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Política & Poder

Boulos assume ministério após derrotas eleitorais, indicação arrastada e protagonismo em atos de rua

O convite de Lula para que ele assumisse o ministério veio acompanhado do pedido para que Boulos não dispute cargos públicos em 2026 e trabalhe pela reeleição do presidente

Redação Jornal de Brasília

20/10/2025 20h07

Reprodução/Instagram

BRUNO RIBEIRO E JULIANA ARREGUY
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A ida de Guilherme Boulos (PSOL) à chefia da Secretaria-Geral da Presidência a convite do presidente Lula (PT), anunciada nesta segunda-feira (20), ocorreu após um período arrastado de conversas com o petista, que levou meses para fazer a troca.


Desde março, quando veio a público que Lula cogitava o psolista para ministro, Boulos, 43, foi de deputado de atuação discreta a articulador de atos de rua que atraíram a maior quantidade de militantes de esquerda nos últimos anos.


Em julho, a convocação da Frente Povo Sem Medo, da qual Boulos faz parte, levou 15 mil pessoas à avenida Paulista na noite de uma quinta-feira para defender políticas econômicas do governo federal, como a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês, e em protesto ao tarifaço de Donald Trump. O cálculo de manifestantes foi feito pelo Monitor do Debate Político do Cebrap, da USP.


Já no dia 21 de setembro, o movimento também esteve à frente de diversos atos, em todo o país, contra o projeto de anistia e a PEC da Blindagem. Na mesma Paulista, o Cebrap calculou a presença de 42,4 mil pessoas, número equiparável ao do protesto bolsonarista de 7 de setembro no local.


Nos dois atos, os discursos de Boulos estiveram entre os de maior destaque e foram os mais ovacionados pelos presentes. O deputado, que ajudou na convocação para as manifestações, disse em ambas as ocasiões que os protestos marcavam “a retomada das ruas” pela esquerda.


O convite de Lula para que ele assumisse o ministério veio acompanhado do pedido para que Boulos não dispute cargos públicos em 2026 e trabalhe pela reeleição do presidente. Apesar dos apelos do entorno do petista, aliados do deputado descartam uma troca do PSOL pelo PT.


Boulos deve abrir mão de se candidatar após uma segunda derrota para a Prefeitura de São Paulo -para Ricardo Nunes (MDB), no ano passado- que teve um gosto mais amargo do que a primeira, em 2020, quando perdeu para Bruno Covas (PSDB), morto em 2021.


Na primeira tentativa, ainda sem mandato, Boulos concorreu isolado com uma campanha que havia custado R$ 9,8 milhões (em valores corrigidos). Ele obteve 40,6% dos votos válidos no segundo turno.
Na segunda, já com experiência parlamentar, apoio do PT, a presença de Lula em seu palanque e um orçamento de R$ 81,6 milhões, a confiança entre seus aliados na vitória era mais sólida, mas ele manteve o teto de 40,6% dos votos.


Passada a eleição, setores do PSOL e aliados ligados a movimentos sociais associaram a derrota a erros estratégicos de campanha, como as tentativas de amenizar a imagem do deputado para evitar que ele fosse tratado como “radical” e “invasor” pelos adversários. A versão mais branda de Boulos foi estranhada pelo eleitorado, segundo a avaliação, por deixá-lo menos espontâneo e pouco enérgico, destoando do perfil disruptivo e antissistêmico apresentado em eleições anteriores.


Para o entorno de Boulos, o psolista teria se desencantado com o cotidiano da Câmara dos Deputados, motivo pelo qual teria aceitado o convite de Lula para ser ministro e abrir mão de tentar se reeleger.

Eleito deputado federal em 2022, com mais de um milhão de votos, foi o campeão de votos em São Paulo e o segundo nome mais votado do Brasil -atrás, apenas, do bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG).


No partido, a decisão de Boulos é tratada com pragmatismo. Líderes do PSOL entendem que a deputada Erika Hilton cumpre os requisitos para se tornar a puxadora de votos na Câmara no próximo ano e que será positivo para o governo Lula que Boulos tente reaproximá-lo de movimentos sociais.


A função de interlocutor, dizem pessoas próximas, já era exercida por ele enquanto líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Já o mandato como deputado, para eles, tem sido discreto e sem grandes projetos.


TRAJETÓRIA DE BOULOS


Filho de médicos e vindo de uma criação na classe média, Boulos chegou à política por meio do MTST, ao qual se juntou aos 19 anos e onde se consolidou como uma das principais lideranças. No seu histórico há embates diretos com governos anteriores de Lula, que já brincou, publicamente, com o fato de ter ouvido falar no psolista pela primeira vez quando ele protestava em frente ao apartamento do presidente, em 2003, em São Bernardo do Campo.


Na ocasião, durante o primeiro mandato presidencial de Lula, Boulos e o MTST ocupavam um terreno vazio da Volkswagen na cidade, berço político do petista.


Onze anos depois, Boulos era uma das maiores lideranças do MTST na ocupação conhecida como Copa do Povo, em Itaquera, na zona leste da capital paulista. O movimento protestava contra as desapropriações para a construção da Arena Corinthians na região. Foi Lula quem articulou o financiamento da Caixa para erguer o estádio, palco de abertura da Copa do Mundo de 2014.


O processo de impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, aproximou Boulos de Lula. O PT chegou a convidá-lo a se filiar, mas o líder do MTST preferiu o PSOL. Ele chegou até o partido por meio de uma articulação feita pelo ex-deputado Marcelo Freixo (RJ), ainda em 2017, já pensando em lançá-lo à Presidência da República no ano seguinte.


A ideia foi bancada pelo então presidente da sigla, Juliano Medeiros, apesar de resistências internas do partido. Antes de sair candidato, Boulos se consultou com Lula e ouviu dele que a candidatura lhe concederia experiência. Naquele ano, Boulos se candidatou à Presidência com a hoje ministra Sônia Guajajara (Povos Indígenas) como a vice. A chapa recebeu 617 mil votos (0,6%) e terminou em 10º lugar entre os 13 candidatos.


A relação de Boulos com Lula já provocava, à ocasião, ciúmes entre petistas. O presidente conferiu especial atenção ao psolista antes de se entregar à Polícia Federal, em abril de 2018, em discurso feito à militância em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Ali, Boulos já era apontado interna e externamente como possível herdeiro político de Lula.


Nas eleições de 2022, o psolista abriu mão de disputar o governo paulista em troca do apoio de Lula para sair candidato à Prefeitura. Ao fim de 2024, após a derrota para Ricardo Nunes, as acusações do prefeito de que Boulos não possuía experiência em gestão levaram alguns petistas a apostar que Lula incluiria o deputado em sua reforma ministerial. Assim, na visão deles, o presidente não deixaria um possível herdeiro com o currículo e o prestígio defasados.

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