REANATA GALF E THAÍSA OLIVEIRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) sob acusação de liderar uma trama golpista em 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou nesta quarta-feira (19) um texto em suas redes sociais em que diz que “o mundo está atento ao que se passa no Brasil”.
“O truque de acusar líderes da oposição democrática de tramar golpes não é algo novo: todo regime autoritário, em sua ânsia pelo poder, precisa fabricar inimigos internos para justificar perseguições, censuras e prisões arbitrárias”, escreveu, citando na sequência países como Venezuela, Nicarágua, Cuba e Bolívia.
O ex-presidente se reuniu na manhã desta quarta-feira (19) com deputados federais aliados, em Brasília, para tratar de anistia.
De acordo com parlamentares, a reunião já estava marcada para discutir o projeto de lei de anistia aos presos em 8 de janeiro, mas, diante da denúncia contra Bolsonaro, o tema entrou na conversa.
O encontro ocorreu na casa do líder da oposição, Coronel Zucco (PL-RS).Participam deputados como Nikolas Ferreira (PL-MG) e Domingos Sávio (PL-MG), além do ex-ministro Gilson Machado.
Filho mais velho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por sua vez, afirmou que a denúncia contra o pai por tentativa de golpe de Estado “está nas mãos de Deus agora”.
Ele acusou o procurador-geral da República, Paulo Gonet, de agir politicamente e se disse pessoalmente decepcionado com ele. O senador fez ainda uma provocação, ao dizer que Gonet parece temer mais ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes do que a Deus.
“Está sendo uma grande decepção pessoal para mim o que ele está fazendo e acredito que até para a família dele está sendo uma grande decepção pessoal. Mas, vamos ver. Está nas mãos de Deus agora”, completou o senador.
Flávio afirmou ainda que o pai, declarado inelegível pela Justiça Eleitoral, será eleito presidente da República no primeiro turno no ano que vem.
“Está claro que ele [Moraes] odeia o Bolsonaro, ele não faz questão de esconder isso para ninguém. Então, vamos ver em que pé que isso vai dar, mas a única convicção que eu tenho é que nós vamos ter o Bolsonaro presidente do Brasil em 2026 com toda certeza, eleito no primeiro turno”, disse o senador.
Flávio disse que a decepção se estende ao Judiciário, pela “perda de credibilidade”, e que fica triste pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, por ele “ter sido forçado a fazer isso”. Segundo o senador, a denúncia foi um “copia e cola” da delação.
O que ele fez não foi delação, foi uma coação para ele botar no papel o que os seus acusadores queriam”, acusou.
A declaração foi dada à imprensa logo após o senador ser eleito presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado, na manhã desta quarta. Flávio, assim como os demais eleitos, foi cumprimentado pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente da República de Bolsonaro, chamou a denúncia da PGR de “conto da carochinha”. O general disse esperar que a peça seja analisada pelo Supremo “com a devida isenção”.
“Golpe, senhoras e senhores, tem bala, tem defunto, tem tropa na rua. O que está se fazendo contra o presidente Bolsonaro e um grupo de assessores mais próximo é um verdadeiro atropelo ao Estado de Direito”, disse o militar nesta quarta.
Além dessas, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) publicou vídeo no X (ex-Twitter) do ex-estrategista chefe da Casa Branca no primeiro mandato de Donald Trump nos Estados Unidos, Steve Bannon, afirmando que “o estado profundo” quer que líderes conservadores, citando Bolsonaro e a denúncia de quarta, “morram na cadeia”.
Pablo Marçal (PRTB) também posicionou-se em favor do ex-mandatário, afirmando que ele é o maior líder da direita no Brasil e dizendo que a narrativa de um golpe é frágil. “Bolsonaro estava nos Estados Unidos naquela ocasião. Como exatamente ele daria um golpe? Por Wi-Fi? Um ‘golpe EAD’? À distância?”
Segundo o influenciador, quem defende a democracia deve pedir pela elegibilidade de Bolsonaro em 2026.
Bolsonaro foi acusado pela PGR de praticar os crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado por violência e grave ameaça contra patrimônio da União, deterioração de patrimônio tombado e participação em uma organização criminosa.
Somadas, as penas máximas chegam a 43 anos de prisão, sem contar os agravantes, além da possibilidade de ele ficar inelegível por mais tempo do que os oito anos pelos quais foi condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Além de Bolsonaro, outras 33 pessoas foram denunciadas, entre eles o ex-ministro Walter Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa de 2022 e, atualmente, está preso de forma preventiva. Fora o general, outros cinco estão detidos.
“Aqui se relatam fatos protagonizados por um presidente da República que forma com outros personagens civis e militares organização criminosa estruturada para impedir que o resultado da vontade popular expressa nas eleições presidenciais de 2022 fosse cumprida, implicando a continuidade no poder sem o assentimento regular do sufrágio universal”, afirma Gonet na denúncia.
A defesa de Bolsonaro afirmou ter recebido a denúncia com “estarrecimento e indignação” e disse não haver elementos na peça da PGR que o conecte à “narrativa construída” no documento.