Por Renata Bueno*
Agosto, na Itália, é sinônimo de Ferragosto, uma celebração que pulsa no coração do verão mediterrâneo, misturando tradição, história e a alegria de viver tão característica do povo italiano. Como ítalo-brasileira que divide a vida entre a vibrante Puglia e as memórias de Roma, não posso deixar de compartilhar o encanto desse período em que o país se transforma em um verdadeiro mosaico de cores, sabores e festas.
Celebrado em 15 de agosto, o Ferragosto tem raízes que remontam ao Império Romano, quando o imperador Augusto instituiu, em 18 a.C., as “Feriae Augusti”: um período de descanso e comemoração após meses de intenso trabalho no campo. Com a chegada do cristianismo, a data se fundiu à celebração da Assunção de Maria, unindo o sagrado e o profano em uma festa que, até hoje, simboliza a essência da cultura italiana, a arte de transformar tradições antigas em momentos de convivência e alegria.
Hoje, o Ferragosto vai muito além de um simples feriado: é a apoteose do verão italiano. As cidades esvaziam, praias e montanhas ganham vida, famílias se reúnem e todos celebram a “dolce vita”. É quase um ritual: deixar as preocupações de lado, aproveitar o sol e mergulhar na beleza única do país.
Cada região da Itália vive o Ferragosto de forma especial. Na Puglia, onde moro com minha família, o feriado é uma explosão de cores e sabores. As praias de Salento, com águas cristalinas, tornam-se cenário de piqueniques animados, enquanto cidades históricas como Lecce se iluminam com festivais de música e danças tradicionais, como a “pizzica”. Os banquetes ao ar livre, com vinhos locais e pratos como “orecchiette” ao molho de tomate fresco, são um convite irresistível.
Já na Costa Amalfitana, o Ferragosto ganha ares de glamour. Vilas como Positano e Amalfi brilham ainda mais com fogos de artifício refletindo no mar Tirreno, enquanto barcos enfeitados cruzam a costa e restaurantes servem frutos do mar frescos e sobremesas como o “delizia al limone”. Em Roma, onde trabalho há anos, o feriado tem um ritmo mais tranquilo, mas não menos encantador. Mesmo com muitos romanos viajando, a cidade se enche de eventos culturais e religiosos, como as missas solenes na Basílica de Santa Maria Maior e os concertos gratuitos nas praças históricas.
Para quem prefere sossego, as colinas da Toscana ou da Úmbria oferecem refúgios perfeitos. Imagine-se em uma “villa” cercada por vinhedos, taça de Chianti na mão, assistindo ao pôr do sol, uma experiência que explica por que o Ferragosto é tão querido.
A gastronomia é outro ponto alto. Na Sicília, não podem faltar “arancini” e “caponata”; no Piemonte, pratos mais robustos como “agnolotti” ao molho de carne. E, de norte a sul, sobremesas como “tiramisù” e “gelato” fazem parte do cardápio, sempre acompanhadas de um bom café “espresso”. Entre as tradições mais amadas está o “pranzo di Ferragosto”, o almoço que reúne família e amigos, repleto de histórias, risadas e brindes que, muitas vezes, se prolongam até a noite, embalados por música e danças sob as estrelas.
Já ajudei muitos brasileiros a se reconectarem com suas raízes, e o Ferragosto é uma oportunidade perfeita para vivenciar a Itália de forma autêntica. Para aproveitar ao máximo, planeje com antecedência. agosto é alta temporada e as áreas turísticas lotam rapidamente. Explore destinos menos óbvios, como Matera (Basilicata) ou Civita di Bagnoregio (Lácio), participe das festas locais e esteja preparado para o ritmo desacelerado, já que muitos comércios fecham. Aproveite também para mergulhar na natureza, seja nas praias da Sardenha, nos lagos de Como e Garda ou nas trilhas dos Alpes.
Tendo representado os ítalo-descendentes da América do Sul no Parlamento Italiano, vejo o Ferragosto não apenas como uma festa, mas como uma celebração da identidade italiana e um convite à conexão. Para brasileiros com raízes na Itália, é a chance de reviver a história de seus antepassados e celebrar a fusão entre duas culturas ricas e complementares.

Neste Ferragosto, enquanto sinto a brisa suave da Puglia e desfruto da companhia da minha família, deixo um convite: viva essa experiência. Seja nas praias ensolaradas, nas montanhas silenciosas ou nas cidades cheias de história, permita-se celebrar a Itália com o coração aberto e saborear cada instante como se fosse um presente.
