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Política & Poder

Adeus a J.R. Guzzo, o jornalista que marcou gerações

Ao longo da carreira, foi conhecido por sua independência intelectual e por suas críticas contundentes

Redação Jornal de Brasília

03/08/2025 11h33

guzzo

Foto: Arquivo Pessoal

Por Simone Salles*

Faleceu neste sábado (2), aos 82 anos, o jornalista José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo. Ele estava internado em São Paulo e morreu vítima de um infarto. Reconhecido por seu estilo direto, opiniões firmes e textos bem construídos, foi uma das figuras mais marcantes da imprensa brasileira nas últimas décadas.

Sua morte representa o fim de um ciclo para o jornalismo opinativo do país. Guzzo iniciou sua carreira ainda nos anos 1960 e se destacou como repórter e, depois, como editor e articulista. Um dos momentos mais relevantes de sua trajetória foi à frente da revista Veja, da qual foi diretor de redação durante anos decisivos da política nacional. Também teve passagens importantes por veículos como o jornal O Estado de S. Paulo, a revista Exame e, mais recentemente, a Gazeta do Povo, onde manteve uma coluna de opinião até seus últimos anos de vida.

Ao longo da carreira, foi conhecido por sua independência intelectual e por suas críticas contundentes. Seu estilo cortante e seu vocabulário refinado fizeram dele um colunista respeitado e também contestado, como é comum entre figuras de pensamento forte. Ele não se encaixava facilmente em rótulos ideológicos, o que lhe rendeu tanto admiradores fiéis quanto detratores ferrenhos. Mas, para além das divergências, era quase unânime o respeito pelo profissional de texto elegante, firmeza argumentativa e postura ética. Segundo seus admiradores, Guzzo foi um defensor da liberdade de expressão e da racionalidade no debate público.

Além do jornalismo impresso, Guzzo também teve um papel fundamental na formação de gerações de profissionais, sendo mentor e referência para muitos jovens jornalistas. Era conhecido nos bastidores como um editor rigoroso, exigente com a clareza e precisão dos textos, e também como alguém que valorizava a integridade ética da profissão.

Entre os fatos curiosos de sua vida, destaca-se sua paixão pelo jornalismo econômico, um tema considerado árido por muitos, mas que ele conseguia tratar com leveza e profundidade. Era também um aficionado por política internacional e costumava usar exemplos históricos e estrangeiros para ilustrar os dilemas brasileiros.

Guzzo foi um dos primeiros grandes nomes da mídia tradicional a migrar com força para as plataformas digitais, conquistando milhares de leitores em redes sociais e sites de opinião. Seu texto direto e analítico encontrou eco entre leitores que buscavam interpretações críticas da realidade. Ele foi um dos fundadores da Revista Oeste, onde ocupava uma posição central: era membro do conselho editorial e seu principal articulista. Ali, manteve firme sua missão de oferecer análises críticas e contracorrentes sobre os rumos do Brasil, sempre com um olhar atento à história e à lógica dos acontecimentos.

Ele deixa um legado de mais de meio século na imprensa brasileira, tanto pela qualidade de sua produção intelectual quanto pela coragem de sustentar posições firmes em tempos de polarização. Para muitos, sua ausência será sentida não apenas pelas análises afiadas, mas pela presença constante no debate público. Guzzo sai de cena como viveu: opinando com coragem e provocando reflexões profundas, mesmo que incômodas.

O enterro ocorre neste domingo, em cerimônia restrita à família e amigos próximos.

*Jornalista, mestre em Comunicação Pública e Política

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