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Política & Poder

Entenda por que operações do Banco Master com a Reag estão sob investigação

De acordo com o documento, as transações suspeitas somariam R$ 11,5 bilhões e foram consideradas pelo BC como portadoras de “falhas graves”

Redação Jornal de Brasília

31/12/2025 12h16

banco masterr

Foto: Divulgação

ANA PAULA BRANCO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Um relatório do Banco Central (BC) enviado ao TCU (Tribunal de Contas da União) aponta indícios de fraude em operações financeiras realizadas pelo Banco Master, controlado por Daniel Vorcaro, em conjunto com fundos administrados pela Reag Trust Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários.


De acordo com o documento, as transações suspeitas somariam R$ 11,5 bilhões e foram consideradas pelo BC como portadoras de “falhas graves”, em desacordo com normas do Sistema Financeiro Nacional. O órgão regulador comunicou o caso ao Ministério Público Federal (MPF).


A Reag foi um dos alvos da Operação Carbono Oculto, deflagrada pela Polícia Federal para investigar um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital) no mercado financeiro.


Na época, a empresa afirmou que colabora de forma ampla com as autoridades e negou qualquer envolvimento com práticas criminosas


O QUE O BANCO CENTRAL ENCONTROU


Segundo o relatório encaminhado ao TCU, o Banco Central identificou indícios de fraude em operações estruturadas entre o Banco Master e fundos ligados à Reag realizadas entre julho de 2023 e julho de 2024.


Essas operações faziam parte de um conjunto maior de transações do banco com fundos de investimento, que totalizam R$ 11,5 bilhões —sendo ao menos dois deles administrados pela Reag.


O BC apontou problemas como gerenciamento inadequado de capital e de risco, além da realização de negócios sem garantias suficientes, liquidez adequada ou diversificação, o que pode ensejar processos administrativos sancionadores.


Técnicos também levantaram a suspeita de que os fundos teriam sido usados para pulverizar recursos em nome de terceiros, os chamados “laranjas”. Entre os veículos citados estão o Bravo 95 Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado e o D Mais Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, ambos administrados pela Reag.


Essa é a segunda comunicação do BC ao MPF envolvendo o Banco Master. A primeira tratou da revenda de R$ 12,2 bilhões em créditos considerados inexistentes ao BRB (Banco de Brasília).


POR QUE A REAG ESTÁ NO CENTRO DAS INVESTIGAÇÕES


A Reag foi um dos alvos da Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto, que investiga a conexão entre o crime organizado, o setor de combustíveis e estruturas do mercado financeiro.


Segundo as autoridades, o esquema investigado envolve a lavagem de quase US$ 10 bilhões, atribuída a um dos maiores grupos criminosos do país.


De acordo com a investigação, o dinheiro teria sido mascarado por meio de fundos de investimento com um único cotista, conhecidos como fundos exclusivos, descritos pelos investigadores como possíveis “fundos de fachada”.


Pelo menos 40 fundos teriam sido utilizados pelo suposto mentor do esquema, Mohamad Hussein Mourad, apontado como responsável por lavar recursos provenientes de um império ilegal de combustíveis. Quase uma dúzia desses fundos era administrada ou gerida pela Reag —mais do que por qualquer outra instituição envolvida, segundo o MP.


Os promotores afirmam que a estrutura permitiu a expansão de um negócio baseado na venda de combustível adulterado.


Há ainda outras conexões entre Reag e Banco Master. A distribuidora administrava o fundo Termópilas, que controlava a empresa Super Empreendimentos, dona de uma casa de R$ 36 milhões em Brasília usada por Daniel Vorcaro para encontros com políticos, segundo investigações.


O IMPACTO NO MERCADO E A REAÇÃO DA REAG


A ascensão meteórica da Reag, que chegou a ter cerca de R$ 369 bilhões em ativos sob gestão, foi interrompida pela operação policial.


O fundador da empresa, João Carlos Mansur, afastou-se da gestão e renunciou à presidência do conselho. Em outubro, concluiu a venda de sua participação.


Na tentativa de reposicionar sua imagem, a gestora mudou de endereço e passou a se chamar Arandu Investimentos —termo em tupi que significa “sabedoria” ou “tempo de escutar”.


Por meio de seus advogados, a empresa afirma que colabora de forma ampla com as autoridades e nega qualquer envolvimento com práticas criminosas. A defesa diz que os fundos sob investigação representam cerca de 0,23% do total de ativos administrados pela casa.


O caso acendeu um alerta no mercado financeiro sobre a possível infiltração do crime organizado em estruturas tradicionais do sistema, reforçando a pressão por regras mais rígidas de supervisão.
O BC já decretou a liquidação do Banco Master em novembro. Paralelamente, o TCU apura eventuais falhas ou omissões do próprio BC na condução do caso.


O processo envolvendo o Master e seu dono, Daniel Vorcaro, tramita sob sigilo no STF (Supremo Tribunal Federal), sob relatoria do ministro Dias Toffoli.

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