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Política & Poder

Comissão da Câmara dos Deputados aprova relatório favorável ao reconhecimento do trabalho não remunerado de cuidados

Projeto de lei foi apreciado na Comissão da Mulher, que aprovou ainda requerimento para realização de audiência pública sobre a Política Nacional de Cuidados.

Redação Jornal de Brasília

08/07/2024 20h59

Foto: Agência Câmara

Comissão da Mulher da Câmara dos Deputados aprovou, na última quarta-feira (03.07), relatório favorável ao Projeto de Lei 638/19, que estabelece uma conta satélite ao Sistema de Contas Nacionais do Brasil para a aferição do valor econômico e o impacto do trabalho não remunerado doméstico e de cuidados no desenvolvimento do país.  Na ocasião, também foi aprovado um requerimento extraordinário de convocação de audiência pública para debater o Projeto de Lei 2762/24, que institui a Política Nacional de Cuidados, apresentado pelo Governo Federal, e a Proposta de Emenda Constitucional 14/24 que institui o direito ao cuidado.

A autoria do PL 638/19 é da deputada Luizianne Lins (PT-CE), que celebrou a aprovação em postagem nas redes sociais.  “PL da Economia do Cuidado, propõe incluir trabalhos domésticos não remunerados no Sistema de Contas Nacionais, utilizado para aferir o PIB, ou seja, a soma das riquezas produzidas no Brasil. Com essa medida, o Brasil pode ter a dimensão do impacto do trabalho doméstico realizado, em sua maioria, por mulheres, e passar a valorizar esse trabalho com política pública.”, esclareceu.

Muitas vezes invisibilizado e não remunerado, o trabalho de cuidados desempenha um papel essencial na sustentação da vida diária de milhões de brasileiras e brasileiros. Apesar de sua importância para nossa sociedade, a carga desse tipo de trabalho é desproporcionalmente depositada nas mulheres, especialmente as mais pobres, que historicamente têm assumido essa responsabilidade em suas famílias e comunidades.Foto: Roberta Aline / MDSA Secretária Nacional da Política de Cuidados e Família do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Laís Abramo, explica a importância do Projeto: “Esse projeto propõe  a construção de uma conta satélite ao Sistema de Contas Nacionais. O que significa isso? Significa calcular a equivalência monetária de todo o trabalho de cuidados realizado de forma não remunerada, que hoje está invisibilizado. Para isso, considera a realização de pesquisas sobre o uso do tempo, instrumento que possibilitaria a construção desse tipo cálculo, e que é fundamental para evidenciar as características e magnitude do trabalho doméstico e de cuidados realizado dentro dos domicílios do nosso país. Na nossa sociedade, o que não se conta não existe. A visibilidade estatística é o primeiro passo para o reconhecimento e para elaboração de políticas públicas eficientes.”, analisou.

De acordo com a relatora do projeto, Talíria Petrone (PSOL/RJ) a aprovação do PL 638/19  permitirá uma apuração mais realista da riqueza produzida no país. Também, segundo a parlamentar, dará visibilidade ao trabalho doméstico e de cuidados não remunerado e promoverá maior incentivo e fundamentação à definição de políticas públicas dirigidas à mitigação da desigualdade de gênero. “No que tange à aferição da riqueza produzida internamente, consubstanciada no cálculo anual do Produto Interno Bruto, do nosso PIB, há uma evidente lacuna: a desconsideração da riqueza produzida, mas não evidenciada por transação financeira”, defendeu Talíria.

Para explicar os termos da proposta, a deputada utilizou um exemplo hipotético. “Digamos que uma mulher contrate uma empresa para realização de limpeza da sua residência e posteriormente, por qualquer motivo, vem ela mesma realizar esse serviço. Quando o serviço era realizado mediante contratação de uma empresa, os valores eram computados no levantamento do PIB, tendo em vista que um serviço mediante pagamento foi realizado. Entretanto, quando o mesmo serviço passa a ser realizado pela mantenedora do lar, não haveria qualquer impacto no levantamento do PIB. Para fins estatísticos, apesar de haver o mesmo nível de produção de riqueza na forma de serviço, haveria geração de riqueza apenas quando uma empresa é contratada. O PIB calculado atualmente não seria, portanto, representativo de toda a riqueza produzida no país e apenas parcialmente traduziria o nível de bem-estar nacional.”, explicou.

Esse tipo de cálculo já é realidade em vários países do mundo. Na América Latina, pelo menos 10 países já contam com uma conta satélite de trabalho de cuidados não remunerado. De acordo com a CEPAL, para 7 desses 10 países o valor econômico do trabalho não remunerado realizado nos domicílios representa mais de 20% do PIB, e em todos os casos, as mulheres realizam mais de dois terços dessa contribuição. ​

Política Nacional de Cuidados

A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher aprovou também um requerimento extraordinário de convocação de audiência pública para debater o Projeto de Lei 2762/24, que institui a Política Nacional de Cuidados, apresentado pelo governo federal, e a PEC 14/24 que institui o direito ao cuidado.

No última quarta-feira, (03.07) o Presidente Lula enviou ao Congresso Nacional proposta que institui a Política Nacional de Cuidados. De acordo com o projeto de lei, essa Política está destinada a garantia do direito ao cuidado (entendido como o direito a cuidar, ser cuidado e ao autocuidado), por meio da corresponsabilização social e de gênero pela provisão dos cuidados, considerando as desigualdades interseccionais. O texto foi construído ao longo de mais de um ano, a partir da contribuição de 20 ministérios e de especialistas de outros setores da sociedade. A proposta levou em conta os dois projetos de lei que primeiro pautaram o tema no Congresso: o PL 27972/22, de autoria da senadora Mara Gabrilli (PSDB/SP), do senador Flávio Arns (PODEMOS/PR) e do senador Eduardo Gomes (PL/TO), e o PL 5791/19, da deputada Leandre Dal Ponte (PSD/PR).

Cuidado na Constituição

O tema dos cuidados tem mobilizado parlamentares de um variado espectro político.  A Proposta de Emenda Constitucional 14/24 foi assinada pelas deputadas Flávia Morais (PDT/GO), Talíria Petrone (PSOL/RJ), Maria do Rosário (PT/RS) e Soraya Santos (PL/RJ), e a articulação para entrega do texto ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, incluiu o apoio de partidos da oposição. Essa PEC propõe  a modificação do artigo 6º da Constituição Federal, incluindo o cuidado como um direito social, situando-o ao lado de direitos como educação, saúde, trabalho, previdência social e alimentação,  e reafirma o compromisso do Brasil com a equidade de gênero e a justiça social.  

A Secretária Nacional de Cuidados e Família, Laís Abramo, reforçou que a proposta representa um importante passo na luta pela valorização e reconhecimento do cuidado como um direito fundamental e uma questão de política pública. “O reconhecimento do cuidado como um direito social na Constituição é um passo crucial para avançar em direção a uma sociedade mais justa e igualitária que põe a sustentabilidade da vida e as pessoas no centro, assim como para a reorganização da divisão do trabalho de cuidado em nosso país, promovendo uma mudança significativa nos atuais paradigmas econômicos e sociais.,” destacou.

Com informações do Ministério do Desenvolvimento

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