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Política & Poder

Câmara e Senado têm histórico de ocupações e pressão sobre presidentes

O protesto foi motivado pela prisão do ex-presidente -o ano era 2018, e o encarcerado era Lula (PT)

Redação Jornal de Brasília

11/08/2025 13h26

discussão e votação de propostas legislativas.4

Foto: Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados

CAROLINA LINHARES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Enquanto a oposição obstruía a votação no plenário da Câmara dos Deputados sob gritos e palavras de ordem, governistas classificavam o protesto como baderna. O protesto foi motivado pela prisão do ex-presidente -o ano era 2018, e o encarcerado era Lula (PT).

O motim de deputados bolsonaristas que tomou a Câmara e o Senado na última semana por causa da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se soma a outros movimentos que paralisaram os plenários em momentos históricos de crise. Da esquerda à direita, as manifestações foram usadas como instrumento de pressão sobre os presidentes das Casas.

Na quinta-feira (7), dia seguinte à retomada do plenário, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que o motim “foi uma tensão que, acredito eu, a Casa não viveu na sua história recente”.

A ocupação bolsonarista inviabilizou os trabalhos na Câmara por mais de 30 horas, com revezamento entre os deputados mesmo de madrugada, e quase que Motta não consegue retomar a cadeira da presidência. Esses contornos trazem, como disse o próprio presidente da Casa, um certo ineditismo, apesar das coincidências com episódios recentes.

A obstrução petista em abril de 2018 forçou o então presidente da Casa, Rodrigo Maia, a adiar para o dia seguinte a votação de um projeto sobre segurança pública. O ato durou pouco mais de três horas.

Naquele momento, o plenário estava dividido entre gritos de “Lula livre” e “Lula ladrão”. Na última quarta-feira (6), o embate se deu entre “anistia já” e “sem anistia”, enquanto Motta levava seis minutos para atravessar o tumulto de deputados e alcançar a Mesa.

Mas nem só prisões provocaram a tomada do comando das Casas. A votação da reforma trabalhista, em 2017, também gerou imagens emblemáticas.

No Senado, senadoras de esquerda, incluindo a hoje ministra Gleisi Hoffmann (PT), impediram o então presidente da Casa, Eunício Oliveira, de se sentar à Mesa. Elas ocuparam o local por mais de sete horas em julho daquele ano.

Depois de passar mais de dez minutos sem conseguir ocupar a cadeira de presidente, Eunício Oliveira pegou o microfone e encerrou a sessão, ordenando que os microfones fossem desligados e as luzes, apagadas.

“Está encerrada a sessão e não tem som enquanto eu não sentar na presidência da Mesa”, declarou. Irritado, ele deixou o plenário dizendo que “nem na ditadura se fazia isso”.

As senadoras permaneceram no local, mesmo no escuro, e se alimentaram de marmitas na própria Mesa.

Hoje do outro lado do jogo, o PT criticou o motim bolsonarista. O líder do partido, Lindbergh Farias (RJ), disse que o protesto era um ataque à democracia, uma continuação do 8 de Janeiro, uma chantagem e uma espécie de AI-5 parlamentar.

Ainda em 2017, em abril daquele ano, o protesto contra a reforma da Previdência ocorreu na Câmara e foi protagonizado pela deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), que subiu à Mesa junto de outros colegas com cartazes em que a carteira de trabalho aparecia rasgada.

Mais tarde, a sessão foi interrompida novamente por uma discussão sobre vestimenta. O então deputado Assis Melo (PC do B-RS) foi impedido de discursar porque estava vestido de operário, com macacão branco, máscara de soldador e luvas.

“Só vai falar no plenário quem estiver vestido de acordo com os costumes da Casa”, afirmou o então presidente Maia, que leu uma resolução que indicava o traje “passeio completo”.

Erundina também simbolizou outra paralisação, dessa vez o alvo era o então presidente da Câmara Eduardo Cunha, que havia comandado a autorização para o impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Era abril de 2016. A sessão foi suspensa por algumas horas depois que deputados de esquerda subiram à Mesa e ocuparam também as duas tribunas do plenário, inviabilizando a fala de outros parlamentares.
Cunha deixou o plenário e chamou uma reunião de líderes. Erundina, então, sentou-se na cadeira do presidente. A sessão foi retomada e terminou de madrugada.

O próprio presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que na semana passada teve que encerrar o motim bolsonarista na Casa, ocupou a Mesa Diretora por sete horas em 2019, na votação que o elegeu presidente.

Alcolumbre enfrentou brincadeiras de que estaria usando um “fraldão geriátrico” para aguentar tanto tempo sentado no mesmo lugar. O apontamento foi feito pelo colega Jorge Kajuru (PSB-GO).

A sessão teve gritaria e bate-boca entre parlamentares e acabou adiada. Em determinado momento, a então senadora Kátia Abreu foi à Mesa e tomou de Alcolumbre a pasta dos trabalhos. O movimento virou meme nas redes sociais, e a sessão foi comparada à apuração do Carnaval de São Paulo de 2012, quando um membro da escola de samba Império de Casa Verde invadiu a mesa dos jurados e roubou e rasgou as cédulas de apuração.

Adversário de Alcolumbre na votação, Renan Calheiros (MDB-AL) deixou e a sessão acusando o rival de autoritarismo. Na semana passada, foi a vez de Alcolumbre chamar a ação bolsonarista de “arbitrária” e alheia a “princípios democráticos”.

Na quarta, senador Magno Malta (PL-ES) chegou a se acorrentar à Mesa Diretora. Novamente, algo que não é inédito no Congresso.

Em outubro de 2015, oito manifestantes ficaram algemados, durante nove dias, nas pilastras do salão verde da Câmara para pressionar Cunha a aceitar o impeachment de Dilma Rousseff. A líder do protesto era Carla Zambelli (PL-SP), que se elegeu deputada em 2018 e foi presa na Itália no último dia 29.

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