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Política & Poder

Ernesto diz que busca apoio dos EUA contra ‘narcossocialismo’

Segundo Ernesto, Bolsonaro tem muitos planos para transformar o Brasil e que isso tornaria os EUA um parceiro “chave” para isso

Redação Jornal de Brasília

06/03/2021 10h26

Patrícia Campos Mello

São Paulo, SP

Durante 30 anos, o Brasil optou pelo “narcossocialismo”, mas agora, no governo de Jair Bolsonaro, o país finalmente está no caminho da democracia liberal com economia de mercado e voltou a ser um parceiro estratégico dos Estados Unidos.

Esse foi o recado do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em evento virtual nesta sexta-feira (5) realizado pelo think tank americano Council of the Americas.

“Bolsonaro tem um projeto de transformar o Brasil em uma moderna economia de mercado, incentivar privatizações e acabar com o clientelismo e a corrupção, e queremos que os Estados Unidos sejam nosso parceiro chave para isso”, afirmou Ernesto.

Em quase 45 minutos de discurso em inglês, o ministro enfatizou também a necessidade de uma parceria de defesa e segurança com os Estados Unidos. “Queremos trabalhar com grandes democracias no hemisfério, como os EUA e o Canadá, para livrar a América Latina do narcossocialismo. Para evitar que cresçam os projetos totalitários na região, precisamos lutar contra o crime organizado”, disse.

De acordo com o chanceler, uma rede criminosa mantém o ditador Nicolás Maduro no poder, e o Brasil está investigando as conexões do líder venezuelano com o crime organizado. “Infelizmente, o terrorismo e o crime estão vivos e estão crescendo na região, ameaçando a democracia não apenas na Venezuela, mas em todos os países”, afirmou.

Ele resumiu a ameaça atual à América Latina como “um sistema político criminal contra lei e ordem, economias abertas e democracia real”. “O Brasil era parte do problema, agora estamos tentando ser parte da solução, e os Estados Unidos são um ator fundamental.”

Ernesto tentou dissipar o mal-estar entre o governo Bolsonaro e a administração Joe Biden. Bolsonaro foi um dos últimos chefes de Estado a reconhecer a vitória do democrata na eleição de 2020, aderindo a teorias da conspiração de que o pleito havia sido fraudado, e o próprio Ernesto chegou a expressar endosso aos invasores do Capitólio no dia 6 de janeiro, chamando-os de “cidadãos de bem”.

Segundo o chanceler, Biden e Bolsonaro trocaram diversas cartas e criaram um arcabouço de confiança e valores compartilhados. “Eles têm até as mesmas iniciais, J.B.”, brincou.
“Para nós, nada mudou no dia 20 de janeiro [posse de Biden].

Compartilhamos visão de mundo de que precisamos trabalhar juntos contra o crime organizado e as ameaças à democracia na região e no mundo”, disse. Em seu programa de governo, Biden havia anunciado a intenção de realizar uma Cúpula da Democracia, para reunir uma frente de países que se opõem à China.

Ernesto rechaçou críticas que apontam que o Brasil teria feito concessões aos Estados Unidos nos últimos dois anos, sem receber nada em troca, como nos casos da isenção de vistos para americanos, da suspensão temporária de tarifa para etanol, das sobretaxas sobre aço brasileiro e do recuo do apoio americano à entrada do Brasil na OCDE. “Eu acho que é totalmente o contrário, e eu não deveria estar dizendo isso.”

O ministro disse que interessa para o Brasil um acordo comercial amplo com os EUA e que os dois países estão completamente alinhados na OMC (Organização Mundial do Comércio). “Brasil e EUA estão trabalhando juntos para reformar a OMC, principalmente em questões difíceis como empresas estatais e subsídios industriais. E agrícolas, claro”, afirmou.

Os Estados Unidos acusam a OMC de ser leniente com a China e tolerar as empresas estatais e os subsídios industriais do país asiático.

Ernesto também retratou o apoio dos EUA à acessão do Brasil à OCDE, o chamado clube dos ricos, como essencial para evitar que o país escorregue para o outro lado.

“Entrar na OCDE é uma maneira de reforçar o modelo de democracia liberal e economia de mercado no Brasil. Sabemos que, se deixarmos com a gravidade, voltamos para o estatismo e clientelismo.”

Para um público composto principalmente por investidores e empresários baseados nos EUA, Ernesto traçou um contraste entre o governo Bolsonaro e os 30 anos anteriores, que englobaram governos do PT e do PSDB, além do curto governo de Michel Temer (MDB), que o chanceler chamou de “transição”.

Segundo ele por três décadas, o Brasil quis se manter distante dos EUA e se alinhar a países em desenvolvimento. Com isso, o Brasil “tentou destruir” a ideia de um acordo de livre comércio das Américas e quis se tornar parte de “um tipo de bloco sul-americano hostil, ou ao menos muito distante e frio em relação aos Estados Unidos” baseado em uma abordagem ideológica.

“Naquela época, lá pelo ano 2000, presidentes resolveram reconstruir na América Latina a cortina de ferro que havia acabado de desaparecer na Europa Oriental”, disse. “Basicamente, foi uma joint-venture entre Lula e [Hugo] Chávez que nos afastou dos EUA.”

O chanceler foi bastante agressivo em relação à Venezuela, afirmando que as ameaças contra a democracia que surgiram lá foram gestadas no Brasil. “É um sistema irrigado por esquemas de corrupção com raízes no Brasil que ajudou a manter certas correntes políticas no poder em vários países latino-americanos.”

Foi esse “narcossocialismo”, sistema que junta corrupção, crime organizado e socialismo, que, segundo Ernesto, norteou os governos dos últimos 30 anos. “O plano era fazer da América Latina um lugar seguro para a corrupção.”

Ele afirma que, durante esse período, houve um esforço para substituir parceiros econômicos tradicionais, como Estados Unidos, União Europeia e Japão, por outros países. “Domesticamente, isso levou à desindustrialização do Brasil, porque os EUA, UE e Japão eram parceiros nossos em manufatura e investimentos em alta tecnologia.”

Questionado sobre críticas de europeus e americanos à política ambiental de Bolsonaro e ao desmatamento na Amazônia, Ernesto seguiu a linha do governo de afirmar que se trata de desinformação. “Estamos abertos para mostrar a qualquer parceiro que há muita desinformação sobre a política ambiental brasileira, agricultura e a conexão entre desmatamento e agricultura, que não existe.”

O governo Biden elegeu a política ambiental e o combate às mudanças climáticas como uma de suas prioridades. O Brasil participará de uma cúpula virtual sobre o clima convocada por Biden, marcada para 22 de abril.

“Para nós, é muito importante vermos mais financiamento das nações mais ricas, queremos que esses países cumpram os compromissos financeiros de vários acordos”, afirmou. “Na Amazônia, não basta eliminar desmatamento, é preciso investimento para criar empregos para as pessoas que moram lá.”

As informações são da Folhapress

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