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Política & Poder

Expedição de veleiro rumo à COP30 busca mapear biodiversidade da costa do Brasil

Redação Jornal de Brasília

23/10/2025 7h56

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Foto:Divulgação/COP30

PAOLA FERREIRA ROSA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Um veleiro com pesquisadores a bordo deixou o Rio de Janeiro na semana passada para coletar dados inéditos sobre a biodiversidade marinha durante uma expedição. A embarcação, que já passou por Salvador e nos próximos dias fará paradas em Recife e Fortaleza, tem como destino Belém, onde em novembro acontece a COP30, conferência do clima da ONU.


A iniciativa é realizada pela parceria entre a OceanPact, empresa especializada em soluções marítimas, a britânica NatureMetrics, referência em coleta de amostras para avaliação do DNA ambiental, e o Instituto Mar Urbano, voltado à difusão de conhecimento sobre o ambiente marinho.


As organizações queriam marcar presença na COP30 de forma inovadora, mostrando o poder da união entre tecnologia e metodologia cientifica em prol da conservação dos oceanos, segundo Fernando Borensztein, diretor de sustentabilidade e novos negócios na OceanPact.


Em Belém, a empresa participará como observadora da conferência e exibirá o documentário “Quanto Vale o Azul” na Casa Vozes do Oceano.


“A gente conhece o lado escuro da Lua e não conhece o fundo do mar. Para preservar, é preciso conhecer. Sabemos que em 21 dias a gente não vai conseguir mapear toda a costa brasileira, mas é uma demonstração do que essa tecnologia é capaz de fazer”, completa.


A expedição partiu da baía de Guanabara em 14 de outubro e deve contar com cerca de oito cientistas ao longo do percurso, dois de cada vez, além da tripulação do veleiro. A cada parada, a dupla formada por um oceanógrafo e outro pesquisador é trocada.


A partir da água, a equipe irá coletar micro-organismos e materiais orgânicos, como resíduos de pele e fezes de animais para que possa decodificar o DNA dessas espécies. Cerca de 80 amostras devem ser reunidas até o final da expedição. Também estão sendo aferidos parâmetros físicos, como temperatura, salinidade, PH e nível do oxigênio presentes na água em cada região.


“A água do mar passa por um filtro que vai reter tudo que vier de organismos. Com isso, vai ser possível identificar quais espécies estão presentes no local”, conta a oceanógrafa Paula Charnaux, que trabalha no setor de modelagem e monitoramento ambiental na OceanPact.


O material será avaliado nos laboratórios da NatureMetrics no Reino Unido. De acordo com o Borensztein, as empresas têm todas as autorizações necessárias para a exportação do material biológico.


Paula defende que uma expedição feita com oceanógrafos permite a construção de um panorama geral do ecossistema, envolvendo biologia e oceanografia física, geológica e química, caracterizando todo o ambiente.


O projeto tem sido uma aventura para a especialista. “Já fizemos coleta de madrugada, no amanhecer, de tarde, em todos os horários possíveis”, conta.


Quando a embarcação se aproxima do local planejado, começa a maratona: lavar os frascos do laboratório, preparar uma garrafa e abrir os kits de filtragem do material. Depois, o grupo lança a garrafa no mar para retirar a água, guarda no barco e repete até reunir o número de amostras necessário. “O maior desafio é trabalhar no espaço confinado, mas de um modo geral é incrível.”


Sobre a alimentação, ela conta que o barco tem uma autonomia de cerca de dez dias, mas nem toda a despensa pode ser ocupada. “A gente tem bastante comida no barco e a tripulação cozinha bem, mas precisamos de espaço no freezer para guardar as bolsas de gelo para as amostras”, explica. Assim, durante as paradas, a equipe aproveita para reabastecer o barco com água, combustível e comida.


Borensztein defende que a identificação de espécies e da biodiversidade local obtidas com o estudo de DNA é mais precisa que os resultados de expedições de avistamento. As informações reunidas podem servir de base para estratégias de conservação, desenvolvimento sustentável e tomada de decisões por empresas e governos.


O diretor não revelou quanto foi investido no projeto, mas afirmou que a tripulação a bordo faz parte do quadro de funcionários da corporação, o que segundo ele reduziria os custos. “É realmente uma iniciativa caseira. Além da gente, a Nature Metrics entrou com a parte dos equipamentos para a coleta das amostragens da água.”


Outra expedição científica em meio à COP30 terá início neste mês, a caravana fluvial Iaraçu. Essa iniciativa, por sua vez, reúne um grupo de pesquisadores e membros de organizações da sociedade civil do Brasil e da França que passará por cidades da amazônia para conectar projetos científicos e culturais aos moradores de comunidades ribeirinhas.

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