.

A queixa poderia se encaixar à perfeição ao clima de insatisfação geral do centrão com o presidente devido ao imbróglio do fundão partidário para 2022 –o grupo busca agora ocupar a Casa Civil. Mas os políticos aqui citados são de outros partidos.

Se a tática busca mostrar humildade, especialmente ante a oposição a Mendonça comandada pelo presidente da Comissão e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o tiro parece ter saído pela culatra. Esses senadores afirmam que o movimento inusual sugere falta de articulação do Planalto, que preferiu um método mais heterodoxo para fazer valer sua vontade: reconduzir o procurador-geral da República, Augusto Aras.

Aliado de Bolsonaro, Aras ainda alimentava esperança de ganhar a vaga para o Supremo caso a resistência a Mendonça crescesse a ponto de insinuar uma rejeição inédita em tempos modernos -seu histórico de defesa cega do chefe incomoda, além de que Alcolumbre e outros veem uma chance de espicaçar o Planalto.

Apesar de sua fidelidade ao Planalto, Aras é visto como um nome mais preparado do que Mendonça por parte dos senadores. Ao reconduzi-lo, o presidente oferece um prato feito. Nem todos gostaram: outros dois senadores, que não foram ainda procurados por Mendonça, disseram que o movimento de Bolsonaro fará aumentar a resistência ao advogado-geral.

Ainda há tempo, com o recesso do Congresso, para costurar os acordos. A sabatina de Mendonça pode ficar só para setembro, a depender do passo das negociações. Ao fim, creem alguns senadores mais experientes, as ameaças de rejeição a seu nome devem ficar só nisso.

O indicado ao Supremo precisa de 41 de 81 votos, em sufrágio secreto, na Casa. Estima-se que já tenha por volta de 30 garantidos, o que torna sua missão não tão espinhosa -ainda que significativa da dificuldade de o governo Bolsonaro fazer política.

Em tempos mais normais, a articulação no Planalto conversaria primeiramente com os senadores, daria ouvidos a suas posições e demandas, buscaria retirar temores sobre as posições do candidato e amaciaria o caminho para que Mendonça se apresentasse.

Ocorre que há um curto-circuito desde a reforma ministerial de abril no setor. A responsável pelo trabalho, Flávia Arruda (Secretaria de Governo), é vista como de mãos amarradas pela cozinha militar do Planalto. Seu antecessor, general Luiz Eduardo Ramos, agora na Casa Civil, busca avalizar ele mesmo acordos.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado