GEOVANA OLIVEIRA, JÉSSICA MAES E AUGUSTO PINHEIRO
BELÉM, PA (FOLHAPRESS)
No início da manhã desta sexta-feira (14), um protesto do povo indígena munduruku ocupou e bloqueou o acesso à zona azul, centro diplomático da cúpula climática da ONU, em Belém. Por volta de uma hora, filas imensas se formaram enquanto participantes tentavam entrar na conferência.
A ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara recebeu uma ligação do presidente Lula, preocupado com a nova manifestação. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o presidente pediu que houvesse diálogo com os integrantes.
A ONU havia criticado na quinta-feira (13) a organização da COP30 pelo que considerou falhas de infraestrutura e insegurança, além de exigir que os problemas fossem resolvidos, após indígenas do Baixo Tapajós quase conseguirem invadir a zona azul e causarem tumulto na área de credenciamento na terça (11).
Depois da ligação de Lula, então, as duas ministras e o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, cancelaram suas agendas para se reunirem com os mundurukus. E, pela tarde, conversaram também com representantes de demais povos indígenas do Baixo Tapajós.
A ministra Marina Silva afirmou que teria que reportar ao presidente o que foi conversado. Durante a reunião da tarde, ela disse aos participantes reiteradas vezes que Lula se preocupava com os indígenas em uma tentativa de apaziguamento.
“Quero entender por que ele assinou a privatização do rio Tapajós então”, disse um dos presentes. A principal reivindicação dos povos indígenas é a revogação do decreto 12.600/2025, que institui o Plano Nacional de Hidrovias e incluiu os rios Tapajós, Madeira e Tocantins como eixos prioritários para navegação de cargas.
Sem saber responder, Marina afirmou que levaria a questão a outros ministérios e prometeu resposta.
As ministras do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas não conseguiram fornecer soluções instantâneas, mas falaram longamente sobre como funciona o processo da COP30 e como os indígenas poderiam encontrar formas diferentes de expor suas demandas, que não através do bloqueio da zona azul.
Marina explicou que a COP é global, não local, por isso os temas discutidos na zona azul não incluem as demandas dos povos indígenas do Baixo Tapajós, como a hidrovia ou o cancelamento do projeto da Ferrogrão, ferrovia desejada pelo agronegócio para escoamento da produção do Centro-Oeste até o Pará. Também afirmou que, apesar dos problemas, o governo estava conseguindo reduzir o desmatamento.
Guajajara pontuou que a conferência da ONU sobre clima, de fato, não é um espaço feito para os indígenas, mas que a COP30 tem recorde de participação de povos originários em relação às demais cúpulas e que o governo está avançando aos poucos.
A ministra disse ainda que há três representantes do Baixo Tapajós credenciados na zona azul e que eles podem levar as demandas dos demais para o espaço. Outra opção, afirmou, é usar o espaço da chamada Aldeia COP, feito para isso. O local é um acampamento instalado na Escola de Aplicação da UFPA (Universidade Federal do Pará).
A líder indígena Alessandra Munduruku disse que “está esperando que conversem com o Lula”. “Principalmente sobre o decreto [da hidrovia] e sobre a Ferrogrão, porque isso vai nos prejudicar bastante. Mas estar aqui com as ministras e com o presidente da COP já é um avanço”. Lideranças do Tapajós, por sua vez, afirmaram que iriam esperar a resposta prometida pelas ministras.