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Política & Poder

Esquerda avalia que prisão de Bolsonaro pode dividir direita, mas teme impacto de piora na saúde

Publicamente, parlamentares e líderes partidários ouvidos disseram que fica embaralhado o cenário político para 2026

Redação Jornal de Brasília

24/11/2025 6h53

bolsonaro

Foto: Miguel Schincariol/AFP

JULIANA ARREGUY
SÃO PAUOO, SP (FOLHARESS)

A prisão de Jair Bolsonaro (PL) no sábado (22) divide opiniões entre quadros de esquerda. Muitos enxergam que o isolamento do ex-presidente pode deixar a direita dividida, mas também que eventual piora no quadro de saúde dele —que sofre com crises de soluços e vômitos— possa atrair maior simpatia de eleitores indecisos.

Bolsonaro foi preso preventivamente por determinação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. A decisão citou risco de fuga para embaixada dos EUA e violação de tornozeleira eletrônica na madrugada.

O ex-presidente, que cumpria medida cautelar em casa e com monitoramento eletrônico desde 4 de agosto, foi levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde ficará preso em espaço com cama, banheiro privativo e uma mesa.

Publicamente, parlamentares e líderes partidários ouvidos pela Folha disseram que fica embaralhado o cenário político para 2026, já que a direita não conseguiu se unir, até o momento, em torno de um novo líder.

Sob reserva, alguns entendem que o delicado quadro de saúde do ex-presidente pode sensibilizar a população e citam, como exemplo, a facada da qual Bolsonaro foi vítima durante a campanha presidencial de 2018.

A maior exposição midiática e as imagens do então candidato no hospital teriam, segundo os políticos, despertado o sentimento de solidariedade entre as pessoas. Um líder partidário avaliou que manter Bolsonaro em prisão domiciliar —quando se iniciar o cumprimento de sua pena de 27 anos e três meses pela trama golpista— geraria menos comoção do que mandá-lo para a carceragem.

O prazo para apresentação de novos recursos pelas defesas dos réus condenados no primeiro núcleo do julgamento da trama acaba nesta segunda (24). Integrantes do STF afirmam que Moraes poderá determinar já na terça-feira (25) onde Bolsonaro e os demais condenados deverão cumprir suas penas.

O ex-ministro José Dirceu dividiu opiniões no PT ao dizer, publicamente, que Bolsonaro deveria ficar em casa. Horas após a prisão, disse que a decisão significa “um recomeço” para o país. “O chefe da tentativa do golpe está preso”, escreveu nas redes sociais.

Para Adriano Oliveira, professor e doutor em ciência política pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), o bolsonarismo apostará em paralelos com a prisão do presidente Lula (PT) em 2018, também em uma sala da Superintendência da PF, mas em Curitiba.

Lula foi enviado para o local porque o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), hoje senador pelo Paraná, determinou que ele ficasse separado dos presos comuns. Na ocasião, petistas reclamaram do isolamento e compararam o cárcere a uma solitária.

Segundo Oliveira, bolsonaristas tentarão mostrar Lula como um privilegiado por não ter sofrido das mesmas questões de saúde enfrentadas por Bolsonaro.

“Isso fortalece o discurso da direita contra o presidente Lula numa campanha eleitoral” e pode conquistar eleitores que não aderem a nenhum dos dois campos políticos, disse.

Moraes determinou que Bolsonaro receba atendimento médico “em tempo integral” e “em regime de plantão”, sem necessidade de autorização prévia do STF para acessar o local.

Presidente nacional do PSOL, Paula Coradi acredita ser difícil pintar o ex-presidente como vítima, mesmo diante de um quadro de saúde frágil. “Afinal de contas, ele próprio sempre se mostrou contra esse tipo de discurso”, disse ela à reportagem.

“Acho que a extrema direita vai tentar vitimizá-lo, mas ao mesmo tempo buscará uma saída eleitoral que garanta a eles a maioria no Senado, na Câmara ou até na Presidência”, acrescentou.

O deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP), membro da executiva nacional petista, concorda que a direita deve apostar em novas lideranças, mas avaliou que isso deve ampliar disputas internas que já ocorrem entre aliados bolsonaristas.

“Há brigas na família [Bolsonaro] e entre a família e amigos. Há um descolamento visível de muitos em relação a ele. A tendência [com a prisão] é desidratar ainda mais a figura política dele”, avaliou Tatto.

O vice-líder do PT na Câmara dos Deputados, Rogério Correia (MG), disse que o fato de Bolsonaro estar preso centraliza ainda mais no clã o poder de repassar informações e eventuais apoios. Para ele, isso reduz eventuais simpatias que o ex-presidente poderia ter por políticos que não sejam próximos de seus filhos ou de sua mulher, Michelle Bolsonaro (PL).

“Há um estranhamento entre a extrema direita e o centrão sobre quem pegará o espólio de Bolsonaro. Ele não perde a interlocução que já tem estando na cadeia, mas o fato de estar preso faz com que ele não fale mais publicamente, e tira dele o messianismo no qual a direita aposta”, afirmou Correia.

Paula Coradi também disse que, com Bolsonaro preso, certas demandas políticas do clã –antes incontestáveis– se tornam mais suscetíveis a críticas e questionamentos. Ela citou como exemplo o caso do racha entre bolsonaristas na disputa ao Senado em Santa Catarina.

A decisão do ex-presidente de lançar o filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, para senador do estado, rifou a candidatura da deputada federal Carol de Toni. Bolsonaro busca uma forma de dar foro especial a Carlos e vê no estado, o terceiro que mais deu votos a ele em 2022, maiores chances de conseguir elegê-lo.

Aliados de Carol criticaram publicamente o fato de ela ter de trocar de partido para tentar se lançar ao Senado, gerando briga com os filhos de Bolsonaro.

“Essa questão do Senado em Santa Catarina mostrou que já existe uma dispersão, que uma parte da extrema direita não considera mais viável aceitar todas as imposições da família Bolsonaro para esse grupo político”, afirmou ela.

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