Por Renata Bueno*
O hidrogênio desponta como uma das soluções mais promissoras na transição energética global. Trata-se de uma fonte limpa de energia, que gera apenas água ao ser utilizada, e com potencial para substituir combustíveis fósseis em diversos setores industriais e produtivos.
Recentemente, uma pesquisa da Universidade de Pádua, na Itália, trouxe avanços significativos nessa área. Liderada pelo professor Luka Đorđević, com destaque para a doutoranda Marianna Barbieri, desenvolveu uma molécula orgânica inovadora. Publicada na Advanced Functional Materials, a pesquisa apresenta uma molécula que se adapta “inteligentemente” às condições ambientais, formando nanoestruturas que alternam entre a produção de hidrogênio e peróxido de hidrogênio, dependendo de sua organização.
“Essa molécula é um marco na química sustentável”, explica Marianna Barbieri. “Nanoestruturas fibrosas produzem hidrogênio a partir da água sob luz solar, enquanto nanoestruturas particuladas geram peróxido de hidrogênio a partir do ar. Usamos a química supramolecular para controlar a automontagem das moléculas, modulando a atividade fotocatalítica com precisão.”
Os materiais, totalmente orgânicos, dispensam metais raros, são recicláveis e reutilizáveis, alinhando-se à química verde. Essa abordagem reduz custos e impactos ambientais, oferecendo uma solução viável para energia e insumos químicos.
Para o Brasil, esse projeto seria especialmente estratégico. Com abundância de luz solar e vastos recursos hídricos, o país tem condições ideais para adotar tecnologias fotocatalíticas. Além disso, sendo um dos países com maior extensão de Mata Atlântica do mundo, o Brasil possui um ecossistema rico em biodiversidade que pode se beneficiar diretamente de tecnologias sustentáveis como essa.
A preservação da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados, depende de soluções que reduzam a dependência de combustíveis fósseis e promovam uma economia de baixo carbono. Investir em hidrogênio verde pode posicionar o Brasil como líder global nesse setor, gerando empregos, atraindo investimentos e fortalecendo indústrias como a química e a agrícola, que utilizam peróxido de hidrogênio. Alinhado aos compromissos de redução de emissões, esse projeto reforça o papel do Brasil na luta contra as mudanças climáticas, protegendo seus ecossistemas únicos.
Essa descoberta destaca o poder da pesquisa interdisciplinar, unindo química, nanotecnologia e sustentabilidade. A inovação da Universidade de Pádua abre caminhos para tecnologias transformadoras, e o Brasil, com sua riqueza natural e potencial renovável, seria uma bela oportunidade de adaptar essas soluções para liderar um futuro mais limpo e sustentável, com impactos profundos na sociedade, no meio ambiente e na preservação de tesouros como a Mata Atlântica.
