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Política & Poder

Bolsonaro sobre violação em tornozeleira: Escada, ferro quente, curiosidade e paranoia

As diferenças não são poucas ao comparar os relatos com os documentos oficiais produzidos pela SEAPE e com o depoimento prestado por ele

Redação Jornal de Brasília

24/11/2025 19h36

Foto: Evaristo Sá/AFP

Foto: Evaristo Sá/AFP

São Paulo, 24 – Em menos de 24 horas, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou variadas versões para explicar a violação da tornozeleira eletrônica entre a noite de 21 e a madrugada de 22 de novembro. As diferenças não são poucas ao comparar os relatos com os documentos oficiais produzidos pela Secretaria de Administração Penitenciária (SEAPE) e com o depoimento prestado por ele na audiência de custódia.

O memorando do Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (CIME) registrou que o alerta de violação ocorreu às 0h07 do dia 22, momento em que a equipe de escolta foi acionada.

Primeira versão: ‘bateu na escada’

A informação inicial repassada por Bolsonaro aos policiais penais era a de que o equipamento teria “batido na escada”. Quando a diretora-adjunta do CIME chegou ao local, porém, encontrou a tornozeleira com marcas de queimadura e danos na área de fechamento do case.

Segunda versão: ‘meter ferro por curiosidade’

Em vídeo gravado por uma agente da Secretaria de Administração Penitenciária, Bolsonaro apresentou outra explicação. Disse que começou a “meter ferro” na tornozeleira à tarde, motivado por “curiosidade”. No registro, não mencionou qualquer episódio de paranoia, alucinação ou interação medicamentosa. A motivação e o horário afirmados divergem tanto do que foi dito à escolta quanto do que ele relataria posteriormente à Justiça.

Terceira versão: ‘paranoia e medicamentos’

Na audiência de custódia, Bolsonaro deu uma terceira versão. Afirmou ter tido uma “certa paranoia” causada pela combinação de remédios receitados por diferentes médicos, relatou “alucinação” ao acreditar que havia uma escuta dentro do aparelho e disse que começou a mexer no dispositivo tarde da noite, interrompendo a ação “por volta de meia-noite”. Também afirmou que estava acompanhado da filha, do irmão e de um assessor, que, segundo ele, dormiam e não presenciaram a manipulação do equipamento.

A descrição feita na audiência contrasta com o que foi dito anteriormente. Além disso, apesar do relato de alucinações e alteração de comportamento, não há nos documentos qualquer menção a acionamento de atendimento médico, pedido de socorro por parte dos familiares presentes ou comunicação prévia à escolta sobre eventual crise.

Prisão preventiva mantida pelo STF

Nesta segunda-feira, 24, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, manter a prisão preventiva de Bolsonaro. No voto, o relator Alexandre de Moraes afirmou que a violação da tornozeleira representa “falta grave” e reiterou que o ex-presidente já descumpriu medidas cautelares anteriores.

Moraes citou ainda que Bolsonaro usou redes sociais quando estava proibido e que a conduta reforça a necessidade da custódia para garantir a ordem pública e a aplicação da lei penal. O ministro Flávio Dino acompanhou o relator e mencionou fugas recentes de aliados investigados – como Alexandre Ramagem e Carla Zambelli – para justificar o risco de evasão. Com a decisão, Bolsonaro permanece detido na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde cumpre prisão preventiva enquanto aguarda o desfecho dos recursos da ação penal da trama golpista, na qual foi condenado a 27 anos e 3 meses.

Estadão Conteúdo

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