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Política & Poder

Base de Bolsonaro tenta CPI própria sobre MEC para mirar PT

Assim, caso o presidente do Senado hesite em criar a comissão, parlamentares estudam acionar o STF para cobrar o início dos trabalhos

FolhaPress

12/04/2022 20h55

Foto: AFP

Matheus Teixeira, Raquel Lopes e Renato Machado
Brasília, DF

Em uma contraofensiva para barrar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da oposição que quer investigar o “balcão de negócios” no Ministério da Educação, a base do governo Jair Bolsonaro (PL) conseguiu protocolar nesta terça-feira (12) um requerimento com as assinaturas necessárias para criar sua própria comissão, que pretende mirar os governo do PT.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aproveitou a sessão plenária para conversar com alguns líderes partidários. Segundo relatos, Pacheco tem tentado evitar tanto uma como outra CPI.

O presidente do Senado disse a alguns líderes partidários, em reservado, que o instrumento da CPI não pode ser banalizado e que seria hora de não deixar o Senado se contaminar pelo clima de disputa eleitoral.

Apesar de já haver sessão convocada para a próxima semana, o presidente do Senado estuda cancelá-la para evitar pressão para que leia o requerimento em plenário. Isso daria tempo para que continuasse a dialogar com outros parlamentares.

Segundo senadores, Pacheco mantém a visão de que cabe a ele uma análise dos requerimentos, e não apenas determinar a sua instalação após o recolhimento do mínimo de 27 assinaturas. Por isso, pode usar certo tempo em sua decisão, argumentando que está em fase de análise.

O presidente do Senado não deve segurar indefinidamente uma decisão, uma vez que há risco de decisão do Supremo Tribunal Federal obrigando-o a instalar a comissão, assim como aconteceu no caso da CPI da Covid.

O autor do requerimento da CPI das Obras Inacabadas é o líder do PL, Carlos Portinho, segundo quem “existe um fato grave, que foi revelado nos depoimentos na comissão de educação, que há 2.000 obras paradas”.

Além de Pacheco, a disputa entre governo e oposição em busca de assinaturas para instalação de CPI também pode deixar em saia justa o STF.

Isso porque, a comissão parlamentar de inquérito da Covid-19 foi criada devido à decisão do Supremo que entendeu que, quando há o apoio de um terço da Casa e fato determinado a ser apurado, a Constituição determina que é obrigatória a instalação do colegiado.

Assim, caso o presidente do Senado hesite em criar a comissão, parlamentares estudam acionar o STF para cobrar o início dos trabalhos da CPI.

A instalação de uma CPI no Senado para investigar a existência de um “balcão de negócios” no Ministério da Educação sofreu duro golpe durante este fim de semana, após uma ação intensa do governo para barrar a apuração –que teria na mira lideranças partidárias, pastores e liberação de emendas.

Três parlamentares decidiram retirar o apoio para criação da comissão, o que torna praticamente inviável a sua instalação. Mudaram suas posições Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), Styvenson Valentim (Podemos-RN) e Weverton (PDT-MA).

Na sexta-feira (8), o autor do requerimento, senador Randolfe Rodrigues, anunciou que havia reunido as 27 assinaturas necessárias para instalar a comissão.

No entanto, no mesmo dia, senadores relatavam uma grande operação do governo para tentar reverter assinaturas. A avaliação dos governistas é que uma CPI em ano eleitoral poderia ter fortes consequências para os projetos de reeleição de Jair Bolsonaro (PL).

Com as desistências, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) tenta novas assinaturas. Nesta terça-feira (12), o senador José Serra (PSDB-SP) anunciou nas redes sociais que assinará o requerimento. Dessa forma, há no total 25 nomes, dois a menos do necessário para dar prosseguimento à abertura da CPI.

“As denúncias de corrupção no Ministério da Educação são graves e caberá novamente ao Senado apurar os fatos”, disse Serra, em redes sociais.

Na Comissão de Educação, Cultura e Esporte nesta terça foi aprovado o requerimento de Randolfe Rodrigues que convida oito pessoas, entre eles Garigham Amarante Pinto, diretor de Ações Educacionais do FNDE, e Gabriel Vilar, diretor de Gestão, Articulação e Projetos Educacionais do FNDE.

O ministro interino da Educação, Victor Godoy Veiga, deve comparecer à Comissão de Educação do Senado na primeira semana de maio.

A pressão pela instalação da CPI surgiu com a divulgação de denúncias de existência de um balcão de negócios para a distribuição de recursos para a educação, esquema que seria operado pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.

O escândalo derrubou o ministro da Educação Milton Ribeiro, exonerado em 28 de março.

A crise ganhou novas proporções com a divulgação de um áudio pelo jornal Folha de S.Paulo, no qual o então ministro afirma que prioriza amigos e indicações do pastor Gilmar Santos, a pedido do presidente Jair Bolsonaro. Ele ainda indica haver uma contrapartida supostamente direcionada à construção de igrejas.

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