Por Renata Bueno*
A Itália vive a maior crise de mão de obra da história do seu sistema de saúde. O país enfrenta um déficit de mais de 65 mil enfermeiros e quase 40 mil médicos. O envelhecimento populacional acelerado, a aposentadoria em massa e a migração de profissionais para países europeus com salários mais atrativos resultam em filas intermináveis, pronto-socorros lotados e regiões inteiras sem especialistas em áreas críticas como geriatria, oncologia e cuidados intensivos.
Para enfrentar essa situação, o governo italiano foi obrigado a flexibilizar regras que antes limitavam a entrada de estrangeiros. O Decreto Milleproroghe prorrogou até 2027 o reconhecimento temporário de diplomas internacionais, permitindo que médicos e enfermeiros com formação no exterior comecem a trabalhar imediatamente, sem aguardar anos pela validação oficial. Trata-se de uma verdadeira revolução: contratações rápidas, suporte inicial e até facilitação de vistos para familiares.
Os incentivos são altamente competitivos. Hospitais e clínicas chegam a oferecer salários de até 7 mil euros por mês (cerca de 44 mil reais), além de benefícios como moradia, passagens e cursos de italiano. Tudo isso porque o país precisa desesperadamente desses profissionais.
Nesse cenário, os brasileiros ganham destaque. Nossa formação é reconhecida pela excelência técnica e, sobretudo, pelo cuidado humanizado, um valor muito valorizado pelos italianos. A proximidade cultural e linguística torna a adaptação mais simples, e associações locais já apontam os brasileiros entre os profissionais mais procurados e com maior taxa de permanência no sistema.
Como advogada e internacionalista, recomendo a quem tiver interesse que busque diretamente os canais oficiais do Ministério da Saúde e das regiões italianas. O processo está mais acessível do que nunca, basta preparar diplomas traduzidos, comprovantes de experiência e disposição para embarcar nessa jornada.
Não vejo essa abertura apenas como resposta a uma crise. Vejo como um convite para que milhares de profissionais brasileiros escrevam um novo capítulo de suas histórias. Trabalhar na Itália significa não só alcançar salários mais altos e estabilidade, mas também contribuir para um sistema que precisa, urgentemente, da competência e da empatia que nós, brasileiros, sabemos oferecer.
Sempre defendi a aproximação entre Brasil e Itália na política, no comércio e nos direitos humanos. Agora, a saúde surge como um novo elo nessa relação, e esta pode ser a oportunidade que muitos esperavam.
